O presidente da Petrobras, chamado a transformar a empresa de uma das maiores do mundo para uma pequena empresa de país atrasado e subordinada ao imperialismo, disse recentemente, por conta de um evento do jornal o Estado de S.Paulo financiado pelo Banco Safra, que quer a empresa fazendo somente a extração de petróleo, por isso vai se desfazer de tudo o que não seja isso, refino, comercialização, gás etc.
E já está fazendo. E assim como o golpe de 2016, está privatizando com ajuda do STF, que em outubro decidiu que a empresa poderia vender suas refinarias sem pedir permissão ao Congresso Nacional.
Segundo o presidente da Petrobras, desde janeiro de 2019 a venda de ativos da empresa fez com que fossem pagos US$ 31,5 bilhões da dívida, quase US$ 1,5 bilhão por mês (Estadão, 2/12/20). Mas com a venda de patrimônio essencial para que a empresa tenha diversificação suficiente para atuar nesse mercado dinâmico, a empresa vai chegar ao final de 2020 a dívida bruta em US$ 87 bilhões, no mesmo patamar que no fechamento de 2019. (G1/Reuters, 28/4/20)
“A Petrobras foi criada por força de Lei, pela luta da sociedade que entendeu que o petróleo brasileiro é do brasileiro. A Petrobras foi criada para desenvolver e garantir a soberania do país, e agora ela está sendo entregue a outros países. Essa política de desinvestimento da Petrobras vem desde o governo de Fernando Collor e todos os governos desde então contribuíram para esse desinvestimento. O Brasil está se tornando uma colônia de outros países, principalmente dos Estados Unidos. A sociedade tem que acordar e lutar pelo que é seu”, afirmou Fernando Borges, diretor do Sindipetro AL/SE em mobilização realizada para alertar a sociedade sergipana dos males da privatização da Petrobras. (Infonet, 31/10/20)
Transformar a Petrobras em uma empresa especializada em extração de petróleo em águas profundas e se desfazer de todo o resto, como declara o presidente da empresa, é um crime não só contra a própria empresa, um tiro no pé, como um crime contra o país. Desde a década de 1950, quando foi criada, a empresa sempre foi uma importante indutora de crescimento econômico. “De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), cada R$ 1 bilhão investido em exploração e produção gera R$ 1,28 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) e 26.319 ocupações. Cada R$ 1 bilhão investido em refino implica na geração de R$ 1,27 bilhão no PIB e 32.348 ocupações. (FUP, 1/10/20)
“Entre 2016 e 2017, os investimentos caíram 23 bilhões de reais na produção e 4 bilhões no refino. Perderam-se 605 mil empregos no primeiro segmento e 134 mil no segundo. As perdas para o PIB foram, respectivamente, de 29 bilhões e 5 bilhões de reais,” mostrou a professora Esther Dweck, do Instituto de Economia da UFRJ (Carta Capital, 22/2/19)
A especialização da Petrobras em uma área somente enfraquece a empresa no quadro da competição capitalista e transfere para o capital estrangeiro o domínio da distribuição de combustíveis, como está ficando agora, e do refino, como ficará em breve. Com essas áreas nas mãos de empresas internacionais, os preços vão aumentar mais ainda e não haverá controle de estoques reguladores para evitar crises de desabastecimento, estratégia muito adotada pelo imperialismo quando deseja gerar crises sociais e políticas que desestabilizem regimes e governos que querem derrubar. Desde o golpe de 2016, “a Petrobrás já se desfez do controle da BR Distribuidora, subsidiária integral responsável pela distribuição de combustível, e privatizou a Liquigás, que atua no engarrafamento, distribuição e comercialização de gás liquefeito de petróleo (GLP). Além disso, a direção da estatal deu início, a partir de junho de 2017, a uma política que resultou em reajustes consecutivos nos preços dos combustíveis.” Além disso, “um estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) contradiz a principal argumentação a favor da privatização do parque de refino. A falta de infraestrutura de interligação do mercado impossibilitará a competição e poderá facilitar o surgimento de monopólios regionais, caso as privatizações sejam realizadas.” (FUP, 1/10/20)
A mini-Petrobras desejada pelos neoliberais adoradores de Pinochet (a única estatal que o presidente da Petrobras elogia é justamente a do cobre do Chile, que sempre foi a menina dos olhos do sanguinário ditador chileno, uma parte do lucro da empresa ia direto para os cofres dos militares daquele país depois do golpe contra Allende) será uma empresa refém das grandes petroleiras norte-americanas. A diversificação da empresa e sua capacidade dinâmica está sendo destruída por suas virtudes e não por seus defeitos. “Entre 2003 e 2013, a expansão dos investimentos da Petrobras, tanto na E&P (exploração e produção) do pré-sal como no refino (e sua cadeia logística), proporcionou um expressivo dinamismo para a indústria de petróleo e para a cadeia de fornecedores nacionais.”, segundo o professor Eduardo Costa Pinto, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Carta Capital, 22/2/19).
Com essa política de destruição da Petrobras, o país está perdendo milhares de empregos em vários setores da economia ligados a área de petróleo e gás, “os setores produtivos que mais perderam foram: extração de petróleo e gás (fabricação de máquinas para perfuração e sondagem); máquinas e equipamentos; Outros equipamentos de transporte (fabricação de embarcações); e serviços prestados às empresas (projetos, construção, montagem, etc.). Em termos de emprego as perdas foram de 55 mil, 86 mil, 52 mil e 232 mil, respectivamente” (Carta Capital, 22/2/19).
A política de gestão da dívida que está sendo adotada pela atual diretoria reflete diretamente esse processo de miniaturização da empresa e sua subordinação ao capital imperialista. Ao contrário do que afirma seu atual presidente, grande parte da dívida atual foi contratada para que fosse possível investimentos no pré-sal. O que a redução do endividamento aponta é para uma política contrária ao que afirma o presidente, aponta para um cenário de desinvestimento na extração de óleo das jazidas gigantes do pré-sal e para barrar novas descobertas de petróleo. Uma volta ao Brasil pré-1953.