A guarda civil de Araraquara, município que tem como prefeito Edinho Silva, do PT, prendeu nessa segunda-feira uma moradora da cidade, que cometeu o “crime” de se recusar a suspender uma caminhada matinal em uma praça da cidade.
O motivo da prisão, segundo a polícia, é um decreto da prefeitura anunciado pelo prefeito do PT em vídeo que circula no facebook. Entre outros pontos, o decreto, publicado em nome do combate à epidemia do coronavírus, impede as pessoas de circularem em praças públicas, suspende o vale transporte de idosos, permite a cobrança de multas para as pessoas que descumprirem a quarentena e estejam em aglomerações e suspenderá o alvará de pessoas jurídicas caso mantenham seus estabelecimentos em funcionamento.
Nas palavras do próprio prefeito, “já que muita gente não tem atendido aos nossos apelos, nós vamos endurecer as medidas”, sob a alegação de que “a quarentena se mostra como único método eficaz para enfrentar o coronavírus”.
Em primeiro lugar, a afirmação é falsa. A quarentena por si, no máximo consegue frear o ritmo da propagação da doença e isso para setores da classe média e a burguesia que têm condições de efetivamente permanecer em isolamento. Para a esmagadora maioria da população das periferias da cidade essa condição é absolutamente impossível. São pessoas que vivem amontoadas em habitações sem as mínimas condições de isolamento. A totalidade ou quase isso, inclusive, não tendo como deixar de trabalhar, sob o risco de morrer de fome, usar o transporte público e retornar ao final do dia para conviver com suas famílias em verdadeiras gaiolas humanas, isso sem contar as moradias que sequer são atendidas por rede de esgoto.
Está mais do que comprovado que a eficácia do isolamento só existe se estiver acompanhada de uma política pública de saúde que consiga, de início, promover testes em massa para a detecção da contaminação e com isso separar os doentes dos sãos. Nem falar aqui, as condições nacionais de absoluta ausência de uma infraestrutura mínima de saúde, com leitos hospitalares, ventiladores mecânicos, disponibilização em massa de segurança mínima como o álcool gel, as máscaras e as luvas.
Diante dessa realidade e até onde se saiba Araraquara está no Brasil, a quem de fato atende as medidas de repressão adotadas pelo prefeito petista? De imediato, é evidente que se trata da mesma política adotada pelos “anti bolsonaristas” de extrema-direita, como Witzel, Ibaneis e os psdbistas de da capital e do governo de São Paulo, respectivamente, Covas e Dória.
Os dois últimos acabam de promover uma cena semelhante ao holocausto, promovendo o “saneamento” do centro de São Paulo, fechando os centros de atendimento que existiam no centro da capital e recolhendo na marra os viciados em drogas em ônibus abarrotados, sabe-se lá para onde. Foi, ainda, Dória que impôs na justiça (deles) que os trabalhadores do metrô, independentemente, de fazerem parte do grupo de risco, fossem obrigados a trabalhar.
Por detrás do suposto combate à epidemia, a política da prefeitura de Araraquara não é mais do que uma política de demagogia com os setores mais conservadores da classe média privilegiada. É uma política de tipo eleitoral, assim como a adotada por Dória e Covas. É o fazer de conta que está se fazendo alguma coisa, quando de fato a população está à mercê da sua própria sorte.
Caso fosse apenas isso, já seria muito grave. Significa fazer a aliança com a direita e a extrema-direita brasileira e na verdade, entregar a elas, a resolução do verdadeira hecatombe que se avizinha no País. É a política de frente ampla com o que há de mais podre na política brasileira.
Mas o que poderia ser mais grave do que isso e sem sombra de dúvidas essa condição já é gravíssima? É a de abrir as portas para os golpistas de 2016 avançarem no golpe e criar as condições para fechar mais ainda o regime político com a repressão das revoltas populares que inevitavelmente vão ocorrer, como resposta à absoluta consciência que os golpistas têm em transferir a conta da crise econômica, aprofundada pela epidemia, sobre as costas dos explorados.