No dia 28 de dezembro de 2025, o portal Brasil 247 publicou o artigo E o Sistema resolveu de novo ‘sanear o Brasil’, desta vez começando pelo STF, assinado por Hildegard Angel. A autora tenta transformar a crise envolvendo o ministro Alexandre de Moraes em uma reedição romântica do “golpismo histórico”. Para Hildegard, o problema não são os indícios de corrupção ou o tráfico de influência, mas a “falta de classe” de quem ousa questionar a “competência jurídica” de um magistrado que ela considera impecável.
A argumentação de Hildegard começa com uma indignação quase caricata: ela lamenta que, no 8 de janeiro, pintaram a estátua da Justiça com um “batom de segunda”. Enquanto ela chora pelo mármore e pela maquiagem barata, o povo brasileiro é esmagado por uma justiça “de luxo”. É, finalmente, uma defesa do tratamento bárbaro dado por Moraes a Débora Rodrigues, a mulher do “batom de segunda”.
O que Hildegard chama de “rigor” de Moraes é, na verdade, o arbítrio institucionalizado. Ela tenta transformar o autoritarismo do ministro em uma virtude técnica, ignorando que esse mesmo “rigor” nunca é aplicado contra os juros abusivos ou contra o sistema financeiro que drena a riqueza do País. Moraes não é um “guardião da democracia”, é um funcionário público de altíssimo escalão que agora, diante de um contrato de sua esposa com o Banco Master, se recusa a dar explicações sobre a promiscuidade entre sua toga e os interesses bancários.
A autora ainda tenta igualar Moraes e figuras como Getúlio Vargas e João Goulart. Getúlio e Jango foram alvos do grande capital porque iam contra os interesses do imperialismo. Alexandre de Moraes, ao contrário, é um homem do sistema, fruto direto do governo golpista de Michel Temer — aquele que iniciou a destruição da CLT com a reforma trabalhista de 2017! Moraes é um político de direita, ex-filiado ao PSDB, cuja trajetória é marcada pela repressão violenta a movimentos sociais quando era Secretário de Segurança em São Paulo. Colocar o “xerife do Banco Master” na mesma prateleira de Jango chega a ser uma ofensa àqueles que lutaram minimamente em defesa dos interesses dos trabalhadores.
Sobre a comparação com a Lava Jato, é preciso ser preciso. Na época da perseguição a Lula, o que vimos foi uma operação política orquestrada pelo imperialismo. O ex-presidente foi condenado por um “triplex” que nunca foi dele e por “atos indeterminados”, em um processo onde o juiz orientava o Ministério Público pelo Telegram. Naquela época, a injustiça contra um cidadão prejudicava o País inteiro porque destruía o devido processo legal para fins eleitorais. No caso de Moraes, a situação é o oposto. Não estamos diante de uma perseguição sem provas, mas sim de uma denúncia com indícios fortíssimos e uma prova documental contundente: o contrato milionário do escritório de Viviane Barci de Moraes com o Banco Master, cujos interesses orbitam as decisões do marido no STF. A Globo agora descarta o “serviçal” Moraes não por um surto ético, mas porque ele já cumpriu sua função de tirar Bolsonaro de 2026 e seu acúmulo de poder passou a incomodar as outras frações da burguesia.
Por fim, Hildegard Angel recorre ao chantagismo eleitoral, pedindo que a militância aceite o “balcão de negócios” da toga em nome de uma suposta “primavera” que teria voltado com Lula. Que primavera é essa? Para o trabalhador, o cenário é de inverno permanente. Dados da economia real mostram que o endividamento das famílias brasileiras atingiu 77,8% no último período, com a inadimplência batendo nos 12%. O salário mínimo, apesar da propaganda, segue sendo devorado pela inflação dos alimentos: a cesta básica hoje consome mais de 55% do piso nacional, obrigando famílias a cortarem itens como café e carne.
Enquanto a esquerda pequeno-burguesa celebra as “rosas” de Lula, o povo é esmagado por um Judiciário que garante os lucros dos bancos e utiliza a “defesa das instituições” como pretexto para sua própria ganância. A “democracia” não se fortalece com a blindagem de magistrados suspeitos, mas com a transparência e o poder popular. Enquanto Hildegard chora pelo “batom na estátua”, o País assiste ao sequestro da República por uma casta de toga que não deve obediência a ninguém, a não ser aos seus próprios contratos.




