O artigo Um PL de Anistia chamado de Dosimetria, de Marilza De Melo Foucher, publicado no Brasil 247 nesta sexta-feira (19), demonstra o quanto a esquerda pequeno-burguesa está a reboque da burguesia e, especialmente, da rede Globo. Existe um grande ataque dessa emissora contra o Congresso, e eis que a articulista inicia assim seu texto:
“Como exigir moralidade pública e honra de pessoas ligadas ao crime organizado e ao assalto de cofres públicos? Como esperar de senadores coniventes, ou aliados a essas práticas, um comportamento republicano de respeito à Constituição Federal? Como explicar que o Senado não pode diminuir as penas judiciais conferidas aos que atentaram contra o Estado de Direito e cometeram atos terroristas contra os três Poderes da Nação?”.
Qualquer pessoa poderia se perguntar: por que apenas o Congresso estaria ligado ao crime organizado e assalto de cofres públicos? Essa acusação não poderia ser estendida ao Executivo e ao Legislativo? Recentemente, surgiram informações de um contrato multimilionário entre o Banco Master, em sérios problemas com a Justiça, e o escritório de advocacia da esposa de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Mesmo que o contrato não tenha nada de irregular, nunca o saberemos; e já que Foucher tocou no assunto, é moral a esposa de um ministro do STF ganhar fortunas com seu escritório?
Quanto ao respeito à Constituição Federal, o que se pode dizer do Supremo? Essa corte faz o que bem entende com a Carta. O próprio julgamento-farsa de Bolsonaro por uma tentativa de golpe que nunca existiu é repleto de irregularidades.
Política = Crime
Todo o esforço de Marilza Foucher é de tornar crime a política, de onde só se pode tirar a conclusão que a única solução é a cadeia, o que é uma ideia reacionária, pois afasta as pessoas do embate político.
Tratar a política como crime só faz com que o trabalhador, as pessoas em geral, se afastem, quando o ideal é que o maior número de pessoas participe da vida política. Por outro lado, fica a falsa ideia de que colocando este ou outro parlamentar na cadeia a vida melhora, o que é absurdo. O objetivo da classe trabalhadora tem de ser derrotar a burguesia, não reformar o Estado.
Existe ainda outra questão: as polícias não são neutras. Sendo assim, sempre que aparece um escândalo, a primeira coisa a se pensar é sobre o porquê disso ter vindo a público, quais interesses estão ocultos.
Foucher, nessa sua toada de tornar a política crime, escreve que “os representantes políticos, na condição de cúmplices da delinquência institucional, minimizaram todos esses crimes cometidos contra a democracia e ainda ignoraram o clamor popular contra a anistia e contra um Congresso que passou a ser nomeado de ‘Congresso inimigo do povo’”. Se o Congresso é inimigo, quem seria o amigo, o Judiciário?
Adiante, a autora diz que “nesse contexto aterrorizante de atentado contra a democracia, alguns jornalistas difundiram a notícia de que ‘Xandão e o governo Lula fizeram um acordão’. O que existe é uma estratégia para enfraquecer a mobilização de ruas e desmoralizar a esquerda. Estão querendo atribuir ao governo o absurdo da votação do Projeto de Lei da Dosimetria, que reduz as penas do condenado Bolsonaro e demais cúmplices acusados de tentativa de golpe contra a democracia”.
Apesar da indignação da jornalista, houve acordo. Renan Calheiros disse que houve e Jaques Wagner não negou, e o senador Alessandro Vieira disse que o próprio Alexandre de Moraes teria orientado a redação da Dosimetria.
Xandão, o herói
Para Foucher, “a mídia aliada ao Centrão logo espalhou a notícia para culpar o governo de conchavos”. E mais, a articulista acredita que “o povo não é mais marionete da Globo. Além do mais, existem jornalistas na GloboNews que fazem boas análises políticas e parecem ter adquirido uma certa imparcialidade no tratamento das notícias”. E o que mais a jornalista acredita, já que passamos da metade de dezembro, em Papai Noel? Imparcialidade nunca existiu em jornalismo, e muito menos na rede Globo.
Segundo escreve, “hoje, o povo destemido vai novamente para as ruas exigir o veto do presidente e a afirmação da inconstitucionalidade pelo STF. Do contrário, a reputação do Xandão vai para o esgoto da história, e é impossível imaginar tal reviravolta do ministro. Hoje, o ministro do Supremo, graças ao processo histórico de defesa do Estado de Direito, teve reconhecimento internacional”.
Quem está convocando as pessoas para as ruas é rede Globo, a esquerda está sem poder de mobilização.
Um tucano que foi ministro de Michel Temer, indicado por este para o STF; que votou pela prisão de Lula, precisa mais de quê para ter a reputação no esgoto da história? E o que significa ter “reconhecimento internacional”? Até Maria Corina Machado ganhou Prêmio Nobel. Ser reconhecido pelo Financial Times, um dos principais porta-vozes do imperialismo, é mais um ponto contra o ministro.
No final, Marilza De Melo Foucher reclama que “infelizmente, há alguns jornalistas da mídia alternativa repetindo o que dizem profissionais da mídia corporativista”, e aqui é preciso concordar. A grande imprensa trata Alexandre de Moraes como herói, ataca o Congresso de todas as maneiras. Já está ficando difícil distinguir quem é “mídia alternativa” e quem é a imprensa burguesa.





