Com a morte neste domingo (16/05) do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), aos 41 anos, vítima de câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado, intensificou-se a campanha de apresentar o jovem politico como um verdadeiro exemplo de serviço ao povo. Ao mesmo tempo em que busca se resgatar as supostas tradições positivas do seu avô, Mário Covas, ex-governador de São Paulo e um dos principais fundadores do PSDB e chefe político do tucanato no Estado durante cerca de duas décadas, ao longo da sua carreira política em que foi deputado federal e prefeito biônico da Capital, durante o regime militar e candidato à presidência da República (1989) nas primeiras eleições diretas após a ditadura militar.
Oligarquia política
Bruno Covas descende de uma família tradicional da política burguesa paulistana e evidencia como nos partidos tradicionais da direita burguesa as máquinas partidárias são comandas por grupos reduzidos, de caraterísticas familiares, como se dava com os antigos coronéis do interior do País e continua a acontecer, uma vez que as máquinas partidárias e os milhões que elas movimentam e os esquemas eleitorais com cabos eleitorais, distribuição de cargos é um esquema controlado por um grupo reduzido de pessoas. Um traço copiado, inclusive, por setores da esquerda burguesa e pequeno burguesa que fizeram da política parlamentar ou nos cargos executivos um meio de vida e de carreira que passam para os membros da família.
Cinicamente, o Partido da Imprensa Golpista, o PIG, consorciados desses esquemas eleitorais e políticos da burguesia, procura apresentar tais esquemas como uma salutar tradição familiar e não como parte de um esquema verdadeiramente mafioso, no qual os detentores das chaves dos cofres e dos esquema políticos os mantém como um negócio privado sobre o controle familiar.
Diante da morte trágica do prefeito, de uma doença que – infelizmente – acomete milhões de brasileiros, a imensa maioria dos quais não têm as mais elementares condições de tratamento, essa mesma imprensa procura pintar um quadro ilusório acerca da trajetória política desses oligarcas, cujo grande mérito é o de terem se colocado na defesa sem restrições dos interesses do grande capital contra o povo. À frente das poderosas máquinas públicas do Estado de São Paulo e da Prefeitura da Capital, respetivamente, o segundo e terceiro orçamento público do País e, portanto, alvo de cobiçada disputa pelos monopólios capitalistas cada vez mais dependentes dos recursos do Estado (ou seja, dos impostos pagos pelos trabalhadores) diante da crise histórica do capitalismo que há muito não se sustenta na chamada “livre iniciativa” mas no assalto direto dos cofres públicos.
Privatização e destruição dos serviços públicos
Mostrando total ignorância, até mesmo sobre a recente história do País, e o abandono completo da defesa dos interesses dos trabalhadores contra a burguesia, muitos setores da esquerda se lançam na política reacionária de bajular e louvar esses e outros políticos burgueses, durante a sua vida e mais escancaradamente após a sua morte.
Mas um breve exame da realidade mostra que os trabalhadores não tem o que exaltar da obra política desses senhores. Muito pelo contrário.
Mário Covas, por exemplo, chegou ao governo estadual de São Paulo, como parte de um processo fraudulento em que foi apresentado – em mais de uma oportunidade – como um político progressista ou como o “mal menor” em relação a outros setores da direita reacionária, como Paulo Maluf (ex-chefe do partido da ditadura no Estado, ex-governador de São Paulo, ainda durante a ditadura) representante político de setores mais débeis da burguesia paulista (como os setores ligados ao comércio e à pequena indústria) e da classe média mais atrasada (militares, políticos do interior etc.) muitos dos quais hoje são base apoio do bolsonarismo.
Conquistando algum apoio popular em prol dessa farsa, inclusive de setores da esquerda, Covas e o seu PSDB chegaram ao governo não para defender os interesses do povo contra a “velha guarda” da política burguesa, mas sim os interesses dos bancos e do grande capital paulista e promover um processo de violenta destruição dos serviços públicos, privatizações em favor dos tubarões capitalistas.
Em seus governos, e dos sucessores tucanos, como José Serra, Geraldo Alckmin, e João Doria, promove-se o maior processo de dilapidação dos serviços públicos da história do País, destacadamente em serviços essenciais à população como Saúde, Educação, Moradia etc. cujas consequências são sentidas no dias atuais e com prejuízos para as gerações futuras.
O velho Covas, por exemplo, iniciou a primeira gestão tucana (1995), junto com o famigerado governo de FHC, demitindo de uma só vez mais de 5 mil trabalhadores das escolas públicas, da aérea de limpeza, segurança escolar (vigias) etc. sobre o pretexto de que suas contratações tinham sido irregulares, nas administrações anteriores. Alguns desses cargos nunca mais foram ocupados e as escolas. Dezenas de milhares de cargos do serviço escolar foram terceirizados e os salários dos servidores reduzidos para menos da metade. No caso dos professores, o salário inicial de um docente, equivalia no final das administrações “exitosas” de Mário Covas a cerca de um terço do valo pago na época do famigerado governo de Paulo Maluf (1979).
As mobilizações dos trabalhadores da cidade e do campo, assim como de estudantes que se levantaram contra a destruição das universidades públicas, foram sempre tratados por seus governos (como todos do PSDB) com enorme brutalidade e sem que, na imensa maioria das vezes, houvesse qualquer negociação com os sindicatos.
Cantando em verso e prosa, ainda mais depois de sua morte, como um “progressista”, “democrata” etc. Mário Covas foi peça fundamental do período de comando tucano do País, da famigerada era FHC que promoveu os maiores retrocessos, até bem pouco tempo atrás, nas condições de vida do povo trabalhador, promovendo a maior entrega de empresa públicas de todos os tempos, como no caso da privatização da Vale do Rio Doce, vendida pelo preço equivalente a um milésimo do valor das suas reservas minerais e por um preço vil que corresponde hoje ao lucro de 1,5 mês do lucro dos tubarões e assassinos da Vale (de acordo com os resultados do primeiro trimestre deste ano).
Em SP, Covas promoveu também – sem seus governos – o fechamento de mais oito mil salas de aulas e a demissão de mais 50 mil professores por meio do famigerado processo de reorganização das escolas e introdução da “aprovação automática” (“progressão”) que comprometeu a vida de inúmeras gerações e levou o Estado, o mais rico da federação, a pagar, até os dias atuais, um dos dez piores salários da rede pública de todo País para os professores.
Tal avô, tal neto
O recém falecido seguiu o exemplo do avô, e amparado na máquina eleitoral do PSDB, sobre a qual a família Covas sempre manteve parte do controle com vários de seus membros, e avançou em sua carreira se aliando às alas mais reacionárias do tucanato como o atual governador João Doria, de quem foi vice-prefeito de São Paulo, na gestão marcada por privatização de tudo (até de parques públicos) e ataques nazistas contra a população pobre da cidade, como ofertar ração como merenda escolar, jogar água fria em moradores de rua durante a madrugada para expulsá-los do centro da cidade, entre outras atrocidades.
Depois de assumir a prefeitura pelo afastamento de Doria para o governo estadual, Covas manteve os aspectos fundamentais da política do seu antecessor, tais como as relações com os setores mais mafiosos da Câmara Municipal, o que levou a que o vereador Ricardo Nunes (MDB), do grupo liderado pelo direitista Milton Leite (DEM), fosse indicado como seu vice, e agora assuma a Prefeitura.
O político veio a óbito no momento em que a greve dos trabalhadores da Educação da Capital está para completar 100 dias, enfrentando justamente a decisão criminosa do prefeito que, como Doria, era apresentado como “científico”, mas que defendida – de fato – a mesma política reacionária de Bolsonaro e de toda direita de reabrir tudo e deixar o povo morrer sem qualquer assistência, mas garantir os interesses dos bancos e grandes monopólios, acima de tudo.
Sua eleição foi, mais uma vez, parte de um processo fraudulento em que foi apresentado (inclusive por setores da esquerda) como um mal menor em relação ao candidato do bolsonarismo, mesmo depois de comandar a prefeitura da cidade mais rica do País durante a pandemia sem apresentar qualquer combate real à evolução da doença (sem testes em massa, sem pesados investimentos na Saúde, hospitais de campanha fechados, sem auxílio real à população etc.) o que levou a um total de mais de 41 mil mortos, no data do seu falecimento, uma das maiores do Mundo.
Mesmo com tais resultados, Bruno Covas foi apresentado na fraudulenta campanha eleitoral como um “eficiente” político no combate à pandemia, um exemplo de “renovação” da putrefata política burguesa.
Nada poderia ser mais falso.