Nem mesmo o feriado de Natal freou a crise criada em torno do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após revelações envolvendo sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e o liquidado Banco Master.
A crise tomou corpo em 11 de dezembro de 2025, quando o jornal O Globo revelou a existência de um contrato milionário entre o Banco Master, de Daniel Vorcaro, e o escritório de advocacia da esposa do ministro. O contrato previa pagamentos mensais de R$3,6 milhões, totalizando R$129 milhões ao longo de três anos. A contraprestação envolveria a defesa dos interesses da instituição e de seu dono perante órgãos federais, incluindo o Banco Central, a Receita Federal e o Congresso. Os jornalistas que divulgaram a notícia demonstraram ainda que a advogada não teria prestado qualquer serviço.
No dia 22 de dezembro, a jornalista Malu Gaspar detalhou que Moraes teria procurado Gabriel Galípolo ao menos quatro vezes para tratar de interesses do Banco Master, especificamente sobre a tentativa de venda da instituição ao BRB (Banco de Brasília). Informações subsequentes do jornal O Estado de S. Paulo elevaram o tom, mencionando que o ministro teria realizado seis ligações telefônicas em um único dia para pressionar o presidente da autarquia. A ofensiva visaria salvar a instituição financeira de Daniel Vorcaro, que meses antes havia sido alvo de vetos do BC por falta de comprovação de viabilidade financeira.
A reação no dia 23 de dezembro foi marcada por uma intensa troca de notas oficiais e contradições. Na manhã daquela terça-feira, o gabinete de Moraes emitiu um comunicado alegando que os encontros com Galípolo e representantes de grandes bancos como Itaú e Bradesco serviram exclusivamente para discutir as “graves consequências” da Lei Magnitsky. O ministro havia sido sancionado pelo governo dos Estados Unidos em 30 de julho de 2025 sob essa lei, o que gerou restrições bancárias globais para ele e, posteriormente, para sua esposa. No entanto, a nota de Moraes foi alterada em apenas três minutos para substituir nomes de bancos participantes da reunião, trocando o Bradesco pelo Santander na lista de presentes.
À noite, uma nova nota do ministro apresentou erros factuais, como a data da sanção norte-americana e a inversão da operação financeira, citando uma inexistente “aquisição do BRB pelo Master”, quando o processo era o oposto. Moraes negou qualquer ligação telefônica para tratar do tema Master e afirmou que o escritório de sua esposa jamais atuou na operação perante o BC. Contudo, a ausência dessas reuniões nas agendas oficiais de Galípolo e da diretoria do Banco Central levantou suspeitas de omissão deliberada, uma prática incomum para autoridades de tal escalão.
O BC, por sua vez, emitiu nota confirmando que Galípolo e Moraes se encontraram para discutir a Lei Magnitsky, mas não negou que o ministro tivesse feito pressão em favor do Master. No dia 26 de dezembro, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) saiu em defesa de Malu Gaspar, repudiando ofensas contra a jornalista.
Paralelamente, analistas na imprensa o que seria a “fritura” de Alexandre de Moraes. A análise predominante sugere que o ministro, antes visto como o “salvador da democracia” no enfrentamento ao bolsonarismo, tornou-se disfuncional para o sistema financeiro ao cruzar a linha dos interesses dos grandes bancos.
Para o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, o conflito é uma “briga de cachorro grande”. O Banco Master teria começado a ocupar um espaço desproporcional, incomodando os quatro grandes bancos brasileiros que detêm o verdadeiro controle do regime político. Ao tentar intervir em favor de uma instituição menor e envolvida em esquemas fraudulentos, Moraes teria perdido o amparo do “grande capital”. O jornalista Joaquim de Carvalho, do Brasil 247, sugeriu que o próprio Gabriel Galípolo seria a fonte das denúncias, agindo como um anteparo dos bancos tradicionais contra as pressões do STF.
No dia 26 de dezembro, surgiram informações de que o ministro Dias Toffoli estaria agindo para anular a liquidação do Banco Master, convocando uma acareação inédita entre o diretor do BC, Daniel Vorcaro e o ex-presidente do BRB. O movimento foi apontado como uma tentativa desesperada do Supremo de resgatar Vorcaro, que ameaça realizar uma “delação do fim do mundo” caso seja abandonado à própria sorte.
O desfecho do caso Master permanece em aberto, com pedidos de impeachment e comissões parlamentares de inquérito (CPIs) ganhando força no Congresso, alimentados pelo silêncio dos ministros do STF e pela pressão contínua da grande imprensa.





