“Fora Bolsonaro” ou “Fica Bolsonaro”?

Em matéria publicada no sítio Brasil 247, no dia 30/7, o jornalista e professor, membro do Psol, Gilberto Maringoni, defende que o impeachment de Jair Bolsonaro não deve ser uma política para a esquerda. No artigo “O impeachment é via ilusória para esquerda”, o professor parte de alguns pontos até certo pontos corretos para uma conclusão oposta sobre o problema. A defesa do impeachment do presidente golpista começou a ser feita por deputados da esquerda e ficou em segundo lugar entre as hashtags no Twitter.

Segundo Maringoni, “Bolsonaro se tornou um fardo para a direita tradicional, que tem o mesmo projeto econômico da extrema-direita, mas dela difere na ação política.” De fato, o bolsonarismo não é o que a direita tradicional gostaria de ter para poder aplicar sua política. Mas não por um problema de uma política diferente da de Bolsonaro, como diz Maringoni eles têm o mesmo projeto econômico, mas porque para a burguesia, é mais seguro aplicar essa política sem as turbulências que a extrema-direita acaba gerando. As declarações recentes de Bolsonaro sobre o assassinato de Fernando Santa Cruz mostram isso.

Isso não significa também que a direita tradicional pelo menos até agora não esteja disposta a sustentar Bolsonaro. Isso porque a burguesia sabe que o bolsonarismo é o único que tem uma certa base social, ainda que pequena. Em contrapartida, os representantes da direita tradicional não têm nenhuma base. Claro que a burguesia golpista de conjunto pode tomar a decisão, diante de uma oscilação na situação política, pela derrubada de Bolsonaro, mas não parece ser esse o caso ainda. A política está mais para a tentativa de domar o governo ou, como já afirmaram lideranças da esquerda pequeno-burguesa, “coloca-lo na linha”.

A preocupação da burguesia, em primeiro lugar, é preservar sua política econômica de demolição do País, a reforma da Previdência, os ataques às universidades e serviços públicos, privatizações etc. A partir daí, Maringoni tira uma conclusão errada do problema.

Para ele, o trunfo da esquerda nesse momento seria o desgaste de Bolsonaro. Esse desgaste colocaria em perigo a política da direita golpista. Portanto, segundo Maringoni, “tirar Bolsonaro de cena, através do impeachment, é manobra que entra também no radar do conservadorismo ultraliberal”. Segundo ele, então, a direita apostaria no impeachment para se livrar do bolsonarismo e assim garantir a estabilidade de sua política de ataques ao povo.

Uma lógica estranha para dizer o mínimo. Para a burguesia seria vantajoso abrir um processo de impeachment com o risco de causar uma instabilidade política. Ora, para a esquerda, seria vantajoso deixar a coisa como está? Segundo as palavras do próprio autor: “a esquerda deveria valer-se do desgaste de Bolsonaro”. Ou seja, a palavra-de-ordem é “Fica Bolsonaro”, até a próxima eleição, e se tivermos sorte e ele se desgastar bastante, até lá talvez estaremos vivos.

O que confunde Maringoni é a proposta institucional do impeachment. Claramente essa proposta que começa a ser levantada por alguns setores da esquerda é equivocada não por pedir a queda do governo, mas pela via que se apresenta. Mas em primeiro lugar devemos dizer que do ponto de vista do conteúdo, ela não está errada. O impeachment é a expressão de uma política correta que é a luta pela derrubada desse governo. E isso, ao contrário do que diz Maringoni seria um desastre para a direita pois representaria necessariamente uma instabilidade política que pode colocar a perder tudo o que o golpe fez até agora.

A única coisa que podemos dizer sobre o impeachment é que é uma via institucional que pode permitir que a direita manobre para entregar o poder a outro golpista. Do ponto de vista do conteúdo, ou seja, derrubar o governo, está correto, mesmo a via do impeachment com certeza seria um problema para a direita. No entanto, o melhor caminho seria a derrubado de Bolsonaro nas ruas e a exigência de novas eleições para retirar todos os golpistas. Esse caminho seria mais favorável à esquerda, pois coloca claramente o problema do poder político para as massas.

Mas Maringoni tem ainda outra consideração. A de que “banalizar” o impeachment seria abrir para a direita a possibilidade de derrubar qualquer governo de esquerda por qualquer motivo. Esse argumento ignora que a luta política é um problema de correlação de forças, o governo de esquerda ou de direita será derrubado se ele tiver ou não apoio.

A posição de Maringoni, no final das contas, é a de “Fica Bolsonaro”, uma posição passiva diante da realidade política do País. Deveríamos, por considerações abstratas convencer o povo a se contentar com Bolsonaro e levar o movimento de luta contra o governo a uma paralisia.

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