Com o avanço no número de contágios e óbitos causados pelo novo coronavírus, vários estados e municípios do país começam a endurecer as medidas restritivas de isolamento social e passaram a decretar o chamado “lockdown”, uma espécie de estado de sítio.
Como o Diário Causa Operária vem denunciando reiteradas vezes, o “lockdown” não deixa de ser uma espécie de estado de sítio, pois permite o controle e a repressão do estado, através da polícia, da população de uma maneira totalmente antidemocrática.
No estado do Pará, o “lockdown” começou a no dia 7 do mês de maio. Previsto para durar 10 dias, foi prorrogado por mais uma semana e terminou no último domingo (24). As medidas vigoraram na capital, Belém, e mais nove municípios. Segundo a determinação, apenas serviços essenciais, como saúde e alimentação, poderiam seguir em funcionamento.
No entanto, estranhamente, o trabalho das empregadas domésticas foi incluído na categoria de serviços essenciais. A justificativa, segundo o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho (PSDB) é a de que “tem pessoas que precisam, pela necessidade de trabalho essencial, ter alguém em casa. Uma médica ou um médico, por exemplo, precisam de alguém que ajude em casa”. Esse é mais um dos tantos exemplos que denunciam que as medidas de distanciamento social, sejam elas mais ou menos restritivas, beneficiam apenas as classes mais privilegiadas. O pobre trabalhador é obrigado a continuar sua lida diária, completamente exposto ao vírus, no trabalho, no transporte público e nas comunidades onde vivem, sem ter direito a nenhuma proteção por parte do estado.
Em reportagem da página Alma Preta da internet, filhas de empregadas domésticas denunciam o drama que suas mães, obrigadas a trabalharem em casas de família, têm vivido durante pandemia.
Uma estudante relata que a mãe, idosa de 65 anos, vai a pé para o trabalho para evitar a exposição ao coronavírus dentro dos ônibus. “Como ela não tem carteira assinada, é muito difícil cobrar que os direitos sejam respeitados. Me sinto de mãos atadas, e contava com esse decreto para que ela estivesse respaldada para não retornar”, desabafa.
Outra relata que a mãe está trabalhando em uma casa em que vários moradores estão em quarentena por suspeita de Covid-19. “A primeira a ficar doente foi a neta do patrão que teve contato com uma pessoa confirmada, no trabalho. Depois foi a mãe dela e a filha, e por último, o patrão. Eu perguntei como ela está se sentindo, disse que sentiu uma febre à noite mediana e está tossindo muito. Confesso que estou preocupada”.
Sem o investimento federal e estadual necessário para conter a pandemia que se alastra descontroladamente não só no estado do Pará, mas em todo o território nacional, o sistema de saúde já começa a colapsar diante da crise e os governadores estaduais lançam mão de medidas autoritárias contra o povo que continua sendo obrigado a trabalhar.
Não providenciam pessoal e materiais médicos para atender a população: não há número suficiente de leitos, nem nos ambulatórios e muito menos nas UTIs, não há respiradores, não há materiais de proteção adequados nem mesmo para os profissionais de saúde que continuam se contaminando, adoecendo e morrendo e não há testes. O Brasil é um dos países que menos testa seus cidadãos. Entre os 27 países que contavam com mais de 20 mil casos confirmados de contaminação no dia 10 de maio, o Brasil ocupava o 24º lugar, com 1597 testes por milhão de habitantes, ficando na frente apenas do Paquistão, Índia e México (https://ciis.fmrp.usp.br/covid19/analise-brasil-e-mundo-testes/).
Como sempre, em momentos de crise, no sistema capitalista, quem “paga o pato” é a classe trabalhadora pobre.