O primeiro-ministro da Bulgária, Rosen Zhelyazkov, anunciou na quinta-feira (11) que entregará a renúncia do governo após semanas de manifestações de rua que reuniram dezenas de milhares de pessoas em Sófia e em outras cidades do país. A queda do gabinete ocorre às vésperas da entrada da Bulgária na zona do euro, prevista para 1º de janeiro de 2026, e em meio a mais uma crise política em um país que já realizou sete eleições nacionais em quatro anos.
Zhelyazkov comunicou a decisão em pronunciamento televisionado pouco antes de o Parlamento votar uma nova moção de desconfiança, a sexta enfrentada por seu governo desde a formação da coalizão, em janeiro. Segundo ele, a moção seria derrotada pela base governista, mas o gabinete deixaria o cargo de qualquer maneira. “Nossa coalizão se reuniu, discutimos a situação atual, os desafios que enfrentamos e as decisões que devemos tomar com responsabilidade”, disse o primeiro-ministro. “Nosso desejo é estar no nível que a sociedade espera. O poder vem da voz do povo”.
A crise foi acelerada pela apresentação de um orçamento para 2026 elaborado em euros, que previa aumento de impostos e elevação de contribuições à seguridade social, além de mudanças no gasto estatal. O projeto provocou uma onda de protestos, com manifestantes denunciando corrupção e a incapacidade de sucessivos governos de enfrentar o problema. Mesmo após o recuo do Executivo e a retirada do orçamento na semana passada, os atos continuaram, agora com a exigência explícita de renúncia do primeiro-ministro e de afastamento de figuras influentes do regime.
Na noite de quarta-feira (10), os protestos atingiram novo patamar. Manifestantes entoaram palavras de ordem como “Renuncie” e exibiram cartazes com frases como “Já chega!”, acompanhadas de caricaturas de políticos. Estimativas veiculadas por veículos búlgaros, com base em imagens aéreas, apontaram mais de 100 mil pessoas concentradas na capital, em um país com pouco menos de sete milhões de habitantes.
A cobertura da imprensa burguesa, as estimativas de centenas de milhares de manifestantes e a pauta do movimento, centrado na “luta contra a corrupção”, são todos elementos típicos de revoluções coloridas, orquestradas pelo imperialismo para derrubar governos e reorganizar regimes a seu bel-prazer. Isso somado à espontaneidade dos atos, que rapidamente tomaram as ruas da capital búlgara.
O presidente búlgaro, Rumen Radev, que tem poderes limitados, também se posicionou publicamente a favor da saída do governo. Em publicação nas redes, ele declarou: “entre a voz do povo e o medo da máfia. Ouçam as praças!”. Com a renúncia de Zhelyazkov, cabe agora ao presidente convocar os partidos representados no Parlamento para tentar formar um novo gabinete. Se não houver maioria viável, Radev deverá nomear uma administração interina até a realização de novas eleições, o que, se confirmado, levará o país à oitava disputa nacional em quatro anos.
A atual coalizão foi montada após a vitória do partido conservador GERB nas últimas eleições, com Zhelyazkov, ex-ministro dos Transportes e dirigente da legenda, escolhido para chefiar um governo minoritário sustentado por arranjos parlamentares. Entre os nomes que passaram a ser criticados pelos manifestantes está Delyan Peevski, ex-magnata e liderança do DPS – New Beginning, uma das forças que dão sustentação ao governo. Peevski foi alvo de sanções dos Estados Unidos e do Reino Unido sob acusações de corrupção, suborno e desvio de recursos; ele nega irregularidades.
A instabilidade política se combina à pressão econômica associada à adoção do euro. Analistas ouvidos pela imprensa local apontaram que a baixa confiança nas instituições e nos dirigentes foi agravada pelo temor de aumento de preços com a mudança da moeda. Em relatórios recentes, a Comissão Europeia já havia chamado atenção para problemas persistentes no funcionamento do Judiciário e para limitações da política anticorrupção no país. A Bulgária também aparece nas últimas posições do Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International. Em 2020, o país também foi alvo de grandes manifestações contra o então primeiro-ministro Boyko Borissov, que governou o país em três ocasiões.




