Nesta terça-feira (30), o Diário Causa Operária entrevistou Nina Tenório, candidata à Deputada Federal pelo Partido da Causa Operária (PCO). Coordenadora nacional do Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo, Nina denunciou a demagogia de Simone Tebet durante o último debate presidencial, apontando o programa revolucionário do Coletivo para as mulheres.
Confira a entrevista abaixo na íntegra.
Diário Causa Operária: conte rapidamente sobre sua militância no PCO.
Nina Tenório: comecei a me aproximar do PCO porque era o único partido que tinha uma política séria na defesa da ex-presidente Dilma contra o golpe que ela sofreu. A esquerda, em geral, estava fazendo uma campanha rasa pelo “Fora Temer” que não acontecia de fato, não tinha mobilização. Enquanto isso, o PCO estava nas ruas colhendo assinaturas pela anulação do impeachment, o que fez eu me aproximar da política do partido e entrar efetivamente logo quando começou uma campanha contra a prisão do ex-presidente Lula, no começo de 2018.
Nós organizamos caravanas saindo daqui de Alagoas até Porto Alegre. Mais de 3 dias de viagem para nos juntarmos às manifestações públicas contra a prisão do ex-presidente. Também participei da campanha pela sua liberdade, das caravanas para Curitiba e de todos os atos públicos que aconteceram em seguida.
Também me aproximei do PCO pela questão da mulher, que é uma coisa que é claramente diferente de toda a esquerda, que tem essa política do empoderamento. Eu vi que, no PCO, existia uma política concreta de defesa das mulheres trabalhadoras, um programa revolucionário para as mulheres.
DCO: você já foi candidata outras vezes, apesar de jovem. Como foram aquelas experiências?
NT: em 2020, o Partido tentou lançar a minha candidatura à prefeitura de Maceió. Acabou que a candidatura foi perseguida pela ditadura do judiciário, não queriam lançar minha candidatura de jeito nenhum. Falaram que eu era muito jovem – de fato eu era a candidata à prefeitura mais jovem, acho que, do Brasil -, falaram que um dos nossos companheiros que foi lá lançar a chapa era muito jovem e estava servindo de massa de manobra. Enfim, não quiseram lançar a candidatura do PCO, uma perseguição clara contra o partido. Não tinha o menor sentido jurídico, eram só questões políticas que impediam que fosse lançada a minha candidatura.
Mesmo assim, a gente participou dos debates que fomos chamados para colocar a política do momento. O PCO lança candidatos para colocar a política do Partido nas eleições, e não a política individual de cada candidata.
Foi uma experiência que, na prática, mostrou a diferença entre lançar candidaturas nesses partidos burgueses, partidos que têm candidatos profissionais, e lançar candidaturas em um partido operário, no qual sofremos esse tipo de perseguição.
DCO: vamos falar sobre o debate deste domingo. Vimos que o principal tema foi a questão da mulher, que foi muito propagandeado pela imprensa burguesa principalmente no dia seguinte. Pode comentar sobre isso?
NT: a Band levantou uma bola para a Simone Tebet cortar, tudo muito bem combinado, dentro dos conformes, justamente para ela fazer essa campanha de demagogia com as mulheres.
No final das contas, na realidade, a Tebet é uma mulher da burguesia, ligada aos banqueiros, aos latifundiários, ela mesma é latifundiária. Nesse sentido, ela é uma inimiga das mulheres. A imprensa burguesa tratou de divulgar bastante, no dia seguinte, como ela foi impecável, como ela foi muito bem no debate, como ela é uma grande defensora das mulheres, mas isso é mentira, não passa de demagogia.
DCO: em relação a Tebet, o principal mote da campanha dela é “Mulher vota em mulher”. No debate, ela procurou se mostrar também como uma grande feminista. O que você acha sobre isso?
NT: ela usou esse negócio de grande feminista, falou que as mulheres devem votar nas mulheres, mas ela votou no Temer, no Aécio e defendeu quase todas as pautas do governo Bolsonaro no Senado.
Essa defesa da mulher é só para enganar as pessoas, pois, na realidade, não houve defesa de mulher nenhuma. Inclusive, na época, ela foi uma das defensoras do golpe contra a Dilma. Não tinha “sororidade” nenhuma, não tinha “mulher vota em mulher” nem nada do tipo.
O partido da Simone Tebet votou em quase todas as propostas do governo Bolsonaro e, agora, eles usam a Tebet para fazer certos ataques a Bolsonaro e, principalmente, ao Lula, para poder subir nas pesquisas fazendo essa campanha.
Devemos falar que ela é uma candidata do MDB, apoiada pelo PSDB, apoiada pela burguesia nacional e internacional. É uma tchutchuca do Biden, do imperialismo, dos banqueiros e dos latifundiários, e não representa nem um pouco as mulheres trabalhadoras.
DCO: ela tem algum projeto que interessa às mulheres? Ou é só demagogia?
NT: não, é pura demagogia. Inclusive, se você for procurar as colocações dela sobre o aborto, ela se mostra contrária à legalização do aborto em todos os casos. Ela participou da Marcha da Família Cristã pela Liberdade, uma marcha fundamentalmente contra o aborto.
Ou seja, ela é contra uma das principais reivindicações da luta das mulheres, que é a questão do aborto.
DCO: no debate, surgiu também o tema do aborto. Qual o programa do Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo em relação a esse tema?
NT: nós somos a favor da legalização do aborto em todos os casos. A legalização total para que, ademais, o procedimento seja feito nos hospitais públicos como um serviço gratuito. Reconhecemos que se trata de um dos direitos fundamentais das mulheres dentro do capitalismo, algo fundamental para a sua emancipação.