No último domingo (14), durante um jogo de futebol entre o Paris-Saint Germaint e o Olympique de Marseille, o zagueiro espanhol Álvaro González tentou intimidar o brasileiro Neymar, melhor jogador do mundo, com provocações racistas. Segundo relato do próprio Neymar, González teria chamado o jogador de “macaco filho da p…”. O brasileiro ficou indignado e deu um tapa na cabeça do zagueiro espanhol. Mais tarde, por meio das redes sociais, Neymar disse que se arrependeu apenas de não ter dado um soco em González.
A reação de Neymar não parou por aí. Ainda bastante revoltado com toda a situação, o brasileiro denunciou o VAR e toda a perseguição do imperialismo contra o seu futebol e chamou González por aquilo que de fato é: um racista:
VAR pegar a minha “agressão” é mole … agora eu quero ver pegar a imagem do racista me chamando de “MONO HIJO DE PUTA” (macaco filha da puta)… isso eu quero ver!
— Neymar Jr (@neymarjr) September 13, 2020
E aí? CARRETILHA vc me pune.. CASCUDO sou expulso… e eles? E aí ?
Você não é homem de assumir teu erro, perder faz parte do esporte. Agora insultar e trazer o racismo pra nossas vidas não, eu não estou de acordo. EU NÃO TE RESPEITO! VOCÊ NÃO TEM CARÁTER! Assume o que tu fala mermão … seja HOMEM RAPÁ ! RACISTA ✊?
— Neymar Jr (@neymarjr) September 14, 2020
Como fica bastante claro nas declarações, Neymar reagiu de maneira muito mais enérgica que a esquerda pequeno-burguesa e identitária tem reagido ao avanço da extrema-direita fascista e racista. Diferentemente de fazer discurso no parlamento ou de elogiar o TSE por destinar cotas eleitorais aos negros, Neymar enfrentou o racismo como deve ser enfrentado: denunciou a público, chamou-o pelo próprio nome e não deixou-se intimidar.
O que mais impressiona neste caso, contudo, é que a esquerda pequeno-burguesa não saiu em defesa de Neymar. Os mesmos setores que tanto fazem alarde sobre o problema do “lugar de fala”, que reivindicam para o negro uma espécie de autoridade moral para falar, agora se calam diante da tentativa de intimidar o melhor jogador do mundo. Os mesmos setores que colocam em segundo plano a luta de classes, que correm para prestar solidariedade a vigaristas como Kamala Harris e Fernando Holiday, resolveram ignorar o que aconteceu no gramado francês.
Seria porque, neste caso, não haveria racismo? Isto é, que Álvaro González apenas chamou Neymar de “macaco” porque estava irritado ou porque deixou-se levar pelas emoções durante uma partida de futebol? Não, e podemos comprovar isso facilmente: o mesmo jogador já foi flagrado insultando Messi por sua altura e é apoiador do partido fascista da Espanha, o Vox. Isto é, os xingamentos dirigidos a Neymar, muito mais do que xingamentos, são a expressão de um movimento real da extrema-direita que tem como objetivo massacrar os imigrantes, sobretudo aqueles oriundos de países atrasados.
Talvez por isso, não vi a esquerda pequeno-burguesa dizer que não houve racismo neste caso. No entanto, encontrou outro pretexto para não defender o jogador: o de que Neymar não reagiu ao racismo anteriormente e, portanto, não deveria ser defendido. Essa posição pode ser encontrada, por exemplo, em artigo de Kiko Nogueira, no Diário Centro do Mundo: “Neymar descobriu que é negro neste domingo, 13 de setembro”. Não por acaso, a mesmíssima posição é encontrada no jornal O Globo.
Não é meu objetivo investigar se é ou não a primeira vez que Neymar reagiu ao racismo. Até porque isso não tem importância alguma. A questão que fica, no entanto, é: por que há tanto interesse em desencavar esse suposto passado de Neymar? E a resposta é muito simples: para que a esquerda tenha uma justificativa para não fazer uma defesa clara de Neymar. E por que a esquerda pequeno-burguesa não quer defender Neymar?
Porque o imperialismo odeia Neymar e o futebol brasileiro. E isso tem tudo a ver com o racismo: o imperialismo quer acabar com o melhor futebol do mundo para que um povo sofrido e muito combativo não levante a cabeça e pegue em armas contra seus algozes. E como a esquerda pequeno-burguesa, pela sua própria composição pequeno-burguesa, sempre está a reboque do imperialismo, sua política sempre será uma política pró-imperialista.