Polêmica

O que é a tal "branquitude"?

No texto Racismo não racista: branquitude e machismo na live do PCO, analisado em dois outros artigos do Diário Causa Operária (Parte 1 e Parte 2), o professor Adeir Alves apresenta o conceito de “branquitude” para sustentar sua política pró-imperialista de censura e segregação:

“O racismo não racista não advém apenas do racismo, mas de sua ideologia gemelar, a saber, a branquitude (Theodoro, 2022; Bento, 2022). A branquitude é uma ideologia perversa, camuflada, invisibilizadora e que produz uma infinidade de benesses e privilégios às pessoas brancas.”

Como o próprio autor deixa claro, a tal “branquitude” seria algo “camuflado” — algo que não se revela de maneira explícita. Como, então, seria possível apreender essa ideologia? Se a própria ideologia não apresenta a si mesma como tal, então algo externo a ela deveria anunciá-la. Este algo externo é a opinião do professor Adeir Alves e os demais sacerdotes de sua igreja da salvação antirracista.

Dizer que a “branquitude” é uma ideologia “camuflada” e “perversa” seria equivalente ao seguinte exemplo: uma pessoa diz em público que é favorável à igualdade salarial entre brancos e negros, mas atua no sentido de tornar os negros ainda mais submissos. É possível acontecer esse tipo de coisa? Sim, naturalmente. Não faltam “defensores do povo negro”, como o youtuber Jones Manoel que, diante da mobilização da população negra contra o aparato de repressão, sai correndo na defesa do Estado capitalista. A questão é que o autor não apresenta critérios claros para se determinar o que seria uma ideologia em defesa do negro ou não.

No caso citado, sobre o youtuber Jones Manoel, é possível definir muito claramente o caráter reacionário de sua ideologia. Jones Manoel criticou o uso da violência nos protestos contra a morte de um jovem negro por um segurança da rede de supermercados Carrefour. Essa posição vai de encontro ao programa de libertação do negro: a luta pela destruição do Estado capitalista. A ideologia que serve a este programa é, por definição, revolucionária. A ideologia que não serve a este programa é, por definição, reacionária.

Mas para Adeir Alves, qual seria o critério para definir uma ideologia como oposta aos interesses dos negros? Ele não o diz, mas insinua. Ao apenas dizer que “o racismo não racista é um discurso típico de pessoas brancas, sobretudo as que possuem mais privilégios sociais, econômicos, políticos, culturais e acadêmicos”, ela está basicamente dizendo que o sistema de ideias que não é produzido, em sua aparência, pelos negros é racista. Ou seja, a “branquitude” é tudo aquilo que um negro aponta como tal.

É um critério absurdo, pseudo-radical e desastroso, pois abre um flanco para que a burguesia possa intervir diretamente no movimento dos oprimidos. O que vale mais em uma greve, a opinião de um determinado trabalhador que é favorável ao patrão ou o programa de luta que expresse a experiência histórica dos trabalhadores daquela categoria? Aqueles que defendem a ocupação de uma fábrica seriam anti-operários por que um operário disse que o melhor a se fazer é assinar um humilhante acordo?

Segundo o professor, sim. Basta que ele, com base em sua própria cartilha, aponte que o operário que defende a ocupação de fábrica é menos operário que o operário pelego.

A tal “branquitude”, que ninguém sabe direito o que é, cumpre o mesmo papel. O autor afirma que há um complô entre brancos para manter os seus privilégios e considera isso suficiente para interditar os seus adversários, sem colocar as ideias para debate. Isso fica ainda mais claro quando ele diz que “o reconhecimento da existência do racismo equivale ao reconhecimento das responsabilidades dos racistas e das instituições em aplicar a reparação, assim como o reconhecimento do racismo expõe o mar de privilégios das pessoas brancas”.

Nesse trecho, o professor abre o jogo. O objetivo de toda a sua feitiçaria ideológica é assediar moralmente os seus adversários. O que ganha um negro oprimido em expor o “mar de privilégios das pessoas brancas”, sejam eles quais forem? Se o objetivo e defender um programa revolucionário — coisa que em nenhum momento o autor levanta —, denunciar um determinado privilégio, como a diferença de tratamento no Judiciário, serve para mobilizar o negro contra o Estado. No entanto, como este não é o objetivo do autor, a exposição de privilégios serve apenas para que o negro se sinta moralmente superior ao branco.

Sentir-se moralmente superior não tornará o negro de fato superior. O negro, queira ele ou não, é tratado como um inferior. Afinal, trata-se de um setor oprimido. O que o autor propõe apenas fará com que o negro passe de oprimido a opressor diante de um branco tão ou mais oprimido como ele (o branco pobre), aumentando a segregação entre os oprimidos. Essa política, além de segregadora, inevitavelmente fará com que os brancos poderosos aumentem ainda mais o seu desprezo pelos negros, abrindo o caminho para que os negros sejam ainda mais mal tratados.

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