Ao tentar se defender das acusações de que seria um candidato ligado aos banqueiros, Wesley Teixeira, do PSOL, revelou qual é a sua política em entrevista publicada pela BBC no dia 2 de outubro. Teixeira tornou-se conhecido em todo o País por ter recebido doações de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso, João Moreira Salles (R$ 15 mil), membro do Conselho de Administração no Grupo Itaú Unibanco, e de Beatriz Bracher (R$ 30 mil), escritora e também herdeira do banco, para sua candidatura a vereador em Duque de Caxias.
Mesmo depois da repercussão extremamente negativa, Wesley Teixeira decidiu não devolver o dinheiro recebido. E foi mais além — defendeu abertamente a política de colaboração com os capitalistas:
“Esse é o momento de unir todos contra o fascismo. Existe escala de aliança, sim. Existem aqueles que são mais parecidos com o que eu penso, e existem alguns que são aliados próximos, e existem aqueles até que eu divirjo, mas que em momentos estratégicos são aliados contra (os que são) nossos adversários mais ainda”.
Ou seja, o pretexto para o candidato ter recebido financiamento dos banqueiros é a famigerada política de “frente ampla”. Wesley, no fim das contas, decidiu aceitar dinheiro de Armínio Fraga por considerá-lo um “aliado” na luta contra o fascismo. De fato, isso não contradiz com a política que o PSOL vem levando adiante. Guilherme Boulos, candidato do partido em São Paulo, e Juliano Medeiros, presidente da sigla, chegaram a assinar um manifesto supostamente contra o governo Bolsonaro junto a Armínio Fraga e Fernando Henrique Cardoso, entre outros notórios golpistas.
O financiamento de Wesley por parte de Armínio Fraga e outros banqueiros é, portanto, apenas um desdobramento da política geral do PSOL à nível nacional. Ao mesmo tempo em que o partido lança manifestos e sobe no palanque com a direita, seus candidatos são financiados pelos capitalistas. E para que um capitalista iria financiar uma candidatura? Obviamente, para utilizá-la para seus próprios interesses. Trata-se de um investimento para o capitalista, que age somente a partir do ponto de vista do bom andamento de seus negócios.
Não existe uma luta comum entre os capitalistas — nem mesmo os que se dizem “civilizados” e “democráticos”, como Armínio Fraga — e a esquerda. Os capitalistas e a direita de conjunto apoiaram o golpe e estão de acordo com o programa econômico do governo Bolsonaro. Isto é, o programa de esfolar a pele dos trabalhadores. A política da “frente ampla” é apenas uma operação da burguesia para se infiltrar nas candidaturas, movimentos e governos da esquerda para minar todo o seu potencial de mobilização. Um claro exemplo disso é a aliança entre Boulos e o PSDB em São Paulo, que quase levou à liquidação dos atos pelo Fora Bolsonaro.
Esse caráter reacionário da “frente ampla” fica ainda mais claro em outro trecho da entrevista. Disse Wesley:
“Nesse processo, nós não rebaixamos o nosso programa. A gente não negociou nada. Nós dissemos (aos doadores) exatamente o que nós acreditamos”.
Ora, se os trabalhadores têm interesses antagônicos aos dos capitalistas, por que os capitalistas iriam financiar uma candidatura que defendesse a classe operária? Isso não faria sentido algum. Somos forçados a concluir, portanto, que os bancos estão apoiando o candidato do PSOL em Duque de Caxias simplesmente por seu programa não tem nada de progressista. Se, de fato, o candidato não mudou em nada o seu programa, isso não é motivo de orgulho. Apenas demonstra como seu programa é direitista.
Isso, inclusive, é uma constante na “frente ampla” e na política burguesa. Os capitalistas são quem escolhem os candidatos, e não os partidos com base em um programa. É justamente o fato de que Wesley tem um programa e uma posição reacionária dentro do PSOL que foi financiado para se sobrepor em relação a setores mais combativos.