Em entrevista, na última semana, ao jornal golpista Folha de S. Paulo, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, reconheceu que o partido não trabalha pelo fim do governo Bolsonaro, mas sim pela sua manutenção, de forma controlada, até 2022.
Segundo Bruno Araújo “o impeachment é potencializar uma crise dentro da mais grave crise sanitária e econômica talvez da nossa história” afirmando ainda que “o momento é de pregar um ambiente de unidade em relação a vencer um inimigo muito maior que está matando dezenas de milhares de brasileiros”.
As expressões “unidade” e “inimigo maior” podem soar como boas colocações de pessoas democráticas e defensoras da vida etc., o que soa como música para a esquerda pequeno-burguesa. Mas, são utilizadas justamente para enganar esse grupo principalmente e dar um golpe no trabalhador em geral.
Primeiro, a população pobre sabe muito bem que o inimigo real é o governo Bolsonaro, pois tanto os milhares de mortos pela COVID-19 como os milhões de desempregados que aumentam a cada dia, o fim dos programas, os cortes de verbas em todas as áreas, inclusive na saúde, e agora com a completa falta de medidas no combate à pandemia, mostram que é ele o perigo real e imediato para a população, responsável direto pela desgraça que se aprofunda pelo País.
Segundo, que a unidade defendida pelo PSDB é meramente uma peça de propaganda para a política da frente ampla, que visa atrair setores da esquerda para se aproveitar do capital eleitoral destes partidos para se reconstruir para uma longínqua eleição em 2022. O que fica claro nas palavras de B. Araújo: “o nosso papel é que, em 2022, possamos chegar com uma frente construída, e o PSDB não quer apresentar prato feito, não quer entregar candidato pronto”.
Deixando a armadilha da frente ampla ainda mais clara, o PSDB, partido que mais trabalhou pelo golpe em Dilma Rousseff em 2016, partido da operação Lava Jato, tão protegido pela turma de Moro & Cia, é o mesmo que agora está assinando manifestos, como o “Manifesto Estamos Juntos” e aderindo às pautas da frente ampla (ou melhor, pautando a frente ampla!). O que é, em primeiro lugar, uma política oportunista, que visa praticamente “resgatar das cinzas” um partido que está totalmente fragmentado e desmoralizado, assim como outros do chamado centrão, e para isso vai se utilizar da esquerda.
Um exemplo concreto, e um dos primeiros, de como funcionará na prática a frente ampla é a renúncia prévia de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) à candidatura para prefeitura do Rio de Janeiro, em favor da candidatura de Eduardo Paes (DEM), ambos grupos que aderiram à frente ampla. Sendo que, para o trabalhador, para a população pobre, substituir um candidato da extrema-direita, ultraconservador como Marcelo Crivella, por um político direitista, que tocará praticamente a mesma política, só haverá prejuízo.
No âmbito nacional, ao qual se coloca o PSDB quanto ao problema Bolsonaro, vale a mesma premissa. Aguardar mais três anos, praticamente, para só então tentar tirar o fascista Bolsonaro da presidência e substituí-lo por um governo com as mesmas políticas de ataques aos trabalhadores, cortes de investimentos, privatizações, entrega do patrimônio nacional, aumento do desemprego, que é e sempre foi a política do PSDB, é na verdade o maior crime que se pode cometer contra a população neste momento.
Assim, para toda a esquerda, é preciso deixar claro que abrir mão de lutar pela retirada de um governo genocida, de tipo fascista, incompetente e que ameaça constantemente a população de um golpe militar, é uma política de traição aos trabalhadores e que acaba sendo parceira da direita, da extrema-direita e do próprio Bolsonaro, como uma terceira via, que permite à burguesia conservá-lo no poder, enquanto suas ameaças e suas atrocidades contra o povo vão crescendo e se acumulando, permitindo ainda criar uma transição controlada para um novo nome presidenciável da direita golpista que será igual ou pior que Bolsonaro.