Está havendo uma grande manipulação por parte do governo golpista de Michel Temer e de sua aliada, a imprensa burguesa, em relação ao preenchimento das vagas do programa Mais Médicos deixadas pelos médicos cubanos após Bolsonaro tê-los expulsado.
A grande aposta de Bolsonaro supostamente para amenizar o impacto da saída dos cubanos era a reposição da vagas pelos “heroicos” e “patriotas” médicos coxinhas, que iriam aos rincões do Brasil, onde jamais quiseram pisar, para substituir os cubanos.
No entanto, tal reposição é um fiasco. A imprensa burguesa e o governo golpista têm apresentado dados enganosos, dando conta de que as vagas já estão preenchidas e de que os médicos brasileiros estão fazendo perfeitamente a substituição.
Mas há uma grande diferença entre se inscrever no edital, se apresentar nas prefeituras, comparecer para trabalhar e permanecer nos municípios. A verdade é que os médicos coxinhas não querem ir para locais distantes dos grandes centros, assim como não queriam em 2013, quando o programa foi criado (e por isso o Brasil teve de fazer convênio com Cuba).
Há falta de médicos de reposição especialmente no Norte, no Nordeste, nas periferias e em áreas indígenas. Segundo o direitista O Estado de S. Paulo, os novos contratados na capital paulista não querem trabalhar em bairros afastados do centro, como Cidade Tiradentes e Itaim Paulista.
Também no Sul do País, o estado do Rio Grande do Sul abriu 630 vagas com a saída dos cubanos, mas até esta quarta-feira (12), 490 ainda não haviam sido preenchidas, de acordo com o G1.
Segundo O Globo, havia há poucos dias apenas 3% de médicos em atividade, dentre os selecionados, e o governo apelou para o disparo em massa de ligações para os inscritos, de maneira desesperada.
Houve uma diminuição de vagas e de municípios para o programa. De acordo com a presidenta do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Piauí, Leopoldina Cipriano, o governo retirou 1.600 vagas de mil municípios que esperavam a substituição dos médicos cubanos.
As autoridades golpistas têm feito um gigantesco esforço de propaganda e desinformação, além de pressionar para que médicos ocupem logo, e de qualquer maneira, a vaga dos cubanos.
No Pará, por exemplo, uma turma de Medicina da Universidade Estadual do Pará (UEPA) teve a colação de grau antecipada e 36 recém-formados também receberam de maneira antecipada o seu CRM, para poderem se inscrever no Mais Médicos. Uma das principais desculpas da direita para expulsar os cubanos era justamente a enganosa falta de capacitação dos médicos da ilha. Obviamente, eles, que passavam por um mês de curso intensivo, provas e avaliação do diploma pelo governo brasileiro, são mais qualificados do que os estudantes recém-formados.
Uma funcionária do Conselho Nacional de Secretariais Municipais de Saúde (Conasems) expôs no WhatsApp que “o ministério da Saúde está querendo dizer que resolveu tudo, não importa como”. Conforme sua denúncia, o governo está aceitando “médicos com problemas, problemas legais, médicas de oito, nove meses de gestação, se aposentando, médicos idosos, uma série de situações que não são favoráveis para o gestor municipal”.
Outra manipulação é que, para conseguir preencher as vagas dos cubanos, o governo permitiu a transferência de médicos brasileiros que já estavam trabalhando em outros programas governamentais, deixando esses programas sem profissionais. De acordo com o Conasems, cerca de 40% dos inscritos já tinham emprego no serviço de Estratégia de Saúde da Família do SUS.
Eles tiveram de ser transferidos, tanto pela oferta de melhores salários pelo governo, como pelo fato de que, segundo pesquisa da USP, somente 3,7% dos médicos querem trabalhar exclusivamente com Medicina da Família (principal especialização dos médicos cubanos que estavam no Brasil) e 66,2% não desejam atuar na atenção primária.
Os médicos cubanos também haviam ficado, alguns, durante cinco anos no Brasil, trabalhando na atenção da saúde do povo brasileiro. Um tempo muito maior do que a média dos médicos brasileiros que participam do Mais Médicos. O jornal burguês Folha de S. Paulo revelou que mais da metade dos brasileiros que já formaram parte do programa o abandonou em um ano e meio ou menos.
A verdade é que os médicos brasileiros não são formados para atender a saúde dos pobres. Por isso os cubanos estavam aqui no Brasil. E Bolsonaro, com a total cumplicidade do governo Temer, os expulsou para iniciar a completa destruição do sistema público de saúde e sua entrega aos capitalistas e imperialistas dos EUA, seus patrões.
As próprias notas produzidas pela imprensa burguesa contradizem seu discurso hegemônico (e muito mais difundido) de que os médicos brasileiros estariam preenchendo plenamente as vagas dos cubanos e exercendo seu dever de maneira correta.
O que ocorre, em última instância, é que a expulsão dos médicos por Bolsonaro é o começo e fator fundamental do desmonte do programa Mais Médicos, de sua destruição. Agora, com a situação atual, bem que o programa deveria se chamar “Menos Médicos”. Pelo andar da carruagem, em tempo tempo se chamará “Médico Nenhum”.