No dia 19 de dezembro de 2025, foi publicado no portal A Terra é Redonda o artigo intitulado Petróleo no chão – parte 2, assinado pela bióloga Ana Carolina Trindade Guilhen e pelo professor Henrique N. Sá Earp. No texto, os autores aprofundam a tese de que o Brasil deveria renunciar à exploração de petróleo na Margem Equatorial, defendendo que manter o recurso no subsolo seria uma decisão economicamente superior e fundamental para uma “transição energética popular”.
Apesar do tom acadêmico e das tabelas de custos apresentadas, a proposta revela um profundo descolamento da realidade material do povo brasileiro. Sob a capa de uma pretensa “superioridade econômica”, os autores defendem que o Brasil deve abrir mão de trilhões de dólares em riqueza potencial, ignorando que a “escolha histórica” que propõem é, na prática, a condenação de milhões de brasileiros ao atraso econômico perpétuo. Trata-se de um moralismo que beira o sádico: sugerem que, em vez de investir na indústria petrolífera — capaz de gerar tecnologia de ponta e recursos massivos para o Estado —, o país deveria se contentar com programas de “fogões elétricos de indução” e “telhados fotovoltaicos”. Isso num país em que o governo teve de distribuir um “vale-gás”, visto que a população sequer consegue comprar um bujão de gás de cozinha….
Para quem goza dos privilégios da pequena burguesia, é confortável trocar a soberania nacional por um painel solar. No entanto, para a realidade da maioria da população, esse discurso é um escárnio. Como é possível pregar o “petróleo no chão” em um país onde o Bolsa Família onde 55 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza? O povo não come “consciência ecológica” nem paga as contas com o “Bem Viver” teórico de uma elite intelectual que parece ter horror ao desenvolvimento industrial.
O cinismo da análise atinge o ápice ao propor que o Brasil abdique de uma receita bruta que pode chegar a US$2,3 trilhões em troca de “green royalties” — ou seja, esmolas internacionais para não utilizarmos nossos próprios recursos. É a proposta de transformar o Brasil em um “mendigo verde”, estendendo a mão para o imperialismo em troca de migalhas assistencialistas. Ao atacarem a Petrobrás e a exploração da Margem Equatorial, os autores servem, ainda que involuntariamente, como porta-vozes do programa político do imperialismo: fazer do Brasil como um imenso jardim botânico desindustrializado, fornecedor de serviços ambientais e dependente eterno da tecnologia dos países desenvolvidos.
Escolher a paralisia econômica em detrimento da exploração das riquezas nacionais não é uma “decisão racional”; é uma capitulação ideológica diante dos maiores inimigos da humanidade — que dirá da “natureza”. Para quem tem fome hoje, a tese do petróleo no chão é uma bofetada na cara. A verdadeira soberania não virá de títulos de renúncia ou crédito de carbono, mas da capacidade do país de transformar suas riquezas em empregos industriais, infraestrutura e comida no prato de quem hoje só tem a miséria como horizonte.




