O governo da principal nação imperialista do mundo, os Estados Unidos, anunciaram no começo de março que o Fed fará intervenções no mercado de capitais superiores a 1,5 trilhão de dólares, montante equivalente a quase o dobro do que custou as intervenções do governo na crise de 2008 (US$850 bi). No meio de um cenário financeiro muito grave, poderia parecer que o governo norte americano está agindo no sentido de evitar uma crise maior, que traga desemprego e pobreza aos trabalhadores americanos mas a verdade é bem menos romântica.
Exatamente uma semana após o anúncio, uma reportagem da rede CNN mostrou o drama dos profissionais de saúde, que trabalham sem equipamentos essenciais para realizar testes capazes de detectar o Covid-19. Enquanto os suprimentos estavam em falta, no mesmo dia, 19 de março, o número de infectados subia 40% nos Estados Unidos. Um adendo se faz necessário na observação desse número por que, dada a realidade americana, onde o teste para averiguar o contágio está acima das possibilidades financeiras da maioria do povo, os casos confirmados são baseado em estatísticas problemáticas, no mínimo conservadoras. Ainda assim, casos de testes não realizados por falta de equipamentos foram reportados em vários estados americanos e tem sido uma constante em quase todos os países atingidos pela pandemia. O governo norte americano criou o programa “Families First” (“Famílias primeiro”), que prevê testes de averiguação do contágio e licença remunerada do trabalho, disponibilizando 100 bilhões de dólares para atender as famílias trabalhadores dos EUA. Isto, claro, na teoria, já que a real funcionalidade do programa é exatamente o alvo de denúncias que, longe de constituirem uma exceção, revelam-se a norma em mutos países do mundo, especialmente os mais poderosos, que em tese, dispõem de mais recursos para conciliar a cupidez de sua burguesia decadente com a necessidade política de manter a classe trabalhadora nacional calma. Em tese apenas.
A discrepância entre mais de US$1,5 trilhão para um reduzido número de capitalistas e US$100 bilhões para o mínimo elementar destinado à segurança fisiológica e financeira de 160 milhões de trabalhadores (a força de trabalho dos EUA) é altamente ilustrativa do caráter classista dos governos burgueses no mundo inteiro. Essa é uma das principais lições deixadas pela etapa atual da crise histórica do capitalismo: a luta de classes é uma realidade concreta, por mais que os detratores do marxismo (na direita e na esquerda) insistam em negá-la. Através dessa metodologia para a compreensão da realidade (a luta de classes), podemos ainda perceber de maneira muito clara o problema fundamental a todas as sociedades do mundo burguês, que se manifesta como um conflito distributivo, ocasionado por um problema de ordem difusa qualquer, envolvendo questões morais, cognitivas ou outras mas que é essencialmente material. Ma hora do governo americano decidir quem será priorizado, o governante entrega US$1,5 trilhão para poucos parasitas expropriadores do produto social, a riqueza, e míseros US$100 bilhões para as massas produtoras expropriadas.
Nesse sentido, abstrações excêntricas como direitos humanos, democracia consolidada, estado democrático de direito entre outras se revelam como meros discursos vazios quando confrontados com a realidade de que os governos burgueses de conjunto são os principais responsáveis pela crise global do coronavírus, que infectou mais de 260 mil pessoas no mundo, causando mais de 11 mil vítimas fatais. Mesmo governos das nações imperialistas vem demonstrando pouca ou nenhuma consideração (como é o caso dos Estados Unidos) pela saúde e a vida da população, especialmente da classe trabalhadora, e aqui é importante frisar, não por defeitos morais (embora seja imoral) mas pelo interesse político que determina a ordem de prioridades.
Longe de ficarmos comovidos pela propaganda para inocentes dedicada a promover uma união nacional meramente ilusória, a tarefa posta pela crise à vanguarda dos movimentos operários e populares é de trabalhar pela mobilização popular, de modo a derrubar os regimes burgueses, que em todos os países, se revelam, de maneira explícita, verdadeiros capatazes da burguesia, inimigos dos trabalhadores e do amplo conjunto da população, a ponto de assistirem inertes a uma catástrofe dizimando o povo, apelando a toda sorte de ilusionismos ao mesmo tempo em que impõe um regime de terror às populações afetadas pela pandemia.