No artigo Vivemos uma epidemia de feminicídios. E precisamos enfrentá-la, publicado pelo Brasil 247, o deputado estadual Maurici de Morais (PT-SP) expressa a absurda posição da esquerda pequeno-burguesa diante da histeria em torno do que a imprensa capitalista chama de “feminicídio”. O autor, sob o pretexto de lamentar a morte de mulheres, defende um caminho que leva diretamente ao fortalecimento do Estado de arbítrio e à dupla penalização da classe trabalhadora.
O primeiro erro do deputado Morais é a adesão ao termo “feminicídio”. O termo não é uma mera descrição da morte de mulheres; ele é uma invenção burguesa para uma crítica moral. O crime de “feminicídio” carrega a implícita e absurda tese de que a mulher morre porque os homens são intrinsecamente “machistas” ou “misóginos”.
A morte de mulheres em ambiente doméstico não é resultado de uma “opinião” ou “cultura”; é a consequência direta e material da realidade de opressão da mulher. A mulher é um setor mais oprimido na sociedade porque ela está presa ao ambiente doméstico e, normalmente, não tem qualquer autonomia financeira. A luta contra essa realidade exige uma política de classe, como a criação de creches públicas em cada bairro.
Ao invés disso, Morais e a esquerda identitária propõem uma correção moral. Achar que é possível corrigir as ideias ou a “cultura” da pessoa através do Estado é uma ideia de regimes autoritários, como o fascismo e Santa Inquisição. É um absurdo que desvia o debate da luta social para a polícia ideológica.
A hipocrisia de Morais atinge seu ápice ao celebrar o “arcabouço legal robusto” e o aumento de penas (incluindo o fascismo penal sancionado por Lula) como solução. O autor não percebe (ou finge não perceber) que essa política penaliza duplamente as mulheres trabalhadoras.
O aumento de penas e a defesa de um Estado mais arbitrário não afetam os agressores da burguesia; penalizam o homem pobre. As mulheres trabalhadoras perderão seus filhos, pais e maridos para a cadeia e para o Estado de arbítrio que o deputado está fortalecendo. A prisão de um pai ou filho do proletariado não é a emancipação da mulher; é o agravamento de sua miséria econômica e social.
A cadeia não é uma solução para nenhum problema real. O Estado, ao invés de atuar para tirar a mulher da opressão, atua para reprimir seu entorno familiar, garantindo que a mulher fique mais sozinha, mais empobrecida e, portanto, mais vulnerável ao sistema.
A luta contra a morte de mulheres não é moral, é material. Exige a destruição do aparato repressivo, a rejeição total do identitarismo que inventa termos para mascarar a luta de classes, e a organização revolucionária para conquistar a autonomia econômica e social da mulher trabalhadora.





