Não é possível uma unidade de esquerda contra Jair Bolsonaro quando, aos quatro cantos se pratica justamente o oposto. É o que querem apresentar como verdadeiro Flávio Dino (PCdoB), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL), que recentemente divulgaram, com outras pessoas, nota em defesa da unidade da esquerda contra Jair Bolsonaro.
A nota, que é bastante conciliadora e pacífica, termina com “essa reunião expressa o desejo de ampla unidade do campo democrático para resistir aos retrocessos e oferecer propostas progressistas para o Brasil”. Depois de dizer que é preciso “assegurar ao ex-presidente Lula seus direitos previstos em lei e tratamento isonômico”.
Em primeiro lugar, Dino, do PCdoB, é do partido que declarou apoio a Rodrigo Maia (DEM) no Congresso Nacional, justamente apoiando a um dos principais partidos de confiança do regime golpista. À época, disse Dino a respeito de Maia: “o que a gente busca é um presidente que respeite a minoria, garanta os espaços para que a oposição possa exercer o trabalho parlamentar”. Dino é, ainda, parte do setor que pretende virar a página do golpe, ou seja, de se adaptar ao regime golpista tal como ele se encontra, conforme entrevista ao Jornal do Brasil.
Fernando Haddad é o político que desejou boa sorte ao presidente golpista Jair Bolsonaro. Desejou, em último caso, que a presidência encaminhe bem os ataques contra o povo brasileiro, como a reforma da Previdência. É também uma das pessoas adeptas ao “virar a página do golpe”, quer dizer, de aceitar o regime golpista e aguardar as próximas eleições.
Por outro lado, Boulos, do MTST, é mais novo adepto da operação Lava Jato. Após a prisão de Temer, Boulos, em seu Twitter, se apressou para festejar a detenção do ex-presidente golpista e disse que: “Temer é um bandido que já deveria estar preso há tempos. Existem provas contundentes contra ele, não meras ‘convicções’. Esperamos apenas que sua prisão não sirva para fortalecer xerifes de toga, que se consideram acima da lei, nem pra desviar da crise do desgoverno de Bolsonaro”. É a celebração da força tarefa da Lava Jato, seus métodos e objetivos, quando, na verdade, essa operação deveria ser extinta e todos os seus processos anulados por ampla ilegalidade.
Em todos os casos é possível ver que existe toda uma tendência da esquerda em se adaptar ao regime golpista, ao contrário do que diz o documento de oposição a Jair Bolsonaro. É uma tendência oportunista de aguardar as próximas eleições onde tudo poderia ser modificado pelo voto, apesar da experiência de 2014, quando Dilma foi deposta ilegalmente, e 2018, quando Lula foi preso para não ser candidato.
É preciso superar as ilusões no regime, e colocar nas ruas um amplo movimento para a derrubada de Jair Bolsonaro. Um movimento que tenha como uma de suas principais reivindicações a liberdade de Lula.