Na tarde de ontem (7), chegou, enfim, a notícia que já estava sendo preparada durante meses pela imprensa capitalista: Joe Biden, representante da ala direita do Partido Democrata, obteve a maioria dos delegados nas eleições norte-americanas. Note-se, contudo, que o resultado expresso pela imprensa não é suficiente para garantir integralmente Biden como o sucessor de Donald Trump. A crise do regime é cada vez mais profunda e o presidente norte-americano prometeu ir até a Suprema Corte para contestar a contagem dos votos. Em certa medida, o resultado permanece em aberto.
As eleições deste ano foram marcadas por uma sucessão de manipulações por parte do imperialismo para impedir a reeleição de Trump. Muito antes da disputa propriamente dita, os monopólios que controlam as redes sociais já vinham fechando o cerco contra o presidente, advertindo-o por suas publicações e até mesmo censurado suas páginas. A manipulação chegou a tal ponto que o Twitter passou a recomendar seus usuários que não confiassem nas informações divulgadas por Donald Trump.
As perseguições policiais e jurídicas também ajudaram a preparar a ofensiva do imperialismo contra a candidatura de Trump. Certamente, o ato que melhor simboliza a manipulação das instituições contra a candidatura de Trump é a prisão de Steve Bannon, ex-assessor do presidente, que foi conduzido à delegacia nas vésperas das eleições. Não bastasse todas as perseguições, o imperialismo também lançou mão de uma operação, que talvez seja a mais importante de todas: a chantagem junto à esquerda e aos setores oprimidos para votar em Joe Biden contra o fascismo. Uma chantagem que se baseia apenas na histeria da pequena-burguesia, mas que não tem lastro algum na realidade.
O fato é que nem Joe Biden, nem o Partido Democrata são ferramentas úteis para o combate à extrema-direita. Mais do que isso: a candidatura de Biden representa justamente aquele que é o principal motor do fascismo mundial. Joe Biden é apoiado pela esmagadora maioria dos financistas de Wall Street, pelos bancos, pela indústria armamentista e pelos setores que comandavam o governo Bush. Biden nunca defendeu a mobilização recente dos trabalhadores norte-americanos contra o regime político e contra a Polícia. Na verdade, toda sua trajetória aponta que tanto ele, quanto sua vice, Kamala Harris, são inimigos dos trabalhadores e dos explorados. Biden esteve ao lado de George Bush na formulação do Ato Patriótico, que cassou os direitos políticos dos próprios norte-americanos e que aumentou a intervenção do imperialismo nos demais países, e também na aprovação de leis que levaram ao encarceramento de centenas de milhares de pessoas, a maioria delas negras.
Biden e Harris, inclusive, vêm deixando bastante claro que a sua política é apenas a continuidade da tradição golpista do imperialismo. Isto é, a mesma tradição golpista, militarista, sanguinária e genocida que estabeleceu ditaduras como a de Augusto Pinochet, no Chile, a de Alfredo Stroessner, no Paraguai, bem como a militar brasileira, será seguida pela candidatura democrata. De acordo com suas próprias declarações, Biden irá financiar os golpistas de Cuba para tentar destruir o Estado Operário cubano e irá aprofundar a desestabilização do regime chavista na Venezuela.
Nesse sentido, a eleição de Joe Biden nada tem a ver com uma “vitória da democracia”. Trata-se, portanto, de uma vitória do imperialismo, dos setores responsáveis pela miséria e por inúmeras atrocidades contra os povos de todo o planeta. Por mais que Trump seja uma figura direitista, ele não representa de maneira perfeita os interesses dos monopólios internacionais. Trump conta apenas com o apoio de um setor minoritário da burguesia norte-americana, não tendo a confiança do imperialismo para implementar sua política com eficiência. Tanto é assim que, em vários aspectos, o governo Trump não conseguiu ser tão agressivo quanto o governo anterior, de Barack Obama.
A manipulação gigantesca e vergonhosa do imperialismo para dar a vitória eleitoral a Joe Biden é, portanto, uma tentativa de “colocar a casa em ordem” para que, durante o aprofundamento da crise capitalista, a direita consiga impor uma política ainda mais agressiva em todo o mundo. Isto é, que, com todo o prejuízo que a pandemia de coronavírus deu aos capitalistas, a burguesia passe para uma pilhagem ainda mais intensa contra os trabalhadores. Contudo, é preciso destacar que, mesmo elegendo Biden, o imperialismo teve uma derrota estrondosa.
A derrota está no fato de que, mesmo com tanta manipulação e fraudes, Joe Biden obteve uma vitória apertada sobre Donald Trump. Isto é, que não há um acordo real entre a população e a candidatura de Biden. O que fará com que a política genocida do imperialismo não tenha um apoio popular real. Isso mostra a imensa debilidade do imperialismo, que tem tido dificuldade de prosseguir com seus golpes. Vale lembrar que, tanto na Bolívia, como na Argentina, o imperialismo foi obrigado a chegar a um acordo com os setores mais moderados do movimento nacionalista burguês para impedir uma crise social.
Cabe à esquerda não comemorar a “vitória” de Biden, mas sim aproveitar a fragilidade do regime para intensificar a mobilização dos trabalhadores contra seus inimigos.