É pública e notória a concepção do PCO sobre o futebol e nossa defesa intransigente do futebol brasileiro. Para nós, tal posição política e ideológica é de extrema-importância como são todas as questões da cultura. Porém, o fato de serem importantes não significa que colocamos tais concepções acima da política geral.
O jornalista da Folha de S. Paulo, Juca Kfouri, nas questões de futebol, coleciona posições bastante conservadoras, até mesmo reacionárias, que se alinham ao órgão da imprensa golpista para o qual escreve. Kfouri defende, por exemplo, a transformação dos clubes brasileiros em clube-empresa. Para ele, o clube-empresa é uma maravilha tão grande quanto outra lei que ele elogia, a chamada “Lei Pelé”, que deu maior liberdade para os jogadores na questão do passe. Na prática, tal “liberdade” foi dada para os empresários dos jogadores em detrimento dos clubes, o que facilitou a penetração do capital estrangeiro nas negoiações dos jogadores.
Tanto a “Lei Pelé” como o clube-empresa (a aprovação está prestes a ocorrer no Congresso) são leis neoliberais para o futebol, ou seja, são leis a serviço dos interesses imperialistas no futebol. Bom, mas deixemos de lado esse assunto, que é tema para outros artigos.
Ainda na mesma linha, em várias oportunidades, em seu blog na Folha/UOL, o jornalista elogia modelos do futebol europeu que para ele são exemplos de evolução do futebol. Na realidade, nada mais é do que uma campanha ideológica pró-imperialista contra o futebol brasileiro.
Juca Kfouri é considerado uma personalidade de esquerda, embora suas concepções sobre o futebol – sua especialidade no jornalismo – sejam as mais reacionárias possíveis.
Até aí, poderíamos criticar as concepções de Kfouri sobre o futebol, mas sempre levando em conta se tratar de uma polêmica com alguém da esquerda, ou seja, que do ponto de vista da política geral teria posições que, embora não sejam sempre corretas, não seriam exatamente reacionárias.
No entanto, ao me deparar com o artigo “Cova América e Eurocovid chegam na hora da decisão com promessa de bons jogos”, publicado na edição impressa da golpista Folha de S. Paulo no dia 4 de julho, percebo que a posição reacionária de Kfouri sobre o futebol é coerente com suas posições políticas gerais.
Ao final do artigo, que deveria ser sobre a Copa América e a Eurocopa, o colunista não perde a oportunidade de se rastejar diante da posição de seu patrão. Sim, porque ele poderia não ter dito nada sobre as manifestações do dia anterior e se contentado em falar apenas de futebol. Mas Kfouri é um funcionário da imprensa golpista, diga-se de passagem um tradicional funcionário de vários órgãos dessa imprensa venal, canalha e safada, incluindo aí a rede Globo e a editora Abril, da revista Veja.
Então, para agradar seu patrão da imprensa golpista, o “esquerdista” Kfouri se transforma em José Luiz Datena. Segundo ele, “bandidos do PCO agrediram manifestantes do PSDB. Quem são? São Pobres Coitados Opressores.” Uma acusação de tipo criminal, tipicamente fascista contra os militante do PCO. Exatamente o mesmo método fascista, para os mais antigos como ele, malufista, de transformar atos políticos em ações criminosas.
Mas não é só isso. Segundo as palavras do funcionário dos bandidos da imprensa golpista, os militantes do PCO seriam bandidos e opressores porque teriam agredidos pobres “manifestantes do PSDB”. Aqui se revela mais uma triste realidade: ser funcionário da Folha de S. Paulo te transforma quase que automaticamente em funcionário do próprio PSDB.
Nem vale a pena repetir aqui a obviedade de que o PSDB não tem manifestantes nem militantes. Trata-se de um partido burguês que controla grandes máquinas para as eleições, máquinas como por exemplo a Folha de S. Paulo. Mas vamos direto aos argumentos:
Os militantes do PCO seriam “bandidos” e “pobres coitados” que teriam, segundo a historia fantasiosa de Kfouri – que é a mesma historia calunisosa repetida por toda a direita – oprimido o PSDB. Sim, meus amigos, os pobres coitados do PCO tiveram a capacidade de oprimir um partido que já governou o Brasil por dois mandatos, que domina o governo de São Paulo como se fosse o seu reinado há décadas e que, portanto, controla a máquina repressiva desse estado.
As acusações à la Datena não param por aí. Kfouri ataca os “quebra-quebras” nas manifestações e pergunta “quem são” os autores desses atos. A resposta, obviamente só pode ser respondida pela Polícia Militar de São Paulo, essa sim, especializada em oprimir a população e reprimir manifestações legítimas do povo. Afinal, são bandidos e, já dizia a direita fascista, “bandido bom é bandido morto”, ou preso, ou violentamente reprimido.
Para terminar o artigo e sua aula de política reacionária, Kfouri revela por que ataca o PCO e os manifestantes. Ele é partidário da frente ampla, “até doer”, segundo suas palavras. Mais uma vez, Kfouri mostra sua sintonia com seus patrões da Folha, que depois de ter contribuído para o golpe de Estado, com a prisão de Lula e ajudado a eleger Bolsonaro, agora quer uma frente ampla para eleger uma terceira via da direita, do golpe, do neoliberalismo.
José Luiz Datena, assim como Kfouri, era jornalista esportivo, e assim como Kfouri, era esquerdista. Datena foi filiado ao PT e teria sido demitido da Globo de Ribeirão Preto por ter apresentado um comício de Lula na cidade. Passaram-se décadas e todo mundo sabe quem é Datena hoje.
Coindência ou não, ambos, ao sairem do jornalismo esportivo para se aventurar na política, acabaram por defender posições políticas reacionárias.
E não podemos deixar de dizer, por fim, que Juca Kfouri, ao prestar o papel de defensor da política – essa sim – bandida da Folha de S. Paulo, não passa de um jornalista pobre coitado.