Quando o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou a sua candidatura para a presidência da República nas eleições de 2026, a cotação do Ibovespa fechou com queda de 4,31%. Isso mostrou que o mercado financeiro vê com muita preocupação uma candidatura ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado à prisão para que não pudesse participar das eleições e fosse forçado a um acordo em torno do nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio é um político alinhado com os interesses dos bancos e grandes capitalistas, comprometido com a austeridade fiscal. A oscilação na Bolsa evidenciou que o senador Flávio Bolsonaro não é a candidatura favorita da burguesia para as eleições presidenciais. Contudo, o senador afirmou em entrevista ao Irmãos Dias Podcast, em 11 de dezembro, que manterá a política econômica do ex-ministro Paulo Guedes.
O governo ideal para a grande burguesia e o capital financeiro internacional é o de Javier Milei na Argentina. Este governo, desde sua posse, se destaca pelos ataques aos programas sociais, desregulamentações de relações trabalhistas, autoritarismo na relação com os movimentos sociais, alinhamento com os interesses dos Estados Unidos e, inclusive, é considerado uma base avançada para a atuação do Estado de Israel na América do Sul. Recentemente, este articulou a instalação de bases militares norte-americanas em território argentino e participa ativamente na campanha de desestabilização do governo da Venezuela.
A política de Tarcísio de Freitas é justamente o que os grandes capitalistas querem para assumir o governo federal, o que lhe credencia a ser o “Milei Brasileiro”. As medidas adotadas em São Paulo de ataque aos trabalhadores e ao patrimônio público são reveladoras e vão na mesma linha da política de Milei, como a privatização da Sabesp, rebaixamento dos pisos constitucionais da Saúde e Educação, plataformização do ensino e assédio aos professores públicos, cortes orçamentários nas Universidades, arrocho salarial do conjunto do funcionalismo estadual, repressão e intimidação aos movimentos sociais. A violência policial é um dos aspectos mais marcantes da gestão do atual governador, com violações de direitos por parte da Polícia Militar figurando no cotidiano da população paulista.
O governo de Jair Bolsonaro (2018-2022) implementou uma política a favor do mercado financeiro. Porém, os partidos tradicionais da burguesia, como PSDB, criticavam o governo por não ser suficientemente “pró-mercado”, isto é, não levar adiante uma política suficientemente agressiva de ataques aos direitos do povo brasileiro. Uma das principais críticas do PSDB era o número ínfimo de privatizações do governo Bolsonaro, casos da Eletrobrás e dos Correios (este último parou no Senado Federal).
Os principais ataques do governo Bolsonaro foram a aprovação da Reforma da Previdência, implementação da Reforma Trabalhista e aprovação da independência do Banco Central. As contradições internas do governo, que geravam sucessivas instabilidades, impediram uma política muito mais agressiva fosse implementada. A burguesia também acusava sistematicamente o governo Bolsonaro de não respeitar a política do teto de gastos implementada pelo governo Michel Temer (MDB).
Por sua vez, Flávio Bolsonaro sentiu a pressão do grande capital e procurou se apresentar como um gestor, alguém com capacidades técnicas e apoiador do empreendedorismo. A indicação de que a política ultraliberal de Paulo Guedes – isto é, do mercado financeiro internacional – prevaleceria é um sinal de que não está disposto a fazer nenhuma loucura em relação aos interesses do grande capital. O primeiro – senão o único – interesse a ser contemplado como política de Estado será o interesse dos bancos e do capital financeiro que detém o controle dos mecanismos fundamentais da economia brasileira.
Apesar de discursos considerados como “populistas” pela grande imprensa, o bolsonarismo demonstra que também é aspirante à gestão da ditadura do capital com a nomeação de Paulo Guedes para gerir a pasta da Economia.





