Nesta quarta-feira, dia 27 de maio, o governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou seu plano de retomada às atividades escolares. Segundo o plano, as aulas serão retomadas de forma virtual a partir desta segunda-feira, dia primeiro. Ademais, o resto do cronograma de volta às aulas ocorrerá por etapas, podendo durar até setembro.
As atividades online ocorrerão por meio da plataforma da Google, a “Google Classroom”. Segundo o governo, o aplicativo disponibiliza estrutura suficiente para a realização de atividades virtuais e até alguns tipos de avaliação. Além disso, será feito um esforço para capacitar os professores e alunos que não estão familiarizados com o ambiente. Por meio da contratação de especialistas terceirizados, será feito amplo treinamento, além da abertura de canais de comunicação que servirão como uma espécie de tutoria.
Teremos tutores dentro da rede e estamos identificando professores e servidores com maior habilidade. Este início será de ambientação digital, explica Faisal Karam, secretário estadual de educação.
Segundo a secretaria, foi identificado que cerca de 300 mil estudantes – 36,94% do total – possuem dificuldade de acesso à plataforma. Para sanar essas deficiências, foi estruturado um plano com três frentes. Para os estudantes que possuem algum tipo de aparelho móvel, mas não possuem internet, será disponibilizado um pacote de internet de 50 megabytes, com acesso restrito às atividades pedagógicas. Aqueles que não possuem nenhum meio de acesso poderão agendar horários em bibliotecas e laboratórios. Ademais, os estudantes que estão impossibilitados de sair de casa receberão as atividades fisicamente em suas residências.
As medidas tomadas no Rio Grande do Sul deixam extremamente claro a motivação do governo ao implementar o chamado EaD. Ao contrário do que tem sido dito, não é um plano momentâneo, uma medida paliativa para o durante da pandemia. É, na realidade, um projeto que há muito tem sido empurrado pela burguesia para a educação brasileira. Acima de tudo, é um meio de precarização e privatização da educação. Prova disso são as alegações feitas pelo secretário Karam, que ousou dizer:
Esta modelagem não volta mais atrás. Se a pandemia trouxe algo de bom, é de avançarmos nas questões tecnológicas.
A própria parceria com a Google e com as empresas de telefonia demonstram esse caráter de privatização. Afinal, será investido um total de R$450 mil por mês durante um ano para pôr em prática esse projeto. É a velha tática da burguesia: utilizou-se o pretexto da crise de saúde do coronavírus para instituir medidas que só enriquecem mais ainda as grandes empresas e empresários. Ao invés de garantir a segurança e, acima de tudo, o ensino adequado aos alunos, faz-se uso do “algo de bom” que a pandemia trouxe, o EaD
Tínhamos duas opções: ficarmos sentados, esperando terminar a pandemia, ou avançar nas questões tecnológicas, que estavam defasadas, disse Karam.
Caso não façamos frente contra esse tipo de projeto, observaremos, daqui a alguns anos, um enorme abismo na educação brasileira. Os estudantes formados durante este período terão tido um ensino extremamente deficiente. Mas não podemos nos enganar, é exatamente isso que a burguesia quer. Uma geração de estudantes alienados prontos para ingressarem no mercado de trabalho de forma precária. Tudo aponta para o objetivo final dos capitalistas: gastar menos, seja com a educação, seja com os próprios salários desses profissionais. Sem contar as inúmeras vidas que serão perdidas durante esse processo, tanto dos estudantes, professores e funcionários, quanto da própria família destes alunos.
Por isso, os estudantes de todo o Brasil precisam se mobilizar. A greve é essencial para que o projeto de sucateamento da educação brasileira não se conclua. Atos devem ser organizados em nome do fim do EaD, do cancelamento da volta às aulas presenciais e, acima de tudo, do cancelamento do semestre. Enquanto ainda existir risco por conta do coronavírus, as aulas não podem voltar. Caso o contrário, ficará escancarado que o governo não valoriza o ensino de qualidade, mas sim, o enriquecimento da burguesia.