Semanas depois de a equipe econômica do governo Jair Bolsonaro “profetizar” um crescimento de 2,4% para o PIB em 2020, economistas dos bancos norte americanos Goldman Sachs e JPMorgan informaram, na quarta-feira, esperar recessão para a economia brasileira, de -0,9%, acrescentando que as dinâmicas internas e externas pioraram, o que torna a recessão, inevitável.
A situação interna em questão já vinha se desenhando desde o final do ano passado. Mesmo em um período em que normalmente a situação apresenta ligeira melhora em função das festividades e do apelo turístico do carnaval, a atividade econômica revelou uma tendência à deterioração em aspectos importantes tais como o nível de emprego formal, o rendimento médio dos salários e a acentuada queda na produção industrial davam o tom de um ano muito mais turbulento para a economia do que 2019.
Se internamente as contradições do regime aliado ao desinteresse se mostraram fatores de crise enorme, no cenário externo as condições tampouco eram melhores. O crescimento da dívida global desde a crise de 2008, oquando estouro de uma bolha foi solucionado, basicamente, criando-se outra ainda mais frágil contribuíram enormemente para uma acentuada pressão sobre a economia brasileira. O segundo semestre de 2019 assistiu a uma fuga de capitais da ordem de 44,7 bilhões de reais, e isso em meio à aprovação da reforma da Previdência que, em tese ao menos, garantiria aos especuladores internacionais que o Brasil teria condições de sustentar a rapina neoliberal por longos anos, mesmo que as reservas internacionais de mais de 300 bilhões de dólares fosse queimada antes do tempo. A fuga de dólares era o recorde até que no primeiro trimestre de 2020 a cifra atingiu a impressionante marca de 44,8 bilhões de reais, um forte sintoma da profunda desconfiança dos banqueiros imperialistas em relação à capacidade do governo em enfrentar o que estava a caminho. Aí veio o coronavírus.
Colocando países inteiros sob quarentena, o coronavírus no primeiro momento ampliou enormemente a crise, que já vinha dando sinais de que iria explodir a qualquer momento, ao paralisar completamente a China, de onde saem insumos industriais e produtos de consumo que abastecem grande parte do mercado mundial. A paralisia da China já causava apreensão para o risco do desabastecimento mas não era o único problema. Se propagando com velocidade impressionante enquanto provocava sucessivos recordes de quedas na bolsa de valores, a crise advinda com o coronavírus fez explodir a desvalorização cambial, que levou o real ao seu patamar mais baixo em relação ao dólar desde que o nascimento da moeda, enquanto acelerava a queima de dólares da reserva para manter o câmbio em patamares menos dramáticos, provocando dificuldades ainda maiores na capacidade do governo em superar a crise e promover o crescimento econômico necessário para estabilizar o regime.
Diante desse quadro, já é projetado para o primeiro trimestre de 2020 uma retração na economia de -0,2%, cumpre lembrar que estamos falando de um período anterior a explosão da crise do coronavírus. Se é que estamos na explosão ou apenas no começo da mesma. Mas depois de uma expansão de míseros 0,5% no último trimestre, com alta do dólar, da inflação e do desemprego, os dramas de uma população em vertiginoso processo de empobrecimento tende a produzir uma série de turbulências para o ano cujo primeiro trimestre está prestes a se encerrar.