O ex-presidente da Bolívia Luis Arce Catacora (2020-2025) foi preso na tarde desta quarta-feira (10), em La Paz, pouco mais de um mês depois de deixar o cargo em meio à vitória eleitoral da direita, expressão do golpe iniciado em 2019.
Segundo a ex-ministra da Presidência, María Nela Prada, Arce foi detido por volta das 15h (horário local), no bairro de Sopocachi, quando “se encontrava sozinho”, e levado por policiais em uma caminhonete branca para a sede da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen (Felcc), onde passou a noite em celas da corporação, à espera da audiência de imputação.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Prada classificou a ação como um “sequestro totalmente ilegal” e afirmou que o ex-presidente foi levado “sem qualquer informação oficial” e sem a presença de familiares. “Quero denunciar diante do povo boliviano e da comunidade internacional que há pouco acabaram de sequestrar o ex-presidente Luis Alberto Arce Catacora por Sopocachi”, declarou a ex-ministra, enquanto se dirigia à sede da Felcc em La Paz.
Horas depois da prisão, o ministro de Interior do governo golpista, Marco Antonio Oviedo, declarou à imprensa que as autoridades apontam Arce como “principal responsável” no chamado caso Fundo Indígena, que investiga desvio de recursos públicos destinados a comunidades camponesas e índios.
O procurador-geral do Estado, Roger Mariaca, informou que o ex-presidente decidiu usar o direito ao silêncio em sua primeira oitiva. De acordo com Mariaca, Arce permanecerá sob custódia policial até a realização da audiência de medidas cautelares, ainda sem data divulgada oficialmente.
Prada e outros ex-integrantes do governo classificam a detenção como parte de uma ofensiva política contra Arce, que governou o país entre 2020 e 2025 após o golpe de Estado de 2019 contra Evo Morales. Eles afirmam que a operação foi feita “sem seguir os procedimentos que correspondem”, sem mandado claramente apresentado no momento da prisão e sem comunicação prévia à defesa.
Prisão ocorre após libertação de Áñez, Camacho e Pumari
A prisão de Arce ocorre dias depois de o Tribunal Supremo de Justiça determinar a libertação de Jeanine Áñez, do governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, e do ex-dirigente cívico de Potosí, Marco Antonio Pumari, algumas das principais figuras do golpe imperialista de 2019.
A decisão do Tribunal foi tomada após a vitória da direita nas eleições gerais de agosto, quando Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão, derrotou Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre, no segundo turno da eleição presidencial.
A partir de então, houve uma “reorientação” do Judiciário boliviano: enquanto os acusados do golpe de 2019 são liberados, antigos dirigentes do processo político iniciado em 2006 passam a ser alvo de prisões e novas investigações.
Segundo a Infobae e outros veículos regionais, as acusações atuais contra Luis Arce remontam ao período em que ele foi ministro da Economia, entre 2006 e 2014, durante o governo Evo Morales. Documentos anexados ao processo indicariam que Arce integrava o conselho de administração do Fondioc e teria autorizado transferências de recursos sem justificativa adequada.
Disputa política após a saída do governo
Luis Arce deixou a Presidência em novembro, ao final de seu mandato, em meio a fortes tensões dentro do MAS e ao avanço de forças de direita nas eleições de agosto. Desde então, a defesa do ex-presidente denuncia que qualquer investigação deve respeitar os trâmites legais e que acusações de corrupção são usadas para afastar antigos dirigentes do processo político iniciado em 2006.
Já o governo golpista de Rodrigo Paz afirma que a prisão de Arce faz parte de uma “agenda de combate à corrupção” e que o caso Fundo Indígena é um dos símbolos de má gestão de recursos destinados às comunidades rurais.
A primeira audiência de medidas cautelares deve definir se Arce responderá ao processo em liberdade ou em regime de prisão preventiva. Até o fechamento desta edição, não havia confirmação oficial sobre o horário da sessão nem sobre os pedidos concretos que serão apresentados pelo Ministério Público boliviano.




