A data de hoje, 22 de dezembro de 2025, marca exatamente um mês desde que o mundo perdeu Natália Braga Costa Pimenta. Aos 40 anos, a trajetória daquela que foi uma das mentes mais brilhantes do Partido da Causa Operária (PCO) não se encerrou apenas pelo avanço de uma doença devastadora, mas foi abreviada pelas engrenagens cruéis da burocracia estatal.
Natália começou a militar pela revolução socialista aos 12 anos. Foram quase três décadas dedicadas à libertação da classe operária. Ainda muito jovem, foi responsável por liderar um grupo de jovens que criou o que hoje é o Diário Causa Operária (DCO), o único jornal diário de toda a esquerda brasileira. Vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), Natália nunca deixou de acompanhar a luta dos oprimidos em todo o mundo, mesmo nas horas mais difíceis.
Sua determinação era tamanha que, mesmo internada na Unidade de Pronto-Atendimento (UTI), foi alvo de perseguição política e incluída em inquéritos policiais por suas opiniões. O presidente do Ibraspal, dr. Ahmad Shehada, também contou que, enquanto internada, Natália pedia notícias sobre a Palestina, mesmo quando isso contrariava as recomendações para que não pensasse em assuntos de tamanha tristeza. Ao mesmo tempo em que era conhecida por sua bondade, Natália era uma polemista feroz que, sob a luz do marxismo, não deixava pergunta sem resposta.
A história do seu fim precoce começa em 2021, com um câncer de mama triplo negativo — o tipo mais agressivo. A partir daí, o que se viu foi uma sucessão de decisões médicas questionáveis. Relatos de João Pimenta, seu irmão, expõem que a família foi mantida no escuro sobre alternativas mais agressivas que poderiam ter salvado sua vida logo no início.
Em janeiro de 2025, o pesadelo escalou: quatro metástases no cérebro. A falha no acompanhamento — que priorizou exames menos eficientes para “economizar” recursos do convênio — permitiu que a doença avançasse silenciosamente. Quando o câncer atingiu o líquido cérebro-espinhal, a situação se tornou ainda mais difícil.
No hospital, o cenário era de guerra. Adriana Machado e Izadora Dias, que acompanharam Natália na “força-tarefa” de cuidados 24 horas, descrevem um sistema de saúde privado que trata pacientes terminais como “arquivos a serem despachados”. Relatam desde overdoses de morfina por erro de avaliação até o abandono da equipe de “cuidados paliativos” quando Natália, consciente e lutadora, exigiu que se tentasse tudo: hemodiálise, intubação e reanimação. Ela queria viver pelos seus dois filhos, de 10 e 6 anos.
O capítulo mais cruel, porém, deu-se no campo jurídico. A descoberta de uma mutação genética rara abriu uma fresta de esperança: o Revumenib, um medicamento de última geração aprovado nos EUA.
O que se seguiu foi o que o PCO classifica como um “assassinato burocrático”. Foram 55 dias de agonia judicial. Enquanto a vida de Natália se esvaía, a juíza Anita Villani indeferiu pedidos de liminar em menos de uma hora, uma velocidade que ignora a complexidade de um processo de vida ou morte.
Quando, enfim, os familiares de Natália obtiveram a liminar, a burocracia do Ministério da Saúde impediu que o remédio chegasse. Durante 12 dias, enquanto Natália agonizava na UTI, a burocracia tentou impedir, de todas as maneiras, que o remédio fosse comprado, atendendo diretamente à máfia dos bancos e seguradores de saúde.
Natália Pimenta deixou dois filhos, seu pai, seu cônjuge e um partido que hoje, mais do que nunca, carrega suas bandeiras.



