Na última segunda-feira (8), o jornal Metrópoles divulgou o caso de Sheylla dos Reis Ribeiro, de 42 anos. Moradora de Samambaia (DF), mãe de duas filhas e sem condições de trabalhar devido ao avanço de uma doença, Sheylla trava uma batalha para acessar um tratamento de ponta contra um melanoma agressivo. Tal tratamento seria sua esperança de cura, mas o Estado se amparou em protocolos burocráticos e “limites orçamentários” para negar aquilo que, para ela, era literalmente questão de vida ou morte.
Diagnosticada com câncer de pele em 2020, Sheylla iniciou o tratamento pela rede pública, submetendo-se às sessões de quimioterapia previstas nos protocolos do SUS. Com o tempo, porém, o tratamento deixou de surtir efeito: a doença avançou, surgiram novas lesões pelo corpo, inclusive no olho, e sua imunidade passou a despencar com frequência, impondo sofrimento físico e emocional permanente. Em vez de encontrar no sistema público a ampliação das possibilidades terapêuticas, a trabalhadora se deparou com o limite concreto de uma política de saúde submetida ao arrocho fiscal e à lógica de contenção de custos do neoliberalismo.
Sem alternativas eficazes na rede pública, Sheylla buscou atendimento em um hospital particular, onde ouviu do médico uma indicação clara: o uso combinado dos medicamentos Ipilimumabe e Nivolumabe, imunoterápicos que representam hoje uma das principais frentes de combate a tumores como o dela. O mesmo avanço científico que poderia representar uma chance real de controle da doença se converteu, no entanto, em uma barreira: o custo estimado do tratamento gira em torno de 342 mil reais, valor completamente fora da realidade de qualquer trabalhadora. Esses medicamentos não constam na lista do SUS, o que expõe o abismo entre o que a medicina é capaz de oferecer e o que o Estado efetivamente garante aos mais pobres.
Sem condições de arcar com o tratamento, Sheylla recorreu ao Poder Judiciário para tentar obrigar o Estado a fornecer os medicamentos, apoiando-se no princípio constitucional de que a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Perdeu o primeiro processo na última instância e ingressou com uma nova ação, que segue parada, enquanto o câncer progride e sua saúde se fragiliza a cada dia. Em meio à espera e ao adoecimento, a trabalhadora relatou a piora do quadro clínico, o surgimento de mais lesões, o cansaço extremo e o desencadeamento de depressão, um sofrimento que sintetiza o esgotamento físico e psíquico de quem luta para viver diante da negação institucional.
Do outro lado, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirma que a paciente continua sendo acompanhada pela rede pública, com consultas e exames agendados, incluindo nova avaliação em oncologia. O órgão recomenda que Sheylla mantenha seus dados atualizados na unidade básica de referência e reafirma o compromisso de atender “dentro dos protocolos e recursos disponíveis do SUS”. A linguagem fria e técnica contrasta com o desabafo da paciente, que questiona por que o medicamento correto lhe é negado, se o tratamento oferecido não produz nenhum resultado.
Caso semelhante ao de Natália Pimenta
O drama vivido por Sheylla dos Reis Ribeiro não é um caso isolado, mas parte de um padrão brutal em que o Estado nega, atrasa, ou burocratiza o acesso a tratamentos de alto custo até que o desfecho trágico se imponha, como ocorreu recentemente com Natália Pimenta, jovem cuja luta por medicação e atendimento adequado também ganhou repercussão pública e terminou em indignação coletiva diante do assassinato promovido pela burguesia. O nome, a idade e o diagnóstico mudam, mas a lógica é a mesma: mulheres da classe trabalhadora, adoecidas, transformadas em exemplos dolorosos de um sistema que escolhe, na prática, quem terá acesso ao que há de mais avançado na medicina e quem será condenado à morte.
Natália Costa Pimenta, dirigente nacional do Partido da Causa Operária, militante histórica da esquerda brasileira e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina, tornou-se símbolo das vítimas dessa máquina de morte que opõe o direito à saúde à lógica da austeridade. Aos 40 anos, mãe de dois filhos, Natália travou uma batalha contra um câncer que começou na mama, avançou para o cérebro e evoluiu para uma rara leucemia associada ao tratamento, chegando a uma situação em que sua sobrevivência dependia de um medicamento de altíssimo custo, como o Revumenib, não disponibilizado pelo Estado, apesar de decisões judiciais e intensa campanha pública. Internada em UTI e submetida a tratamentos sucessivos, Natália acabou vítima dos atrasos e da paralisia burocrática do Ministério da Saúde. Apenas em uma semana, a instância que privou Natália de seu remédio privou mais 67 pessoas, agindo como uma verdadeira câmara de gás para trabalhadores, pais e mães de família, que foram sumariamente executados pela burguesia.
Embora o Estado venha alegando limite de recursos orçamentários, a verdade é que o dinheiro, que deveria ir para os serviços públicos, vai parar nas mãos dos banqueiros, parasitas que mordem metade do orçamento. São praticamente R$ 7 bilhões pagos por dia apenas de juros de uma dívida que já foi paga e que o governo deveria simplesmente desconhecer.





