Rui na TV 247

Pimenta: bloqueio de Trump pode empurrar Venezuela à expropriação

Pimenta avalia que pressão dos EUA sobre Caracas abre cenário de resistência popular e radicalização

Nesta sexta-feira (19), em entrevista à TV 247, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, afirmou que o bloqueio anunciado pelo governo Donald Trump contra petroleiros que negociem com a Venezuela representa “uma atividade totalmente ilegal, criminosa e uma ameaça direta” ao país, e avaliou que a escalada pode levar a um cenário de enfrentamento popular e até de radicalização econômica em Caracas.

Ao comentar o endurecimento norte-americano, Pimenta disse que não descarta hipóteses mais agressivas, inclusive uma ação militar direta. “Eu acho que a gente não deve descartar nenhuma possibilidade, mesmo as que parecem mais loucas, como, por exemplo, invadir a Venezuela”, afirmou. Segundo ele, uma operação terrestre teria custo elevado para Washington, porque “encontraria uma resistência popular gigantesca”, já que, conforme disse, “o Maduro armou uma boa parte da população da Venezuela”.

Para o dirigente, uma agressão aberta poderia produzir um efeito contrário ao desejado pelos EUA: “pode empurrar a Venezuela para se transformar numa nova Cuba”, declarou, acrescentando que, diante da ofensiva, o povo poderia “exigir e até realizar o confisco das grandes empresas da burguesia venezuelana”. Pimenta afirmou ainda que o governo venezuelano tem sinalizado nessa direção: “ele ameaça o imperialismo com a expropriação do capital”.

Na sequência, ao ser questionado sobre a defesa de medidas de radicalização, Pimenta recorreu ao exemplo da Revolução Cubana. Disse que, em Cuba, a definição do caráter socialista do processo ocorreu sob pressão externa e como condição de sobrevivência do regime. “Foi em 1961, dois anos depois da vitória da revolução, que ele declarou que a Revolução Cubana era uma revolução socialista. E ele fez isso sob a pressão do imperialismo”, declarou, afirmando que “você não vai conseguir enfrentar o imperialismo a não ser com amplo apoio popular”.

Chile e a derrota da esquerda

Ainda no plano internacional, Pimenta comentou a eleição chilena e classificou o resultado como “uma derrota catastrófica para a esquerda chilena”. Segundo ele, a mobilização de 2019 abriu expectativas que teriam sido frustradas pelo governo Gabriel Boric. “Ele defraudou essas expectativas. Ele governou como se fosse um governo da esquerda do regime, que é do Partido Socialista e Democrata Cristão”, disse.

Pimenta também criticou o papel do Partido Comunista chileno no processo que levou Boric ao poder. Para ele, a decisão de submeter a candidatura a uma convenção foi um erro: “o Partido Comunista cometeu o erro de fazer uma convenção, apesar de o seu candidato aparecer em primeiro lugar nas pesquisas”, afirmou. O resultado, segundo sua avaliação, foi a chegada da extrema direita ao governo: “fracassou totalmente e levou a extrema-direita chilena ao poder. É uma catástrofe”.

O dirigente generalizou o diagnóstico para a região. Disse que há um movimento em que “a esquerda entrega o poder para a direita” em diversos países, citando Bolívia, Equador, Peru, Uruguai e Argentina, e apontou que México, Colômbia e Brasil seriam pontos ainda em disputa, embora, em sua visão, “a política é a mesma”.

Brasil: dosimetria, sanções e a direita

Ao entrar na situação brasileira, Pimenta criticou a condução do governo Lula no tema Venezuela e disse ver “algum tipo de acordo com o imperialismo” por trás da postura brasileira. “Eu acho que o Lula tem errado nessa posição da Venezuela desde o começo”, afirmou, mencionando que o governo não teria reconhecido o processo eleitoral venezuelano.

Sobre a suspensão das sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Pimenta rejeitou que a mudança estivesse ligada à Venezuela e atribuiu o movimento a um acerto em torno de Jair Bolsonaro. “Isso daí, eu acho que foi feito um acordo com ele em torno da questão do Bolsonaro”, disse. Em seguida, vinculou o tema à aprovação da dosimetria, que reduz penas relacionadas ao 8 de janeiro: “é a dosimetria”, afirmou, sustentando que a alteração das projeções de punição indicaria conciliação entre instituições. “Teve acordo. E esse acordo seria com o Supremo, com todas as instituições; com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário — os Três Poderes”.

Pimenta avaliou que a redução de penas não teria efeito dissuasório contra novas aventuras golpistas e criticou a defesa de punições elevadas contra manifestantes. “Você acha que, se amanhã os Estados Unidos decidirem dar um golpe no Brasil como em 64, eles vão ficar intimidados porque uma cabeleireira foi parar na cadeia por 17 anos? Lógico que não”, declarou. Para sustentar o argumento, citou a impunidade após o golpe de 1964 e também após 2016: “teve tortura, assassinato, desaparecimento de pessoas e ninguém foi punido. Não tem uma única pessoa punida”.

Na disputa interna da direita, Pimenta disse considerar correta a decisão de Bolsonaro de lançar Flávio Bolsonaro como candidato. “Eu acho que ele acertou”, afirmou. Para ele, a direita enfrentaria um dilema: apoiar um nome sem o bolsonarismo ou aderir ao herdeiro do ex-presidente. Pimenta disse ter a impressão de que Flávio busca costurar entendimentos com setores que prefeririam um candidato como Tarcísio de Freitas e classificou o senador como uma figura “domesticada”, vendida como alternativa mais palatável para a burguesia: “ele é o ‘Bolsonaro civilizado’”, declarou, acrescentando que isso poderia funcionar como “uma solução de compromisso”.

Rede Globo e atos de rua

Pimenta também criticou as manifestações recentes convocadas por artistas e apontou a Rede Globo como organizadora. “Quem está por trás disso aí é Globo”, afirmou, defendendo que não se tratariam de mobilizações de esquerda. Segundo ele, a esquerda teria comparecido “como enfeite da festa” e alertou para o risco de fortalecer uma ferramenta que já foi usada contra governos anteriores. “A Globo convocou os atos que levaram à derrubada da Dilma Rousseff”, disse, argumentando que, ao dar plateia política, a esquerda “consagra” lideranças vinculadas à burguesia monopolista e entrega “a faca e o queijo” para a direita agir depois.

Ao avaliar o conjunto do processo em torno do 8 de janeiro, da dosimetria e das articulações, Pimenta disse ver um desfecho de conciliação: “a luta em defesa da democracia terminou num acordo generalizado”, afirmou, acrescentando que, em sua visão, “a coisa terminou em pizza” e que tudo estaria subordinado ao objetivo de retirar Bolsonaro da disputa eleitoral.

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