Por Antônio Eduardo Alves
O fracasso gritante do governo Bolsonaro e o desenvolvimento da crise capitalista colocaram em relevo a necessidade da organização sindical e política dos trabalhadores, para isso é fundamental um programa de emergência em relação a pandemia do coronavírus e a crise econômica, bem como a luta pelo Fora Bolsonaro.
A superação da inércia das direções sindicais é sem dúvida, um aspecto decisivo dessa luta. As universidades e as instituições de ensino estão sendo duramente atacadas no governo Bolsonaro. Contudo, o movimento docente encontra-se em uma prolongada crise de direção.
A direção do Andes cometeu dois erros fundamentais e históricos: Primeiramente, seguindo caninamente a CSP/PSTU não reconheceu a existência do golpe em 2016, sendo que no Conad em Boa Vista (junto com as direções seções sindicais alinhadas) recusou-se terminantemente a lutar contra o impeachment de Dilma, fazendo uma frente na prática com a direita golpista.
Essa política ultraesquerdista e golpista levou a uma profunda crise no interior do Andes. Os docentes viram estarrecidos o sindicato nacional dos docentes do ensino superior completamente a reboque da direita. Por um lado, essa política sectária da diretoria do Andes fomentou e desenvolveu uma forte oposição pela base do sindicato, por outro lado, repercutiu em uma crise permanente no interior da direção do sindicato e nas seções sindicais.
Em 2018, nas eleições para a diretoria do Andes, o que restou do PSTU ( depois do debandada geral) foi sacado da nova composição, ficando agrupamentos do PSOL( inclusive egressos do PSTU) e o PCB. Posteriormente, divergências políticas e disputa pelo controle do aparato levou ao rompimento da velha guarda do antigo Andes -AD ( na sua maioria também PSOL) com a atual diretoria.
Não obstante os ensaios de reavaliação das posições mais abertamente golpistas do período anterior pela diretoria do Andes biênio 2018-2020, a política centrista levada adiante não permitiu um balanço aprofundado nem uma mudança efetiva de política.
Dessa forma, o desafio de enfrentar o governo Bolsonaro foi demais para diretoria do Andes, e por sinal, para a quase totalidade do movimento docente, o que levou a novos equívocos na política. Assim, o segundo grave erro histórico no Andes, foi a ausência de um eixo político diante do governo ilegítimo de Bolsonaro, fruto do golpe e da fraude. Uma expressão disso, foi a recusa tanto pela esquerda pequeno burguesa ( PSOL, PCB, PSTU) quanto esquerda reformista (PT) do Fora Bolsonaro nas mobilizações de 2019, apresentando mil justificativas, de que ” não era o momento” e que ” dividia”, por isso era preciso se restringir a luta “ contra a reforma da previdência” e/ou contra os “ cortes de verbas”, etc.
Em julho de 2019, no Conad de Brasília, a diretoria do Andes ( junto com seções sindicais alinhadas e inclusive muitas que se reivindicavam da oposição) não defenderam Fora Bolsonaro, somente Educadores em Luta( PCO) e um pequeno grupo de militantes do PT pautaram a luta contra o golpe e pela derrubada do governo Bolsonaro, que junto com o congresso nacional, tinha acabado de aprovar em primeiro turno, a reforma da previdência.
O leitor pode me perguntar, mas qual o sentido de levantar esses questões do “ passado”? Afinal hoje, praticamente todo movimento docente é pela derrubada do governo Bolsonaro,( desde de setores da esquerda do PT até o PSOL, passando inclusive pelo PSTU), além disso, o golpe que derrubou o governo do PT, fruto de tanta polêmica nas instâncias do sindicato é “ reconhecido ” pela menos entre os agrupamentos que compõe a atual diretoria do Andes e estão na chapa 1 nas próximas eleições sindicais.
Para analisar a conjuntura é ter perspectiva, analisar os desdobramentos e apresentar uma alternativa. O movimento docente encontra-se à deriva, sem uma direção efetiva. A responsabilidade ou melhor a irresponsabilidade política da direção do Andes é colossal, e não se trata de uma crítica eleitoral, mas de uma constatação política.
A crise sanitária acirrada pela epidemia do coronavírus além de ampliar o incremento da crise econômica, na medida em que levou uma paralisia da produção com um aumento do desemprego, mostrou de maneira transparente os efeitos cruéis da devastação neoliberal, em especial no desmantelamento da saúde pública.
No Brasil, o golpe de estado de 2016 e suas medidas de “austeridade” com a retirada dos recursos para saúde pública deixou o povo brasileiro completamente indefeso diante da pandemia do coronavírus. Além do mais, Bolsonaro adotou uma política completamente contraria aos interesses populares, distribuindo dinheiro para os capitalistas, e deixando a população completamente a mercê diante do avanço da pandemia do Coronavírus no Brasil.
Neste contexto, cada vez mais a insatisfação popular é ampliada, provocando não somente a divisão interburguesa, expressa nas disputas do governo Bolsonaro com o congresso e com os governadores, mas coloca em pauta de maneira premente a derrubada do governo Bolsonaro.
Se recordarmos as posições políticas adotadas pela esquerda diante do golpe, e mais ainda diante do primeiro ano do governo Bolsonaro fica evidente que um dos problemas centrais das direções majoritárias tanto da esquerda reformista ( PT) quanto a esquerda pequeno burguesa ( PSOL) é não colocar em relevo a mobilização independente em relação ao regime político, predominando a política de aparência e de ocasião, em geral meramente eleitoral. Assim, são abundantes terríveis condenações aos governos nas declarações e notas das entidades sindicais e como não poderia deixar de ser nas redes sociais dos participantes dos agrupamentos do movimento docente, mas uma política efetiva de enfrentamento não existe.
A crescente necessidade da organização dos docentes em um movimento independente reforça a importância da construção da corrente educadores em luta, como um instrumento consciente diante dos ataques cada vez mais ferozes da direita e da acentuada paralisia da direção no Andes.