O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras proclamou, na noite de 24 de dezembro de 2025, véspera de Natal, o candidato direitista Nasry Juan Asfura Zablah, do Partido Nacional, como presidente eleito para o mandato que inicia em 2026. A declaração oficial ocorreu em meio a uma crise política profunda, após semanas de incerteza desde o pleito de 30 de novembro. A vitória foi selada pelos votos das conselheiras Ana Paola Hall García e Cossette Alejandra López Osorio, que decidiram encerrar o processo sem a conclusão do escrutínio especial e sem a resolução de centenas de impugnações pendentes, o que gerou denúncias imediatas de um golpe de Estado eleitoral por parte da oposição e de membros dissidentes do próprio tribunal.
A sessão virtual que oficializou os resultados foi marcada pelo abandono do terceiro conselheiro do CNE, Marlon Ochoa. O funcionário retirou-se da reunião para apresentar uma denúncia formal ao Ministério Público em Tegucigalpa (capital de Honduras), alegando que a proclamação é um crime de natureza imprescritível. Segundo Ochoa, a Secretaria Geral do órgão propôs declarar um vencedor mesmo com 449 atas presidenciais ainda não processadas e cerca de 10 mil atas apresentando inconsistências graves. O conselheiro sustenta que, nos trechos onde a quantidade de eleitores coincide com o registro biométrico, o vencedor não é Asfura, acusando uma manipulação deliberada dos dados finais para favorecer o candidato do Partido Nacional.
O processo eleitoral hondurenho de 2025 foi caracterizado por uma interferência direta e ostensiva do governo dos Estados Unidos. Marlon Ochoa apresentou à promotoria 10 áudios que, segundo ele, comprovam um esquema de fraude coordenado entre lideranças do bipartidarismo tradicional e assessores estrangeiros, incluindo o estrategista argentino Fernando Cerimedo. A denúncia detalha uma campanha de ameaças movida pelo governo de Donald Trump, que teria condicionado a manutenção da ajuda econômica e o envio de remessas financeiras à vitória de Nasry Asfura.
Durante o período de silêncio eleitoral e nos dias de contagem, milhões de mensagens de texto foram disparadas para celulares de cidadãos que recebem remessas dos Estados Unidos, alertando que esses recursos seriam cortados caso a esquerda permanecesse no poder. Atualmente, Honduras é presidida por Xiomara Castro, esposa do ex-presidente Manuel Zelaya, principal liderança do nacionalismo burguês hondurenho.
A candidata do Partido Libertad y Refundación (Libre), Rixi Moncada, que figurava em terceiro lugar nos dados preliminares, classificou a proclamação como uma “fraude e imposição estrangeira”. Apoiada por Xiomara Castro, Moncada denunciou que o plano para o golpe começou antes mesmo da votação, quando o CNE eliminou a verificação biométrica em milhares de atas na noite anterior à eleição. Essa manobra teria permitido o “inflamento” de votos para o Partido Nacional e o Partido Liberal em zonas específicas. A candidata afirmou que o sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP) foi utilizado para projetar uma vantagem irreversível de Asfura, ignorando que milhares de planilhas físicas não coincidiam com os dados digitais.
Além da presidência, a manobra do CNE estendeu-se para as disputas municipais e legislativas. Manuel Zelaya denunciou que o tribunal está tentando anular vitórias legítimas da esquerda, como a reeleição de Jorge Aldana na prefeitura do Distrito Central. Zelaya afirmou que o CNE, operando ilegalmente com apenas dois dos três magistrados, aprovou relatórios administrativos para cancelar o escrutínio especial, o que efetivamente “sepulta a verdade eleitoral” e descarta as impugnações apresentadas por deputados e prefeitos de oposição.
Xiomara Castro reagiu à proclamação reiterando que entregará o cargo em 27 de janeiro de 2026, conforme manda a Constituição, mas denunciou que o país está sendo entregue a interesses estrangeiros. Em sua mensagem, Castro criticou os setores que veem as remessas como uma “dádiva do império” e alertou para o retorno de grupos vinculados ao crime organizado e à corrupção que dominaram o país após o golpe de 2009. Organizações de direitos humanos e movimentos de índios, como o Milpah, já se manifestaram contra o retorno do Partido Nacional, citando o histórico de assassinatos de ativistas e a entrega de recursos naturais a monopólios internacionais.
Enquanto o CNE busca normalizar a eleição de Nasry Asfura, as forças de oposição convocam a população para mobilizações de rua a fim de contestar o golpe consumado.





