Coluna

Caridade alivia culpas, não desigualdades

Apesar da boa intenção, caridade é inútil a longo prazo

Há séculos se exalta a caridade. Nas mais diversas instituições, como a Igreja Católica até Estados Nacionais, é comum vermos apelos à consciência das pessoas para “ajudarem o próximo”, retratando a caridade como “a maior de todas as virtudes”. Acontece que, apesar da boa intenção daqueles que a praticam, a caridade não reduz a pobreza, reduz apenas o peso na consciência de quem a pratica.

Independentemente da forma que a caridade tem, ela sempre é incapaz de reverter a pobreza da população. Vamos ilustrar isso com dados. Temos hoje no Brasil mais de 18 milhões de famílias que recebem Bolsa Família. Considerando o tamanho médio de uma família no Brasil e os draconianos critérios para receber o auxílio, concluímos que há mais de 48 milhões de pessoas que vivem com menos de 218 reais por mês. Uma pessoa ou grupo que quisesse exercer a caridade de complementar a renda dessas 48 milhões de pessoas para um salário-mínimo por mês (que já é uma miséria), teria que desembolsar nada menos que 62 bilhões de reais mensalmente. Em um ano, isso daria 744 bilhões de reais. Quem poderia financiar tal “grande ato de caridade”? A resposta matemática é simples: ninguém, exceto o Estado. A boa vontade individual, por mais sincera que seja, jamais resolverá um problema dessa escala.

Entretanto, é preciso ir além da aritmética e evidenciar o caráter profundamente alienante da caridade. Aquelas pessoas que praticam caridade isoladamente e se imaginam moralmente superiores são, paradoxalmente, as mais alienadas: não só atuam de forma desarticulada, sem nem aprender a agir em grupo, como ainda passam a hierarquizar outros seres humanos com base em gestos essencialmente inócuos. Há também os alienados organizados, que integram instituições caritativas e acreditam que, embora não solucionem nada, ao menos oferecem algum “alívio” a quem morre de fome nas calçadas, talvez prolongando por algumas horas a vida de alguém abandonado pelo Estado, enquanto se confortam com um agradecimento de quem recebeu a caridade.

O traço alienante fundamental dessas práticas é que elas funcionam como substitutos psicológicos da ação política: as pessoas se acomodam na caridade e evitam se engajar em movimentos capazes de disputar a riqueza social e pressionar o Estado a adotar medidas que realmente eliminariam a pobreza.

Alguém dirá que fazer caridade não impede a consciência política. Em tese, é verdade. Contudo, basta observar a realidade e ver que os maiores defensores da caridade costumam ser os mais hostis às iniciativas históricas que realmente reduziram a pobreza, como a Revolução Russa e outras transformações sociais profundas. Por isso, é preciso expor a verdade incômoda: as organizações baseadas na caridade são inócuas para realmente enfrentar a pobreza.

A boa intenção das pessoas não deve ser descartada, mas redirecionada. Se querem efetivamente transformar a sociedade, precisam abandonar a lógica da esmola e organizar-se para lutar por uma revolução social, que é a única via comprovadamente capaz de enfrentar o problema na sua origem.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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