Toda a obra do escritor Monteiro Lobato, que faleceu no ano de 1948, encontra-se, desde o início de 2019, sob domínio público. Agora que já se passaram 70 anos da morte do escritor, ninguém precisa pedir qualquer tipo de autorização à sua família para reproduzir os textos de Lobato. No entanto, alguns editores, como Pedro Bandeira, se mostraram dispostos a alterar partes da obra de Monteiro Lobato, retirando e substituindo expressões consideradas “inadequadas”.
O pretexto para reescrever a obra de Monteiro Lobato é o de que o autor seria considerado “racista” quando lido nos dias de hoje. O próprio Pedro Bandeira chegou a dizer que:
No caso de Lobato, quase toda sua linguagem e humor devem ser preservados e foi o que fiz. Mas tenho de mexer um pouquinho em detalhes como os xingamentos da Emília. Na época de Lobato, isso poderia parecer engraçado; hoje, porém, é um absurdo. Sua obra não perderá a qualidade se tirarmos, aqui e ali, xingamentos acachapantes como ‘sua negra beiçuda’.
Não é de hoje que a direita utiliza de pretextos moralistas para censurar aquilo que é de seu interesse, nem que Monteiro Lobato é apresentado como um elemento reacionário. A censura nunca é justificada pelo que ela de fato é – ou seja, a repressão da liberdade de expressão por parte da burguesia que se sente ameaçada -, mas sim por pretextos que supostamente protegeriam o “bem” da sociedade. Foi pelo “bem” que a direita ergueu uma sangrenta ditadura militar, prendeu o maior líder popular do país e devastou países como o Iraque.
Os ataques à memória de Monteiro Lobato, por sua vez, partem do fato de que este autor é um legítimo representante da luta popular contra o imperialismo. Lobato foi um dos principais responsáveis por impulsionar o movimento conhecido como “O Petróleo é Nosso” e por retratar a vida do povo brasileiro, como no caso do personagem Jeca Tatu. A acusação de que Lobato seria “racista” serve justamente para que o imperialismo tente destruir a produção cultural brasileira.
A alteração de qualquer trecho da obra de Lobato, bem como de qualquer outro autor, é uma forma de censura – censura essa que se torna cada vez mais comum após o golpe de 2016. Recentemente, o ministro fascista Sérgio Moro abriu um inquérito contra um curta-metragem por “apologia à violência” simplesmente porque narrava a história fictícia de um casal de guerrilheiros que teria sequestrado a filha de um ministro com nome semelhante ao de Moro. É preciso, portanto, denunciar a tentativa de destruição da obra de Lobato e lutar para impedir que a direita avance com suas tentativas de intimidar e liquidar a liberdade de expressão do povo brasileiro.