Foram poucos atos e com muito poucas pessoas, em sua maioria idosos, integrantes de grupos organizados de direita e até elementos reacionários de clube de
motociclistas, como os que se reuniram em frente à FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na Avenida Paulista, ou em Belém do Pará, mas estes aconteceram em algumas dezenas de cidades pelo País afora, no último domingo (dia 15).
Alguns poucos dos manifestantes usavam máscaras. E havia um número reduzido de faixas e cartazes, atacando o reacionário congresso nacional – que ajudou o governo Bolsonaro a aprovar várias medidas de ataque aos trabalhadores como a famigerada reforma da Previdência -, defendendo um novo AI-5 e a intervenção militar, diante de um governo totalmente dominado por militares que ocupam quase todos os cargos principais do Executivo e impõem ao País uma verdadeira ditadura com intervenção nos Estados, incentivo à matança da população diretamente ou por meio de suas “forças auxiliares” como a Polícia Militar, que matou mais de 6 mil pessoas no ano passado. Havia também “homenagens” a ícones da direita como o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, na qual lia “Foda-se o Congresso”.
Em vários casos não faltaram críticas e atritos com os governadores eleitos pela própria direita como parte das eleições fraudulentas que colocaram Bolsonaro no governo, como no caso do Rio de Janeiro, onde um representante do Movimento Brasil Conservador chamou o governador Witzel de traidor e pisou repetidas vezes em uma bandeira com foto do político que comemora publicamente assassinatos de jovens e trabalhadores pela PM; enquanto o carro de som tocava a música tema do filme Tropa de Elite.
Não faltaram bonés e bandeiras dos Estados Unidos, a “pátria amada” de Bolsonaro e de seus seguidores”.
Em meio a um caos na situação econômica e com o País ameaçado de ser desvastado pela epidemia do coronavírus, que seu líder (hoje ameaçado de contágio) anunciou que não passava de uma “fantasia”, uma “invenção da imprensa” etc., a presença nos atos não lembrava nem de longe as coxinhatos convocados pela Globo, nos anos de 2015, que ajudaram a impulsionar o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, por meio de um impeachment fraudulento, sem crimes e provas, evidenciando a decomposição da base bolsonarista, que se torna cada dia mais difícil defender o governo do “mito” diante do fracasso amplo, geral e irrestrito do governo golpista.
Se por todos os lados os atos da direita copiaram o fracasso do seu governo, eles serviram, no entanto, para mostrar a determinação da direita em defender sua política reacionária frente ao avanço da crise no País. E a saída da direita é mais ditadura, mais cortes nos gastos públicos, cerceamento das atividades, apenas da esquerda, mais censura e repressão contra os trabalhadores, mais dinheiro para os bancos, entrega das estatais e de toda a riqueza nacional… uma política que ameaça intensificar a destruição da economia nacional e levar à morte centenas de milhares de brasileiros, inclusive alguns de direita e bolsonoristas.
Em outras palavras, a direita, há muito tempo patrocinada e impulsionada pelos abutres imperialistas e pró-imperialistas que estão lucrando com a desbarrancada da economia nacional e com os ataques contra o povo brasileiro, compreendeu a importância decisiva de não abandonar as ruas de, inclusive, correr algum riscos para defender suas posições reacionárias buscando evitar que se evidencie o enfraquecimento ainda maior do governo, diante – inclusive – dos seus aliados e adversários dentro do regime golpista, que ajudaram a empossar Bolsonaro por conta da falta de alternativas possíveis para derrotar a direita, mas que agora querem “controlar” Bolsonaro.
A conduta desses setores da direita, mesmo tendo seus líderes no governo, se diferencia da política covarde de certos setores da esquerda que adotaram a política de ficar em casa e aguardar pelo desenrolar dos acontecimentos, esperando que o governo o governo vai fazer tudo em seu poder para evitar as mortes. Quando muito essa esquerda, semeia a ilusão de que a esquerda deveria dar conselhos ao governo, cobrar do governo por meios de discursos dos parlamentares ou ações junto ao judiciário e outras instituições do regime. Diante do que, essa esquerda, sob a liderança de suas alas mais reacionárias, como o PCoB e a direita do PT, decidiu desmarcar todo tipo de atividade de mobilização (atos, assembleias e até reuniões partidárias) recolher suas tropas e ordenou a todos a partir das organizações do movimento sindical, estudantil e popular que dirigem, que não saiam de casa, em nome de impedir o contágio.
Diferentemente da direita, a maioria da esquerda desconsidera a realidade de que diante da evolução da situação e da destruição da saúde pública imposta pelos governos da direita golpista, intensificada, a partir do golpe de Estado, da maneira como as coisas estão, o contágio ocorrerá, inclusive de trabalhadores, ativistas e dirigentes que participam (quando ocorrem) de atos e manifestações. Ocorrerá no transporte público lotado e sujo, nos hospitais e postos de saúde que estão a cada dia mais abarrotados, nas fábricas (onde os patrões se recusam a dar licença de saúde para seus funcionários), nas favelas etc. etc. A menos que estas pessoas (como boa parte das direções da esquerda) estejam fora desse mundo real e pretendam se colocar em uma “redoma”, deixando à própria sorte os milhões de trabalhadores e a juventude que essa mesma esquerda diz querer representar.
As minúsculas manifestações de domingo, mostraram a fraqueza da direita, a perda de apoio de Bolsonaro, o crescimento . A debandada da esquerda mostra sua covardia em ir pra cima dessa mesma direita e impor uma derrota definitiva, que sirva para fazer avançar a luta dos trabalhadores em um momento decisivo, o que só seria possível por meio de uma grande mobilização pelo Fora Bolsonaro.
É claro que isso acontece, não pelo receio de contaminação pelo coronavírus, inevitável, mas pela contaminação dessa esquerda pela política de conciliação com setores golpistas, com as quais ela quer formar a “frente ampla”, que não querem absolutamente nenhuma luta real contra o governo Bolsonaro, como declarou um dos presidentes dessa direita, agora denominada de “progressista”, o ex-presidente FHC, que disse não se deve pensar nem mesmo em impeachment de Bolsonaro.
As estimativas apontam para a possibilidade de centenas de milhares de mortos. A extrema direita em crise afirma apoiemos o governo, vamos às ruas para que Bolsonaro aplique mais do mesmo remédio contra o povo, em defesa de nossas posições reacionárias, via a ditadura etc.
A esquerda adota a política de avestruz, de propor que os trabalhadores e a juventude, que vem mostrando um crescente interesse na mobilização, como se viu no carnaval, no 8 de Março etc. fique em casa e acompanhe pela Globo, como Bolsonaro, Dória, Witzel, Zema, Ratinho etc. irão salvar o povo.
Em oposição à essa política, que deixa a classe trabalhadora e todos os explorados à mercê, da ação criminosa dos governos da direita, é preciso intensificar a campanha para que as organizações operárias, populares e democráticas, abandonem a letargia, reajam à situação e se coloquem em estado de emergência para defender a vida da população.
Como assinalado na Nota Oficial, divulgada pelo PCO (14/03/20), “a primeira regra da defesa do povo na crise é: não confiar nos governos e instituições. Eles nem querem, nem têm condições de dar uma saída positiva para a crise do ponto de vista do povo”.
Nesse sentido, é que dirigimos um chamado às organizações de massas dos trabalhadores para que rompam, de forma concreta, com a política de conciliação com a burguesia e de capitulação diante dos governos golpistas e convoquem a mobilização em defesa das reivindicações que representem uma verdadeira alternativa para a maioria do povo brasileiro diante da crise.
Este é o sentido do chamado à Central Única dos Trabalhadores, maior organização de massas do País, no sentido de que convoque imediatamente um grande congresso popular da cidade e do campo para discutir a amplitude da crise, elaborar um programa popular para enfrentá-la e um plano de lutas para a mobilização popular para impor ao governo esse programa, conforme exposto na Nota Oficial do PCO.
Trata-se de pôr em execução uma proposta formulada pelo próprio movimento de luta dos explorados em meio à luta pelo golpe, anos atrás, que foi aprovada pela CUT, MST, Frente Brasil Popular, e que foi sabotada, pela política de ”frente ampla” com os golpistas defendida por setores da esquerda.