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Pandemia nos quilombos

Desinformação atrapalha diagnóstico de Covid-19 em quilombolas

Das 600 comunidades quilombolas do Pará, apenas 30% foram mapeadas, sendo que, das 30%, não foram mapeados 100% dos casos

A situação real dos quilombolas em meio à pandemia de novo coronavírus segue como uma incógnita. Não se sabe, por meio dos dados oficiais do governo, sobre o nível de contaminação nos quilombos da região do Baixo Amazonas. Pessoas que residem nas comunidades apresentam sintomas como tosse, febre, dor de cabeça, e depois, perda de olfato e paladar, sintomas típicos da Covid-19. Alguns afirmar ser uma “virose” ou até a “Virose braba da baixa da água”, virose esta que, por vezes, surge após o período das cheias dos rios da região que ocorrem durante o inverno.

A Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará, em parceria com o Sacaca, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedade Amazônica, Cultura e Ambiente da Universidade Federal do Oeste do Pará e a Malungu, por meio de mapeamento, descobriram 11 casos e 2 mortes por coronavírus na região do Baixo Amazonas e, em todo Pará, foram identificados 457 casos e 29 mortes somente em habitações quilombolas. O governo não produz nenhuma forma de mapeamento da pandemia nessas regiões, algo que já era previsível: basta lembrarmos das falas ignóbeis, racistas do atual presidente, que na época era candidato à presidência, sobre os quilombolas.

Um dos grandes problemas, talvez o maior deles, é a desinformação que atinge essas comunidades. Muitos habitantes relatam terem apresentado os sintomas que são característicos da Covid-19. Porém, não associam à doença, mas sim a uma virose qualquer, como dito acima. Isso revela um dos fatores que impendem o entendimento da situação real da pandemia nos quilombos.

Outros fatores se somam à desinformação e à falta de comunicação que possa vir a esclarecer sobre o vírus e as dimensões de sua contaminação nessa região. A falta de testes, que é um problema decorrente em muitos pontos do país, também se apresentam como um impasse para o mapeamento. Segundo Raimundo Magno Nascimento, integrante da Malungu e um dos responsáveis pelo Comitê de enfrentamento à Covid-19 do movimento quilombola no Pará, estima-se que o nível de subnotificação seja de 70%, visto que, das 600 comunidades quilombolas do Pará, apenas 30% foram mapeadas. E mais, Magno afirma que “mesmo com os quilombos que temos contato, ainda não conseguimos levantar 100% dos casos, por causa do desconhecimento, preconceito, ou por acharem que o vírus é virose braba”.

Este problema com os quilombos nos indica que o combate à pandemia será muito mais complicado do que parece e reforça a necessidade de um projeto com e para as camadas mais pobres da população.

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