Em publicação no seu Portal, intitulada “Executiva da CUT convoca para 1º de Maio solidário, de luta e “Fora, Bolsonaro” (29/4/20), a direção da maior organização sindical do País e da América Latina, a Central Única dos Trabalhadores, torna público seu posicionamento político frente ao Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora, anunciando em Nota Oficial sua decisão de dar “conteúdo à luta pela democracia e pelo fim do governo Bolsonaro, como decidido em nosso 13º CONCUT’, anunciando que “hoje se traduz no Fora Bolsonaro!”
Nesse sentido “convoca nossos sindicatos, federações e confederações filiadas, CUTs estaduais, ramos, todos os nossos militantes e a classe trabalhadora à mobilização para o 1º de Maio de 2020” anunciando que “atividades serão realizadas de forma unitária com as demais centrais sindicais, frentes e movimentos populares” e destacando que “convites da CUT para a participação através de mensagens de vídeo, além das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo” encontram-se lideranças petistas (citadas na Nota) e “parceiros históricos da nossa central”.
A posição em favor do “fora Bolsonaro” por nós defendida, dentro e fora da Central, por meio de de intensa campanha de agitação e propaganda, desde o processo fraudulento que o levou à presidência contra nossa vontade e da CUT (juntos dizíamos, já em 2018, “eleição sem Lula é fraude”, quando apoiamos a inscrição da sua candidatura presidencial), expressa um importante avanço no posicionamento da Central, refletindo a vontade manifesta de milhões de trabalhadores em todo o País e que já vinha se refletindo, sem ser ouvida pelas direções, nas manifestações populares e nas decisões de importantes entidades da luta dos trabalhadores como a Central de Movimentos Populares (CMP) e, mais recentemente, pela APEOESP, maior sindicato da CUT e do País.
Um problema central, para a CUT e para o conjunto dos trabalhadores, é que é preciso dar consequência a essa política, uma vez que a CUT não é uma pequena organização política, comum entre a pequena burguesia, para a qual bastam palavras e discursos.
A CUT nasceu em meio a grandes lutas, ocupando o papel necessário de centralizar as lutas dos trabalhadores e dos seus sindicatos contra os patrões e o governo. Portanto, dizer “fora Bolsonaro” é qlgo que se deve materializar na convocação de um conjunto de atividades e mobilizações que levem à derrubada do governo que não só está sendo responsável pelo maior genocídio recente da história do País, em meio à crise do covid-19, que o presidente chamou de “gripezinha” mas que também vem matando enormes parcelas da população por meio da fome, do desemprego e do aumento da miséria.
É claro que Bolsonaro não está fazendo isso sozinho. Nem mesmo chegou ao governo apenas por vontade própria. Sua ascensão é resultado do golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma e da condenação e prisão fraudulentas de Lula, dentre outras iniciativas golpistas, que não foram lideradas pelo ex-capitão.
Nisso reside um dos problemas centrais. A direção da CUT, em meio a uma certa crise interna, oculta o fato de que está justamente organizando as atividades do 1º de Maio com organizações e dirigentes que estiveram à frente dessa iniciativa golpista. Em primeiro lugar, com entidades disfarçadas de organizações de trabalhadores que foram criadas para lutar contra a CUT e contra os interesses dos trabalhadores e que foram dirigidas ao longo de suas história por inequívocos traidores da da causa operária. É o caso da Força Sindical, ainda hoje liderada pelo seu ex-presidente, deputado Paulinho da Força, um dos mais ativos parlamentares da campanha golpista e que preside um partido, o Solidariedade, que – entre outros ataques contra os trabalhadores – deu 95% dos seus votos para a aprovação da “reforma” da Previdência; ou da UGT, presidida por Ricardo Path, dirigente do PSD, uma sublegenda tucana que, além de ter apoiado o golpe e todos os ataques contra os trabalhadores, foi cabo eleitoral ativo do seu patrão, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, nas eleições de 2018 (e de Bolsonaro).
Embora não mostre apoio em sua Nota, a CUT não se posiciona sobre o fato de que para tal ato foram convidados (pela direita do movimento sindical e por setores da esquerda, como o PCdoB) elementos ultra-reacionários das duas maiores máquinas políticas de guerra contra os trabalhadores: do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso (um dos presidentes mais odiados pelos trabalhadores e suas organizações) e o governador João Doria, um fascista perseguidor dos explorados, dos funcionalismo público, dos professores; e do DEM, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que comandou pessoalmente a aprovação da “reforma” trabalhista, que hoje garante que mais de 40 milhões de trabalhadores estejam na informalidade, e do roubo da Previdência [pelo que mereceu de Bolsonaro a alcunha de “general da reforma’’], além do presidente golpista do Senado, Davi Alcolumbre. Não faltou convite, segundo divulgado pela Força, UGT e PCdoB, nem mesmo para o fascista governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), também sócio de Bolsonaro na fraude eleitoral e que ficou “famoso” em todo o País por disparar tiros de fuzil contra comunidades pobres do Rio e comemorar o assassinato de trabalhadores pela PM carioca, campeã nacional de assassinatos de inocentes.
Obviamente que ninguém em sã consciência poderá dizer que a frente com esses reacionários e aliados de Bolsonaro no ataque e genocídio do povo brasileiro poderá conduzir-nos à uma saída que sirva aos interesses dos trabalhadores diante da crise.
Cabe ainda ressaltar que, para derrubar Bolsonaro e fazer valer os interesses dos trabalhadores e de todo o povo, será preciso romper com a paralisia que levou a maioria das direções sindicais a uma posição de capitulação frente à essa direita, inclusive, fechando os sindicatos e deixando na mão os trabalhadores que, nos bairros operários, nas fábricas, hospitais transportes, comércio, correios etc. etc. continuam sendo massacrados por Bolsonaro e seus aliados das mais diversas formas.
Por essas e outras razões, chamamos os companheiros da CUT a refletirem sobre essa vacilação política, a avançarem no sentido da ruptura com a política de colaboração de classes da esquerda burguesa e pequeno burguesa, cujos resultados são evidentes ao longo dos últimos anos de luta da classe trabalhadora no Brasil e em toda a sua história.