No último dia 21 de dezembro de 2025, o portal Esquerda Online publicou o artigo Venezuela entre a crise e a invasão, assinado por Mau Baiocco. O texto é publicado no momento em que os EUA posicionaram o porta-aviões USS Gerald R. Ford no Caribe, liderando uma frota de 10 mil soldados sob o pretexto de combate ao narcotráfico. No entanto, o que se lê nas linhas do articulista não é um chamado à resistência incondicional, mas uma análise “equilibrada” que, na prática, funciona como a ala esquerda da política de “mudança de regime” de Washington.
A primeira e mais grave desonestidade do texto é a tentativa de pintar o governo de Nicolás Maduro como um regime isolado e em “baixa de mobilização popular”. Baiocco ignora deliberadamente a realidade material da Venezuela hoje: o chavismo está em pé de guerra. As campanhas de recrutamento militar e o fortalecimento das Milícias Nacionais Bolivarianas, que já contam com mais de 4,5 milhões de combatentes voluntários, são um sucesso retumbante. Negar as imensas manifestações de rua que ocupam Caracas semanalmente, onde o povo pobre deixa claro que não aceitará a bota ianque, é um crime contra a verdade. O autor prefere o silêncio sobre a força do povo para justificar sua tese de um “autoritarismo” que teria esvaziado a revolução. O que ele chama de falta de democracia é, na verdade, a recusa do povo venezuelano em entregar o seu destino à oposição golpista de María Corina Machado.
No campo econômico, o artigo do Esquerda Online é de um cinismo maior ainda. Baiocco culpa o “modelo extrativista” e a “má gestão” pela crise, tratando as sanções como um detalhe. Vamos aos dados que o autor esconde: a Venezuela sofreu um encolhimento de 75% do seu PIB devido a um bloqueio criminoso que já impôs mais de 900 sanções ilegais. O confisco da CITGO pelos EUA representou o roubo de um ativo de US$8 bilhões, enquanto o Reino Unido mantém sequestrado US$1 bilhão em ouro do povo venezuelano. Falar em crise sem colocar o roubo pirata no centro é absurdo. As famílias venezuelanas enfrentam dificuldades não por falta de “planejamento socialista”, mas porque o país foi proibido de comercializar seu petróleo, que responde por 95% das divisas. Mesmo assim, a economia venezuelana cresceu 4% em 2024, mostrando uma resiliência que a pequena burguesia do PSOL insiste em ignorar para pintar um quadro de terra arrasada.
A capitulação de Baiocco atinge o ápice ao validar a farsa eleitoral da extrema direita. Ele trata as “atas” fabricadas pela oposição, e reconhecidas pelos EUA como o “Guaidó 2.0”, como algo legítimo, enquanto desqualifica as instituições soberanas da Venezuela. É a esquerda que pede para o imperialismo fiscalizar o voto alheio. O autor esquece que Edmundo González e Corina Machado não são “centristas”, mas agentes que pedem abertamente a invasão estrangeira e o bombardeio do próprio país. Ao adotar essa política, o Esquerda Online torna-se o porta-voz “cheiroso” de uma política que visa transformar a Venezuela em uma nova Líbia ou Iraque, onde a “democracia” chega sob a forma de mísseis Tomahawk.
A tentativa de teorizar uma “nova face do imperialismo” baseada em “gestão de populações” é apenas um academicismo de gabinete para desviar o foco da luta de classes. Trump não envia 10 mil soldados ao Caribe para gerir imigrantes; ele os envia para capturar as maiores reservas de petróleo do mundo (300 bilhões de barris). O autor tenta transformar uma guerra colonial clássica em um debate de identidade, paralisando a militância com conceitos abstratos enquanto o inimigo real prepara o desembarque. Como ensinou Leon Trótski, a defesa de um país oprimido contra o agressor imperialista é obrigatória e incondicional, independente de quem seja o governo. Ao condicionar seu apoio a uma “reforma democrática”, o Esquerda Online se posiciona objetivamente no campo do inimigo.
Em última instância, o artigo de Mau Baiocco é um detrito político porque prega o desarmamento moral diante da invasão. O chavismo, com todos os seus limites e contradições, é a barreira material que impede o avanço do fascismo regional liderado pelos EUA. Negar o sucesso da mobilização militar popular e a resiliência do Estado venezuelano sob fogo é trabalhar para a desmoralização das forças democráticas em todo o continente. A soberania da Venezuela é a nossa própria soberania. Enquanto o Esquerda Online se perde em teorias de gabinete, o povo venezuelano, armado e consciente, prepara-se para transformar o Caribe no Vietnã do imperialismo.





