A política consciente da esquerda burguesa e da esquerda pequeno burguesa é a de colocar em lados opostos as eleições e a necessidade dos trabalhadores intervirem de maneira independente na situação política, que, na atual etapa, significa lutar contra o golpe de Estado no País.
As eleições, em geral, são o campo de atuação mais desfavorável para esquerda. A burguesia domina o aparelho de estado, a imprensa, a justiça eleitoral. Não foi por outro motivo que o objetivo do golpe de 2016 era legalizá-lo com as eleições de 2018. Para isso, colocaram em funcionamento toda a engrenagem do Estado para conduzir as eleições de acordo com seus interesses, a começar por desencadear uma campanha venal contra a própria esquerda e o seu principal representante, o ex-presidente Lula, que culminou com a condenação e prisão de Lula, a fraude eleitoral e a imposição de um candidato saído das entranhas do golpe.
O domínio da burguesia sobre as eleições de 2018, a manipulação e a fraude escancaradas que promoveram, não foi um aspecto particular de uma etapa marcada pelo golpe de Estado. Essa é a história do Brasil. Para não irmos longe, basta ver as eleições presidenciais a partir de 1989 e as sucessivas manipulações e fraudes que impediram a vitória do candidato popular, o próprio Lula.
Poderia se objetar as eleições de 2002. Ocorre que essas eleições apenas confirmam a regra. Diante da desagregação do regime política por conta da política de destruição nacional imposta pela primeira onda neoliberal que levou, inclusive, a muitas explosões sociais na América Latina e aos governos nacionalistas como resultado dessas explosões, a burguesia brasileira e o imperialismo procuraram estabelecer um acordo com o PT, para “permitir” a vitória de Lula e evitar que o quadro geral dos países da AL se alastrasse para o Brasil.
Ainda no primeiro mandato de Lula, a burguesia já começou a se articular para derrubar seu governo, com o “Mensalão”, a operação precursora da Lava-Jato, mas a falta de unidade da burguesia e um amplo apoio popular a Lula vão garantir a sua reeleição e a de Dilma Rousseff por duas vezes.
2014 foi o limite para a burguesia, nesse momento já unificada em torno dos golpes que começam a ser implementados pelo imperialismo em pelo menos dois países, Honduras e Paraguai. A partir daí foi uma questão de tempo.
Os três anos que separam o golpe no Brasil e da Bolívia tem como característica comum a repetição do mesmo réquiem, que embalou o fim dos dois governos, que consistiu, no fundamental, na ilusão de que as eleições eram a garantia do “estado democrático”.
O que diferencia os dois casos foi a velocidade dos acontecimentos na Bolívia. No mais, os processos políticos foram quase como uma cópia fiel um do outro. Quanto mais a esquerda cedia, mas o golpe avançava.
Esse é o grande segredo ilusório das eleições, que seriam como uma panaceia que garantiria a “democracia”, como uma religião universal.
Em nome desse valor “universal”, a mobilização, a luta popular devem ficar para as calendas gregas. No final das contas, o que vale é a política mesquinha do interesse pessoal. Em nome de estabilizar o regime político, conseguir um cargo no parlamento ou no executivo de alguma cidade ou estado, as massas tem que baixar a cabeça para as imposições da burguesia. É virar a página do golpe.
Esse é o espírito que norteia a esquerda pequeno-burguesa. Esse é o espírito que norteia as eleições de 2020 para a esmagadora maioria da esquerda brasileira. A crença, por mais que a realidade mostre o contrário, que o golpe será contido pelas eleições, que o desgaste do governo fascista de Bolsonaro, primeiro em 2020, depois em 2022, irá resgatar a “democracia” é um beco sem saída para a esquerda e, muito pior, é o caminho que vai pavimentar o esmagamento das massas.
O único caminho progressista para a esquerda, particularmente em um momento que a luta de classes evolui no sentido mais extremado, é uma política independente do regime burguês. A esquerda deve participar das eleições para denunciar o golpe de Estado, para fazer propaganda pelo fora Bolsonaro, pela anulação todos os processos contra Lula, por eleições gerais e por Lula candidato. Mais: a campanha para ser efetiva tem de se dar com o chamado das massas às ruas! Quaisquer outros caminhos que não sejam a da mobilização popular e de uma luta efetiva para varrer com o regime golpista, só cumprirá a função de confundir as massas e de abrir a possibilidade de recomposição da direita golpista.