O Conto da Aia é um romance distópico de 1985 da autora canadense Margaret Atwood. O romance descreve uma ditadura cristã militar, uma espécie de bolsonarismo com Malafaias e Damares que, já graça entre nós.
Aqui também a história se repete: a primeira vez como tragédia e, a segunda vez como comédia. No Conto da Aia após um ataque terrorista matar o presidente um movimento fundamentalista de reconstrução cristã autointitulado “Filhos de Jacó” lança um golpe e suspende a Constituição dos Estados Unidos. Na segunda versão farsesca, aqui no Brasil após uma facada fake (o Presidente não morre), contudo, o mesmo regime é implementado após uma fraude eleitoral.
Veja o caso sobre facadas e repressão artística que nos ilustra a mesma ditadura gospel-militar do Conto da Aia: o Ministro Sergio Moro pediu inquérito contra punks de Belém por cartazes anti-Bolsonaro. Ou seja: Ilustrações com Bozo empalado e o presidente vomitando fezes em floresta fizeram com que o ministro da Justiça, Sergio Moro, requisitasse a abertura de inquérito contra quatro artistas de um coletivo de rock de Belém.
Nota-se que os organizadores de um evento de punk chamado Facada Fest, agora são investigados por supostos crimes contra a honra do presidente Jair Bolsonaro, além de apologia ao homicídio. Como se ainda restasse algum resquício de “honra” a esse Presidente.
Membros de bandas como THC, Delinquentes, Filhux Ezkrotuz e produtores do evento, o grupo de artistas foi interrogado nesta quinta-feira (27), pela Polícia Federal, em Belém.
Os três Cartazes da discórdia. Num deles, divulgado para a edição do ano passado, Bolsonaro é representado pelo palhaço Bozo, que é empalado por um lápis. Em outro, o presidente aparece vomitando fezes sobre uma floresta, com um bigode de Hitler, uma cueca com a bandeira americana e uma arma na mão. Um terceiro mostra Bolsonaro esfaqueado na cabeça.
Sobre o Bozo atravessado por um lápis, o ministro destaca um trecho da representação inicial que diz ser a imagem “clara apologia ao atentado criminoso sofrido por Jair Messias Bolsonaro durante a campanha eleitoral, que quase tirou a sua vida”.
O artista se explica: “A gente estava no meio do desmonte da Educação, de problemas com os ministros [Ricardo] Vélez e [Abraham] Weintraub”, diz Magno. “Por isso me deram essa ideia de fazer o lápis, que representa a educação, derrotando essa palhaçada. É por isso que é um palhaço, porque representa essa ignorância.” Para o ilustrador, não há incitação ao crime de homicídio.
O coletivo Facada já usava esse nome desde 2017, quando foi criado. Já Bolsonaro foi vítima da facada durante a campanha eleitoral de 2018. “Queríamos algo simples e roqueiro”, diz Josy Lobato, baterista das bandas Klitores Kaos e THC, fundadora do coletivo e autora do nome Facada. “Não é algo que incite violência. É o meio do rock, do metal, um tipo de comunicação que não leva em consideração essa moral cristã.”
Verdade é que o festival foi suspenso. O festival estava marcado para julho do ano passado —com grupos como Delinquentes, Makina, Surto e Ovo Goro—, mas não aconteceu.
Remarcado para um bar fechado, O Facada Fest 3 não aconteceu de novo. Veio a “dura, numa muito escura viatura” e, “Meia hora antes de começar, acabaram com a festa. Foram conversar com os donos do estabelecimento e constataram que estava vencido um dos alvarás”.
A ditadura gospel-militar é a forma que tomou o fascismo bolsonarista entre nós. A semelhança com a ditadura do Conto da Aia é muito próxima eis que é uma ditadura que projetada, não num futuro longínquo, mas, nos nossos dias. A cultura está condenada tanto quanto a liberdade de expressão num mundo opressivo e distópico que já acontece agora. É preciso ganhar as ruas e derrubar a ditadura que já está aí. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!