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O desmonte da Unasul revela os objetivos do imperialismo norte-americano com o golpismo no Brasil e na América Latina

A suspensão da participação na Unasul de seis governos (Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Paraguai), bem como as posições adotadas pela OEA de completo alinhamento com as posições do imperialismo norte-americano na Síria bem uma nova carga de ataques contra a Venezuela são mais que uma evidência de que os  golpes e fraudes eleitorais que estabeleceram governos fantoches na América do Sul, foram estabelecidos na região para favorecer os interesses imperialistas.

Os governos a serviço de Washington buscam com o desmonte da Unasul impedir o desenvolvimento de uma política de integração regional minimamente independente no cone sul.

A Comunidade Sul-americana das Nações, criada em 2004 e transformada (2008) na União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), apresenta-se com um obstáculo para os objetivos de dominação imperialista na América do Sul. A Unasul, o que pese suas limitações é um projeto de uma integração mais prepositiva a qual aponta para a criação de um novo espaço regional, visando o desenvolvimento e não somente a adoção de medidas de liberação do comércio.

A importância da integração física como elemento central para o desenvolvimento da unidade sul-americana, bem como a importância de medidas para enfrentar as assimetrias de desenvolvimento dos países da região são temas que a Unasul colocou em relevo.  Uma das medidas colocadas foi o estabelecimento do Plano para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), no âmbito da Unasul. A atuação das empresas brasileiras( estatais e não estatais) na região, passaram a ser alvo de questionamento do imperialismo.

A história da integração regional no subcontinente da América do Sul tem-se caracterizado pela fragmentação e pela quebra de continuidade das iniciativas integracionistas. Ao contrário dos discursos preconceituosas sobre a incapacidade inata para processos integrativos na região, um fator decisivo que obstaculiza a integração mais efetiva e a continuidade das iniciativas é a posição dos países latino-americanos como países “periféricos” e “dependentes” no espaço mundial, a partir da relação da América Latina com o poderoso vizinho do norte, os Estados Unidos. Relação esta que também é um dos elementos-chave para a compreensão do regionalismo do Sul e dos obstáculos para uma integração regional efetiva colocados de maneira sistemática pelo imperialismo norte-americano.

O anseio de uma unidade continental dos países que compõe a América Latina, tendo surgido ao longo do tempo, tendo relevância desde as diversas lutas por independência no século XIX. Em torno da unidade da América Latina, incluindo os países da América do Sul, existe o apelo às raízes históricas e à necessidade de construção de uma integração, a partir da confluência de povos.

De modo geral, na América do Sul a situação política que preponderava na década de 1990, quando a quase totalidade dos países era governada por políticos alinhados aos Estados Unidos, em maior ou menor medida. A Argentina (Carlos Menem), o Peru (Alberto Fujimori), o Brasil (Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso), entre outros países eram governados de acordo com o Consenso de Washington.

Para promover o alinhamento continental em torno do modelo neoliberal, o governo norte-americano, sobre a presidência do republicano George Bush (1989-1993), lançou em 1990 o documento “Iniciativa para as Américas” que estabelecia como meta final a formação de uma zona de livre comércio da qual fizessem parte todos os países do continente americano, um ambicioso bloco econômico que se estenderia do Alasca à Terra do Fogo.

A frustração com os efeitos econômicos e sociais das políticas neo-liberais provocou a reação na década seguinte. Essa reação se expressou nas urnas, com a perda eleitoral das forças políticas alinhadas a Washington em diversos países. Destarte, a atuação dos movimentos sociais como fator de resistência às políticas neoliberais é, sem dúvida, um fator importante para assinalar as mudanças em curso. Além disso, o questionamento dos governos neo-liberais levou ao completo fracasso da negociação da Associação de Livre Comércio das Américas (ALCA). O imperialismo norte-americano procurou realizar tratados bilaterais de livre comércio para inviabilizar projetos mais abrangentes de integração dos países considerados agora como não-alinhados.

No início do século XXI, os países do Cone Sul passam por processos que alteram o cenário político tradicional. Ainda que com respostas políticas diferenciadas, a derrota dos partidos identificados com as reformas neoliberais expôs um questionamento do receituário neoliberal. Destarte, a América do Sul é um espaço geopolítico em pleno movimento, uma vez que a região tem passado por importantes variações nos últimos anos, como a queda de ditaduras militares, transições democráticas, governos neoliberais e, mais recentemente, com a chegada de governos de esquerda em importantes países. De qualquer forma, o ascenso da esquerda aos governos da região fomentou esperanças de novos impulsos para a integração entre os países, apesar das incertezas quanto às perspectivas.

Essa nova configuração do poder governamental na América do Sul, embora não significasse uma ruptura mais profunda com as estruturas das sociedades sul-americanas, sinalizou alterações na rota tradicional de alinhamentos políticos nas relações internacionais, o que tem redimensionado o problema da integração regional.

São expressivas as iniciativas recentes como a UNASUL e a ALBA, que tem como fatores comuns o “retorno do Estado”, uma preocupação pelas dimensões sociais (pobreza, desigualdade e assimetrias de níveis de desenvolvimento), a presença da temática energética e a recuperação de um espaço político pelo planejamento estatal, desprezado no regionalismo aberto dos anos 1990. O papel dessa nova política regional, com forte discurso de autonomia, relaciona-se com o desgaste das políticas impulsionadas pelo Consenso de Washington, com perda de parte do prestígio dos EUA na América do Sul.

A partir dos golpes de estado em Honduras, Paraguai e Brasil, o imperialismo, em particular o norte-americano, passou a impulsionar uma outra política, ou seja, a substituição através da manipulação ou pela força dos governos de esquerda ou centro-esquerda por governos anti-populares vinculados aos interesses imperialistas.

Os golpes cumprem uma agenda de retomada do neo-liberalismo, ou seja, a destruição da economia nacional, promovendo intensivos ataques aos direitos populares, praticando abertamente uma política de rapina dos recursos econômicos e energéticos dos países. Neste sentido, por mais que existam motivações domésticas para os golpes de estado, em decorrência dos interesses e das correlações de forças entre as classes no interior dos países, o estimulo fundamental para a derrubada dos governos eleitos, mais uma vez, é o imperialismo ianque.

As ameaças contra o governo venezuelano, na última reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos) e a retirada de seis países da Unasul são indicadores, que o golpismo e o estabelecimento de governos manipulados pelos norte-americanos cumprem uma papel estratégico na tradicional política do imperialismo para desmantelar os projetos de integração regional na América do Sul/América Latina.

A constituição da União de Nações Sul-americanas (Unasul), a partir da iniciativa da diplomacia brasileira, apresentou a pretensão de superar os obstáculos de integração e promover a construção de um espaço sul-americano integrado nos planos político, social, econômico e ambiental.

A questão regional na América do Sul, a partir das iniciativas do Brasil no marco da Unasul e do MERCOSUL, tem evidenciado que o Brasil assumiu um papel protagonista cada vez mais relevante, em um contexto geopolítico de enfraquecimento relativo dos EUA – país que implementou o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), na América do Norte, mas não conseguiu sucesso com a proposta de implantação da Área do Livre Comércio das Américas (ALCA) no continente.

Nesse cenário, a articulação do conceito de América do Sul como componente da sua identidade internacional é um aspecto recente na história do Brasil. O processo de inserção do Brasil no regionalismo tem motivações diferentes para um país com uma introspecção de um país-continente e uma relação contraditória com os Estados Unidos, ainda hoje a principal força hegemônica na América Latina.

O projeto de integração na América do Sul, a partir da infra-estrutura, energia e telecomunicações, se expressa na construção da Integração da Infra-estrutura da Região Sul-americana (IIRSA) e na Comunidade Sul-americana das Nações como a Comunidade Sul-americana de Nações, ou União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).

A IIRSA consistiu na construção de eixos de articulação do território sul-americano, com base no desenvolvimento de infra-estruturas viárias, ferroviárias, aéreas e portuárias. Os treze países da região se comprometem a colaborar nos setores de petróleo, gás ou energia hidroelétrica. O projeto estratégico de longo prazo revela-se bastante ambicioso, visando à unificação entre o MERCOSUL e a CAN, além do Chile, Guiana e Suriname, cujas principais expressões são o anel energético e a interconectividade vital para unir o Atlântico com o Pacífico.

O golpe de estado do Brasil tem neste sentido um papel decisivo para uma tentativa da reversão do enfraquecimento relativo do imperialismo na região e no subcontinente.

Além do mais, a crise econômica não somente não foi resolvida como inclusive se aprofunda, tanto nos países periféricos, como no interior dos próprios países imperialismo. Neste sentido, os EUA não podem se dar o luxo de ter governos de esquerda no cone sul, considerado historicamente seu quintal. O estabelecimento de governos fantoches indica que o imperialismo não pode conviver mais com governo que não seja totalmente controlado.

O Brasil é o principal país da América do Sul, em importância econômica e tamanho, além disso o protagonismo brasileiro nas inciativas de integração regional revela-se um obstáculo aos interesses econômicos e geopolíticos do EUA, mesmo que Brasil não tenha adotado uma política agressiva no estilo bolivariana.

A atuação brasileira, visando a integração sul-americana, através da aceleração das trocas e intercâmbios econômicos e comerciais, tem uma forte incidência na região. A derrubada da presidenta Dilma Rousseff através de um golpe, permite retirar de cena uma potência emergente e ainda visa isolar os demais governos de esquerda ainda existente na região, em especial o governo venezuelano.

 

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