Os atos convocados no último final de semana, com a participação de algumas torcidas organizadas e grupos antifascistas, rompeu a barreira da paralisia de setores da esquerda pequeno-burguesa que até então se recusavam a organizar manifestações de rua.
Os que saíram nas ruas demonstraram não apenas que é possível como há apoio da maioria da população que entende a necessidade da mobilização real contra a direita. Eram setores decididos da classe operária e da juventude representada nessas organizações, que saíram na rua dispostos a tomar medidas efetivas contra a direita.
A enorme repercussão do caso mostra que existe uma tendência de explosão de grandes mobilizações contra. Sabendo disso, a direita passou a semana tratando sobre o assunto em seus jornais, procurando definir a melhor política em relação ao movimento.
A extrema-direita bolsonarista usou a sua tradicional política repressiva ameaçando usar a força contra os manifestantes e propondo inclusive enquadrar os antifascistas como terroristas.
A direita tradicional, por sua vez, adotou política diferente. Procurando controlar a tendência de mobilização, inclusive se preciso canalizando para uma oposição institucional e eleitoral a Bolsonaro, os principais jornais da direita, porta vozes da burguesia, trataram de não “bater de frente” com as manifestações e isolar os setores radicalizados por meio de uma campanha “contra a violência”, o “vandalismo” etc.
No fundo, é preciso ter claro, a política da direita tradicional é igualmente repressiva procurando atacar os elementos mais combativos dos atos acusando-os de violentos.
A esquerda pequeno-burguesa, que não tem absolutamente nenhum mérito na mobilização que está se formando visto que se manteve contra qualquer tipo de manifestação de rua nos últimos meses, acatou a campanha da direita tradicional contra os manifestantes.
Há uma conversa nos meios da esquerda de que as manifestações podem servir de pretexto para Bolsonaro dar o golpe. Uma ideia requentada que aparece na boca da esquerda reformista e conciliadora todas as vezes que uma mobilização radicalizada se apresenta na situação. Essa ideia tem como único resultado desmobilizar o povo.
Variante dessa ideia é a histeria levantada sobre “infiltrados” nas manifestações. O que à primeira vista poderia parecer simplesmente uma denúncia contra a ação ilegal da polícia é na realidade uma campanha contra os setores considerados “violentos” nas manifestações. Que a polícia costuma infiltrar agentes nas manifestações não há dúvida, mas o combate a essa ação criminosa do Estado se dá de maneira concreta.
O que a esquerda quer dizer com “infiltrados” é que os manifestantes radicalizados que de maneira totalmente legítima se defendem da polícia e eventualmente se revoltam depredando alguns locais estariam cumprindo o papel da direita na mesma lógica de que isso criaria pretexto para uma ação golpista da direita.
Essa ideia dos “infiltrados” é a versão da esquerda pequeno-burguesa para o “vandalismo” e a “violência” atacados pela direita.
Essa política semelhante não é mera coincidência. Ela tem um ponto comum: a frente ampla. A esquerda pequeno-burguesa está procurando controlar os atos no sentido institucional. Quer transformar a mobilização em um ato “cívico” para fortalecer a frente ampla o que é a mesma coisa que dizer fortalecer as instituições golpistas e a direita golpista que faz parte desta frente.
Essa política, além de servir à direita, tem ainda outro efeito importante: cria condições para a repressão contra os manifestantes radicalizados.