A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) concedeu uma entrevista a Breno Altman, jornalista do site Ópera Mundi. Um dos temas polêmicos da entrevista foi a articulação da Frente Ampla na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, que levou os partidos de esquerda (PT, PCdoB, PSB, PDT e PSOL) a entrar no bloco político de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e apoiar seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP), contra o candidato de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (Progressistas-AL).
Dilma foi clara e disse que não há diferenças substanciais entre os três candidatos da direita, Baleia Rossi, Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB). Quando foi dito que a Frente Ampla tem por finalidade a defesa da democracia, a ex-presidenta indagou: “Tem alguém mais contra a democracia do que foi o (P)MDB nos últimos tempos?”.
O MDB de Michel Temer, Eduardo Cunha, Baleia Rossi foi um dos principais conspiradores no golpe de Estado de 2016, que se materializou com o impeachment ilegal e fraudulento da ex-presidenta eleita no Congresso Nacional, com participação do Alto Comando das Forças Armadas, do Supremo Tribunal Federal e dos demais partidos burgueses (PSDB, DEM, Progressistas, Republicanos, PSD, PTB, SD) que controlavam as duas casas legislativas. Sobre a questão das ameaças de golpe de Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido), Dilma destacou que se atrelar ao MDB é uma ilusão, pois “golpe por golpe, eles deram um”.
A existência de um centro político democrático foi questionada. Dilma disse que não se pode acreditar que Baleia Rossi vai ser uma oposição a Bolsonaro. Se eleito, o emedebista “vai ser capturado por Bolsonaro no momento seguinte”. O que é um raciocínio correto, tendo em vista que o líder do governo Bolsonaro no Senado Federal é Fernando Bezerra Coelho, do MDB. No Distrito Federal, o governador emedebista Ibaneis Rocha é um aliado de Bolsonaro. Este partido faz parte da base de apoio do governo federal na Câmara. Inclusive, o presidente recebeu convite de filiação do próprio MDB.
Desde que aconteceu o golpe de Estado, o MDB atuou em conjunto com os partidos políticos DEM, PSDB, PTB, Progressistas, Republicanos, SD, PSD para implementar todos os maiores ataques aos direitos dos trabalhadores das últimas décadas. A PEC do Teto dos Gastos congelou o orçamento de 2016 até 2036; a Reforma da Previdência criou dificuldades excepcionais para a aposentadoria e rebaixou ainda mais seu valor; a Reforma Trabalhista rasgou a CLT e retirou uma série de direitos trabalhistas; a lei das Terceirizações Gerais permitiu a terceirização das atividades-fim; o petróleo, o patrimônio público nacional, recursos naturais e o meio ambiente foram entregues para o capital internacional.
A articulação da Frente Ampla é uma manobra da burguesia para atrelar os partidos de esquerda, em particular o PT à sua política. Trata-se de “virar a página do golpe”, ou seja, de transformar os golpistas neoliberais em arautos da democracia contra Jair Bolsonaro. Contudo, os “democratas” são aqueles que sustentam o governo Bolsonaro.
A prisão política do ex-presidente Lula (PT) pelos procuradores da Lava-Jato, em meio às eleições presidenciais de 2018, foi apoiada, estimulada e sustentada pelos partidos burgueses (PSDB, DEM, MDB, Progressistas, Republicanos, PTB, SD, PSD) agora travestidos de “democratas”. Eles colocaram os fascistas nas ruas para aterrorizar a esquerda e os movimentos sociais e atacar quem se vestia de vermelho. Armaram os protestos falsos dos camisas verde-amarelas para criar condições políticas para derrubar o governo Dilma. Novamente em 2018, quando o PT capitulou e substituiu a candidatura de Lula por Fernando Haddad, estes partidos burgueses se unificaram com a extrema-direita bolsonarista para impedir a volta do PT.
Atualmente, existem cerca de 56 pedidos de impeachment contra o governo Bolsonaro. O “democrata” Rodrigo Maia, presidente da Câmara, já afirmou que não vai colocar nenhum em votação, pois não vê motivos para que o governo Bolsonaro seja retirado, apesar dos mais de 7 milhões de infecções pelo coronavírus, 190 mil mortos oficiais, escalada da pobreza e miséria e ameaças de intervenção militar e fechamento do próprio Congresso Nacional.
No governo Bolsonaro, são mais de 6 mil militares das Forças Armadas da ativa e da reserva em postos civis. A imprensa noticiou que o governo se utiliza das agências de monitoramento para vigiar opositores políticos. A prática de elaboração de listas de opositores tornou-se recorrente. Tudo isso com a conivência dos “democratas”, que agora querem fingir que são contra o bolsonarismo.
O apoio da esquerda frente-amplista ao bloco de Rodrigo Maia representa mais uma capitulação vergonhosa e sua integração ao regime político golpista, dominado pelas forças à serviço do imperialismo. A ex-presidenta Dilma Rousseff está correta, é preciso se opor a essa articulação que somente fortalece os golpistas e a própria extrema-direita bolsonarista e anula as forças de esquerda para 2022.