Rafael Dantas, de Moscou
O governo de Vladimir Putin tomou uma decisão que foi prontamente mal-recebida pela imprensa burguesa internacional. A Rússia vai “oficializar o contrabando” e “permitir a importação de marcas sem seu consentimento”, escandalizou-se o jornal espanhol El Confidencial reproduzindo matéria da Agência EFE. Por que será?
As chamadas “importações paralelas” são uma forma de driblar as sanções e o boicote promovidos pelo imperialismo mundial – e o norte-americano em particular. É uma medida para atender à demanda por bens estrangeiros e estabilizar seus preços, disse o primeiro-ministro Mikhail Mishustin.
A importação paralela não é nada mais que a autorização para a entrada de produtos de marca sem pedir permissão para os detentores da propriedade intelectual. A oposição à medida é um grito de desespero das grandes empresas imperialistas.
De acordo com a legislação em vigor, a entrada de produtos sem permissão dos detentores dos direitos de propriedade intelectual é respondida pela Rússia com uma indenização de até 5 milhões de rublos (cerca de R$ 273 milhões de reais) paga aos proprietários das grandes marcas e a destruição das mercadorias.
A medida, que foi aprovada em 29 de março, dá o direito ao Ministério da Indústria e Comércio russo de elaborar uma lista de produtos que se enquadrarão em uma espécie de quebra de patentes aplicada ao monopólio comercial de grandes empresas. Com isso, disse Mishustin, a economia russa vai se tornar sustentável mesmo diante das sanções.
Marcas norte-americanas com Apple, Levi’s ou Nike, alemãs como a Adidas, suecas como a H&M ou a suíça Nestlé suspenderam importantes relações de importação e exportação com a Rússia, exceto por alguns alimentos ou produtos essenciais. A saída dessas marcas da Rússia resulta em consequências sobre todos os setores, do tecnológico ao vestuário, da alimentação não-essencial e de produtos de higiene pessoal, mas também a indústria automobilística e de materiais de construção.
De que lado a esquerda deve ficar?
A tentativa de defender a economia capitalista russa implica impor prejuízos aos capitalistas dos países imperialistas. Os setores da esquerda pequeno-burguesa que se alinharam automaticamente com o imperialismo diante do conflito russo-ucraniano deveriam refletir: de que lado isso os coloca diante desta situação concreta? Diante oposição entre a medida adotada pelo governo Putin e o protesto das grandes empresas dos países imperialistas, que significa realmente a solidariedade com o povo russo? Compreender que uma medida como essa é um meio de defesa justificado contra o imperialismo ou defender a legalidade e o direito à propriedade intelectual de grandes monopólios norte-americanos e europeus?
A guerra é, como disse o grande pensador militar, Carl von Clausewitz, uma extensão da política. A política, disse Lênin, por sua vez, é a expressão concentrada da economia. A esquerda pequeno-burguesa precisa rever, urgentemente, suas concepções sobre a luta dos países atrasados contra o imperialismo.
Com informações de Izvestia, El Confidencial e Made in Russia,