A Central Obrera Boliviana (COB) declarou greve geral e mobilização em todo o país contra o Decreto Supremo 5503, conhecido na Bolívia como gasolinazo. A medida, adotada pelo governo de Rodrigo Paz, elimina os subsídios aos combustíveis, promove aumentos bruscos nos preços e cria mecanismos para repassar recursos naturais estratégicos à iniciativa privada sem fiscalização do Legislativo.
A decisão foi anunciada pelo secretário executivo da COB, Mario Argollo, dirigente mineiro de Huanuni, durante atividade em Oruro. Segundo ele, a central determinou que seus mais de 65 sindicatos não negociem com o Executivo enquanto o decreto não for revogado. “Acabou a intenção de negociar. Se o governo queria nos ver nas ruas e nas estradas, é lá que vai nos encontrar”, declarou.
Argollo afirmou ainda que a paralisação será “mobilizada e escalonada”, indicando que o movimento já ocorre em diferentes regiões e que a COB não poderia “ser indiferente” diante do avanço do decreto. A central também anunciou que a greve é por tempo indeterminado enquanto o governo mantiver o DS 5503.
Na sexta-feira, transportadores de La Paz e de El Alto iniciaram uma paralisação de 24 horas com bloqueios em pontos considerados estratégicos, afetando a circulação urbana. Com a suspensão do transporte terrestre, o teleférico passou a ser a principal alternativa de deslocamento, provocando filas extensas em estações do sistema. Houve registros de protestos semelhantes em Potosí, no sudoeste do país.
O Decreto Supremo 5503 prevê aumento de 86% no preço da gasolina e de 162% no preço do diesel, em comparação com os valores subsidiados, política que vigorou por mais de duas décadas. Transportadores denunciaram que, após a medida, as tarifas passaram a variar entre 4,50 e 5,50 bolivianos, o que gerou reações tanto de autoridades quanto da população.
O líder sindical dos transportadores em La Paz, Santos Escalante, confirmou que a paralisação desta sexta-feira foi de 24 horas e afirmou que o setor avalia ampliar as ações, com bloqueios de estradas já a partir da próxima semana. Lucio Gómez, dirigente nacional do setor, anunciou que haverá uma reunião nacional em Cochabamba neste sábado para discutir a convocação de mobilizações gerais e fechamento de rotas.
Do lado do governo, o vice-ministro de Transporte, Hugo Criales, declarou que o Executivo pretende chamar os motoristas para uma mesa com representantes de federações, setores “livres”, cooperativas e câmaras do transporte. Criales afirmou que a eliminação dos subsídios seria “inevitável” e disse que a população enfrentaria as mudanças “com resignação”. Já o ministro da Economia, José Gabriel Espinoza, sustentou que não haveria justificativa para reajustar as tarifas do transporte público, mesmo com o corte dos subsídios.
Além do impacto imediato sobre combustíveis e transporte, o decreto também estabelece a liberação acelerada de recursos naturais estratégicos ao setor privado sem intervenção do Parlamento, ponto rejeitado por organizações sociais e sindicais, que denunciam a medida como cessão de soberania nacional.





