Um bando de bárbaros, extremamente violentos e incontroláveis, impossíveis de serem educados e que conhecem a força bruta como único limite para suas ações. É exatamente isso o que pensam todos os ideólogos burgueses sobre a população pobre do Rio de Janeiro e, por extensão, de todo o país. No entanto, a experiência da pandemia de coronavírus está mostrando que a realidade é completamente oposta.
Com a adoção de várias medidas que visam o isolamento social — política do imperialismo para conter uma explosão social em decorrência do total colapso do sistema de saúde —, a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, mais notadamente a mais carniceira do país, sobretudo sob o comando do fascista Wilson Witzel (PSC), reduziu consideravelmente seu efetivo nas ruas. A mesma medida foi tomada pelo comando do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), nacionalmente conhecido pela brutalidade de suas ações.
A redução das operações, no entanto, não levaram a uma crise no que a burguesia chama de Segurança Pública. De acordo com o estudo da Rede de Observatórios da Segurança, houve uma diminuição de 74% nas ações policiais e de 60% nas mortes. Dito em outras palavras com a redução das operações policiais, o número de homicídios caiu drasticamente e de forma indicar uma proporcionalidade direta.
Os dados, por si só, já serviriam para demonstrar que a Polícia Militar não é necessária para a prevenção de crimes. No entanto, as estatísticas revelam muito mais: quanto mais polícia tiver nas ruas, mais pessoas serão assassinadas — em geral, os moradores das periferias. Dito de outra maneira, os bilhões de reais que foram gastos com a Segurança Pública, os fuzis e até tanques de guerra que foram comprados para combater o narcotráfico e toda as declarações tipicamente fascistas do governador carioca só estão contribuindo para matar ainda mais a população pobre do Rio de Janeiro.
Isso, por sua vez, se dá por razões óbvias. O papel da Polícia Militar — e, consequentemente, do seu braço mais sanguinário, o BOPE — não é o de proteger a população, mas sim o de proteger, até as últimas consequências, os interesses da burguesia. Em meio à gravíssima crise sanitária em que o país se encontra, ninguém deve esperar que os policiais entrem em ação para impedir que os funcionários das companhias hidrelétricas venham cortar a energia dos trabalhadores, nem invadir uma fábrica para esbofetear um patrão que se recusa a liberar seu empregado doente. Contudo, é mais do que esperado que os agentes da repressão, como verdadeiros cães de guarda do patrimônio da burguesia, estejam sempre a postos para impedir que o povo se revolte contra o governo, procure expropriar na marra uma farmácia que não abre mão do seu lucro para salvar vidas ou invada um supermercado para não perecer diante a fome.
Nessas condições, ainda mais agora que os dados dão conta da inutilidade da força policial para o bem da própria população, é necessário exigir a dissolução imediata da Polícia Militar. É preciso retirar do Estado o direito de usar a força armada para impor os interesses da burguesia e, inversamente, armar os trabalhadores, como medida fundamentalmente democrática, para que tenham condições de exigir tudo o que diz respeito às suas necessidades.