Das 77 deputadas federais eleitas no pleito de 2018, 55 delas demonstram estar plenamente alinhadas com as do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, e com suas pautas reacionárias ao votarem favoravelmente ao governo federal em, ao menos, metade dos projetos enviados pelo Palácio do Planalto.
Ou seja, 71% das mulheres que ocupam cadeiras na câmara dos deputados, apesar de representarem fisicamente o gênero feminino, possuem identidade ideológica muito (ou totalmente) próxima dos grupos de extrema direita, todos eles machistas e misóginos, que atacam não apenas os direitos das mulheres, mas de toda a população oprimida: pobres, negros, LGBT etc.
Quase 60% dessas deputadas são, ou declaradamente bolsonaristas, como o caso de Carla Zambelli (PSL-SP) e da Major Fabiana (PSL-RJ) ou representantes de partidos de direita que giram em torno do bolsonarismo.
A professora de ciência política da UFRJ Mayra Goulart, coordenadora do projeto Mulheres Eleitas, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, “explica que o pleito de 2018 representou uma mudança no âmbito de eleições de mulheres. Conforme explicou, até então, as mulheres eleitas tinham um forte compromisso com as pautas progressistas, mas, naquele ano, isso mudou.” ( Correio Braziliense, 03/01/2021)
Ela acrescenta que mesmo entre as deputadas mais progressista e comprometidas com pautas feministas, “existe uma dificuldade de emplacar avanços justamente pelo fato de que, ser contrário a algumas propostas, como legalização do aborto, rende mais votos e mais apoio do que ser a favor” (idem).
De acordo com o quadro descrito acima, não temos muito o que comemorar, ainda que o número de mulheres eleitas para o cargo de deputada federal tenha aumentado em cerca de 50% entre as eleições de 2014 e 2018, com 15% de suas cadeiras ocupadas por mulheres; se essas mulheres, em sua maioria, estão a favor de tudo o que representa opressão e retrocesso na luta dos direitos das mulheres.
É típico do identitarismo festejar pura e simplesmente o fato de que um determinado tipo de identidade, no caso, o gênero feminino, alcançar maior representatividade nos cargos políticos, mesmo que esse aumento represente, na realidade, um ataque frontal às mulheres e à sua luta.
É necessário que se apresente uma política consistente que garanta os avanços na luta pelos direitos das mulheres e de todos os oprimidos. A ideia de que se eleger mais mulheres, ou mais negros, ou mais lgbts para cargos políticos, por si só, represente um avanço para essas minorias oprimidas é falsa, pois se apoiam o bolsonarismo e toda sua ideologia fascistas, idependentemente da identidade que representam, irão fortalecer o oposto do que representam: o machismo, o racismo e o ataque aos LGTBs, estejam ou não conscientes desse fato.