Todo o continente está se levantando contra a política neoliberal imposta pelo imperialismo aos países da região. No Brasil essa revolta está contida, por enquanto, mas é nítido que pode explodir a qualquer momento. Um elemento fundamental de contenção dessa revolta até agora é a política das direções da esquerda. Há uma recusa deliberada de mobilizar a população contra o governo. A política desses setores da esquerda contra o governo ilegítimo de Bolsonaro consiste em levar adiante a chamada “resistência”, que não significa muito mais do que fazer discursos contra as medidas de Jair Bolsonaro e “desgastá-lo” até as eleições de 2022.
Um exemplo desse problema foi dado pela mobilização pela liberdade de Lula no dia 27 de outubro em Curitiba. A situação nacional coloca a necessidade de uma grande campanha permanente pela liberdade de Lula, e esse era o sentido da convocação e da realização do ato em Curitiba. No entanto, grande parte da esquerda se recusa a participar dessa campanha, preferindo ser conivente com a prisão política de uma liderança de esquerda e com as arbitrariedades de um Estado tomado por agentes do imperialismo.
O que leva parte da esquerda a agir assim é o medo do povo mobilizado. É uma esquerda que tem medo de mobilizar os trabalhadores e de perder o controle das massas. Para esses setores, os trabalhadores nas ruas são um perigo porque eles poderiam atropelar as atuais direções políticas. De modo que preferem tentar se adaptar à situação sob o governo Bolsonaro, em vez de combatê-lo colocando a força dos operários mobilizados nas ruas contra o governo. Em vez de lutarem para derrubar o governo, estão em uma luta bem mais mesquinha: preservar cargos políticos mesmo que para isso tenham que ignorar a catástrofe política que está em curso.
O medo desses setores da esquerda que preferem evitar a mobilização segue um instinto de classe. É uma esquerda pequeno-burguesa que teme a classe operária. Consideram que o povo é perigoso e incontrolável, uns bárbaros que podem devastar tudo de maneira selvagem e deveriam ser mantidos quietos. A classe ordeira e civilizada seria a burguesia, que resolveria seus conflitos por meio de instituições democráticas. Portanto, o movimento que lutou contra o golpe até agora deveria, para conformar-se às necessidades desses setores, apostar todas as suas fichas nas votações no STF, por exemplo.
Essa é uma política que serve apenas para preservar determinadas posições conquistadas por essa esquerda pequeno-burguesa no Estado burguês, como cargos no Parlamento, por exemplo. E nesse momento é uma política perigosa para os trabalhadores, pois a convivência com o governo Bolsonaro em um momento em que a direita está em uma situação difícil só serve para que essa direita se reorganize para atacar de forma ainda mais dura os trabalhadores. É preciso dar vazão ao clamor das ruas e lutar sob a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro”! Além disso, é preciso exigir a liberdade de Lula, que canaliza a enorme rejeição a esse governo. Para tanto, é preciso mobilizar as massas e colocar um grande movimento nas ruas, para esmagar a direita golpista.