Apesar de o título do artigo de hoje não ter a ver com internet ou com algum de seus diversos sites indigestos, explica-se porque sempre que se fala em “site”, pensa-se em “sites” de internet — como a “Dark Web”, por exemplo, que é uma internet obscura. Neste texto, o que são obscuros são os sítios, prisões secretas controladas pelos Estados Unidos, onde se praticam inúmeros crimes contra a humanidade há décadas. Enquanto você ler este artigo, milhares de pessoas estão sendo torturadas pela pela CIA em vários países ao redor do mundo.
Marx minutou no primeiro parágrafo do livro 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1851-1852) que Hegel afirmou: “todos os grandes fatos e personagens da história universal aparecem como que duas vezes”. Marx acrescentou ao escrito de Hegel que “a história universal aparece uma vez como tragédia e a outra como farsa”. Faz-se menção a essa obra de Marx por retratar bem a analogia desenvolvida aqui entre os “Black Sites” e os campos de concentração nazistas.
O atual texto trata dos “Black Sites”; Em tradução literal para o português, as palavras significam “sítio negro”. Determinados escritores também usam a expressão sítio obscuro, mas a acepção que parece mais apropriada é a de prisões secretas. Secretas, “pero no mucho”.
Então, o que são as “Black Sites”? São centros de detenções clandestinas da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) e agências militares terceirizadas pelo governo norte-americano, onde são executados planos secretos de “defesa” militar do Tio Sam.
Caro leitor, previne-se que não há no presente artigo qualquer teoria conspiratória ou algo similar, apresenta-se fatos passíveis de pesquisa e comprovação por aqueles que se interessarem por aprofundar o conhecimento acerca da temática.
Após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991, havia a necessidade, por parte da “triunfante” potência hegemônica, a partir desse momento, de inventar novas guerras e inimigos para manter em plena atividade o complexo industrial militar que no modo de produção capitalista é uma fábrica de fazer dinheiro.
Desde o final da segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e seus aliados sempre perseguiram comunistas, socialistas, simpatizantes da esquerda, árabes, latino-americanos etc. Essa prática é imperativa para eles sustentarem seu complexo financeiro militar. Sendo assim, as “Black Sites” que já existiam há décadas começam a aumentar substancialmente.
Porém, raramente um presidente em exercício admite a existência dessas prisões. Aliás, recentemente dois presidentes republicanos o fizeram. O primeiro deles, o ex-presidente George W.Bush, ou ”baby” Bush como também é conhecido, durante um discurso no dia 6 de setembro de 2006, reconheceu a existência das “Black Sites”.
Para W. Bush “são prisões utilizadas pela CIA para punir terroristas”. Servem também, para executar a transferência de aprisionados para a prisão de Guantánamo, em Cuba. Já o imperialismo possui navios “Black Sites” Sobre isso: “foi necessária a transferência destes indivíduos para um ambiente onde eles podem ser mantidos secretamente, interrogados por especialistas e, quando apropriado, processados por atos de terrorismo”, declarou o então mandatário.
O segundo ex-presidente republicano a tocar no assunto foi Donald Trump, em uma de suas primeiras entrevistas após assumir o cargo, concedida à ABC News. De forma cínica Trump trouxe à baila, na referida entrevista, a probabilidade de serem reintroduzidas – ora, para reintroduzir algo é necessário que em algum momento tenha sido extinto – técnicas de tortura como maneira de erradicar o terrorismo e tornar o mundo mais livre e democrático.
Assim sendo, as “Black Sites” são cadeias controladas pelo Pentágono e algumas empresas privadas que atuam nas prisões e custam mais de 100 milhões de dólares anuais à Casa Branca. Dinheiro suficiente, diga-se de passagem, para acabar com a fome de muitíssimas pessoas.
Um veículo de imprensa que tratou do assunto publicamente, causando estardalhaço, foi o The Washington Post, no final de 2005. Em seguida grupos defensores dos direitos humanos começaram a investigar por conta própria o intricado assunto para os poderes oficiais.
Avalia-se que há mais de 50 “Black Sites” difundidos pelo mundo, em 29 países e que os EUA tenham mais de 20 navios ao estilo das prisões secretas desde o 11 de setembro de 2001. De acordo com o “Human Rights Watch” os Estados Unidos possuem a maior população carcerária do mundo, com 3 milhões de detentos.
O interessante é que essa ONG não cita os possíveis milhares de presos extraterritoriais da CIA, em Guantánamo são quase 200 prisioneiros. Some-se as outras “Black Sites” em solo e mar e temos uma ideia do número de pessoas que sofrem nas mãos dos genocidas da CIA e Empresas terceirizadas causadoras de brutais sofrimentos físicos e psicológicos. Há ainda o sadismo que a CIA e seus comparsas milicianos praticam em sujeitos que na maioria das vezes nem sabem o motivo pelo qual estão presos.
Uma coisa é certa, as prisões são ilegais, ferem todos os direitos imagináveis e os presos jamais terão um julgamento. Até porque esses “terroristas” são culpados, em grande medida, de defenderem seu país, sua família, sua casa, sua honra. Isso é crime capital nas cabeças alucinadas do Pentágono, da Casa Branca, dos psicólogos que fazem as torturas experimentais A situação é de causar calafrios até nos bolsonaristas mais marombados.
Os principais países que compactuam com as prisões obscuras em seus territórios são os grandes irmãos dos Estados Unidos da América: Israel, Inglaterra, Polônia, Arábia Saudita e outros. Em sua administração o ex-presidente Barack Obama prometeu acabar com todas as “Black Sites” até o final de seu segundo mandato e a CIA anunciou que não iria mais utilizar “técnicas interrogatórias abusivas” contra os prisioneiros. O que eles prometeram, na verdade, foi acabar com as torturas a moda Delegado Sérgio Fleury, para fazer a relação com um sanguinário covarde brasileiro.
Acontece que Obama não só não acabou com essas prisões, como em seu governo elas aumentaram de número. Na política do centro da américa do Norte o Partido Democrata é ditatorial e o Partido Republicano, idem. Os nomes são enfeites. Só uma pessoa em estágio de delírio total pode pensar que o capitalismo é um sistema em que se respeitem os mínimos direitos civis, sociais e políticos.
Dentre as formas de tortura empregadas que constam em diversos relatórios de parlamentares e grupos civis organizados aparecem a violência física, o afogamento, a privação de sono, estupros. Qualquer semelhança com a ditadura militar brasileira (1964-1985) não é acaso, porque mudam os jogadores, porém os técnicos são os mesmos.
O atual Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, um homem da CIA, afirmou em seu recente discurso na Assembleia geral da ONU que “a dolorida ferroada do terrorismo é real”. Dá a impressão de que ao não citar países ou o Talibã, Biden admite que possui Phd não no combate, mas sim na prática de terrorismo.
A vice-Presidente de Biden, Kamala Harris, não fica atrás quando se trata de perversidade: faz 7 meses que ela vem reabrindo centros de detenção para menores imigrantes. Prisões infantis, devem ter caráter preventivo, mas esse é um assunto para outro momento.
Retomando, as táticas recorrentes para amedrontar pessoas que denunciavam e denunciam esses crimes contra a humanidade, até hoje, são de 2 ordens, uma ideológica e outra metodológica. O então Presidente Ronald Reagan incutiu em parte da sociedade norte-americana um sentimento de intransigência anticomunista e antissoviética, que atualmente se manifesta contra russos, chineses, latino-americanos, árabes etc. Ou seja, inimigos são todos que não se subordinarem geopoliticamente aos Estados Unidos e sua “cultura” degenerada.
Isso toma forma no governo Ronald Reagan (1981-1989) com o pretexto de expulsarem os soviéticos do Afeganistão, país que a URSS ocupava desde 1979. Nas décadas de 70 e 80 do século passado, os norte-americanos começaram a se infiltrar em escolas onde jovens árabes iam estudar o alcorão para “incentivar” que esses meninos se insuflassem contra a invasão soviética. Parte dos afegãos mais ortodoxos não concordaram com a ideia, pois quem conhece o Alcorão sabe que é um livro sagrado que prega a paz entre as pessoas, mas discordar do exército estadunidense sem poderio bélico é igual a um cidadão de 60 quilos querer sair no soco com o Mike Tyson. Por fim, a retirada da URSS do Afeganistão terminou em fevereiro de 1989.
A CIA instrumentalizou e ensinou táticas de guerra para combatentes afegãos expulsarem a URSS de seu país. Um dos líderes desses combatentes era Osama Bin Laden, a relação tempo-espaço as vezes é irônica, não?
As denúncias acerca das prisões extraterritoriais estão abalizadas em uma comissão do senado americano, desde 2008, que aborda as torturas praticadas pela CIA e empresas terceirizadas contra seus prisioneiros, a maior parte desses documentos são de domínio público. Haja vista que o ex-agente da CIA Edward Snowden vazou documentos sobre as “Black Sites” em 2013.
Adjacente a uma imensidão de documentos acerca das condutas nefastas de espionagem, golpes de Estado e outras ações que ajudam na tarefa humanitária de promoção da liberdade e da democracia promovida pelos Estados Unidos ao redor da Terra. O jornalista Glenn Grenwald e a cineasta Laura Oitras receberam esses documentos de Snowden e os revelaram ao mundo, pelo menos parcelas do que lhes foi repassado.
Robert Woolsey Jr. Figura importante do Partido Democrata, que ocupou o cargo, dentre muitos outros ao longo da vida pública, de diretor da Cia entre 1993 e 1995 sugeriu, em uma entrevista à CNN uma pena branda e oportuna –segundo ele– a Edward Snowden por espionagem: “Ele deve ser enforcado pelo pescoço até morrer”. Por essa afirmação pode-se ver o nível de civilidade dos cidadãos do Pentágono.
Na época desses acontecimentos, governantes como os Presidentes Nicolás Maduro da Venezuela, Vladimir Putin da Rússia e o hoje ex-Presidente Evo Morales da Bolívia ofereceram asilo político a Snowden. Desde julho de 2013 e até os dias atuais Snowden está asilado na Rússia.
Um questionamento crucial é, o que os Estados Unidos irão fazer com os “terroristas” enjaulados e torturados nas “Black Sites” após a acachapante derrota para o talibã e seu povo no Afeganistão?
Pelo que a história mostra, a indústria bélica estadunidense necessita de guerras e pretextos para manter sua dominação sobre o mundo. Embora, valha lembrar a alusão da obra de Marx no começo do texto que “a história se repete”, por essa perspectiva como todos os impérios anteriores o imperialismo dos Estados Unidos vai inevitavelmente ser abatido, mais cedo ou mais tarde.
Não há diferenças entre as “Black Sites” e Auschwitz, entre a CIA e a Gestapo, ou entre os Governos dos Estados Unidos da América e a Alemanha nazista de Hitler, no entanto não se conseguiu descobrir nenhuma diferença substancial metodológica ou ideológica entre as estruturas de poder referidas acima.
Finalmente, se conclui que o complexo militar dos Estados Unidos é o grupo terrorista mais poderoso no mundo.