Brasil

Com uma esquerda chave de cadeia, para que direita?

Apesar do fracasso de tais medidas, deputada do PSOL quer mais repressão, penas mais longas para quem for até potencialmente prejudicial às mulheres

Samia Bomfim

O negócio da esquerda pequeno-burguesa é colocar as pessoas na cadeia. É o que demonstra o artigo PL de Sâmia tipifica conteúdo misógino com pena de reclusão, publicado nesta terça-feira (9) no sítio o Revista Movimento (MES/PSOL). Conforme diz o olho do texto, “Projeto da deputada prevê punição a quem promove, incita e difunde o ódio contra mulheres, com agravante quando cometido por redes sociais ou praticado por agentes públicos”.

Estamos diante da degeneração acelerada de uma esquerda que apenas responde às demandas da direita (inclusive da extrema direita) que acredita que os problemas sociais são resolvidos por meio de punições cada vez mais severas.

A estratégia é a de sempre, cria-se um clima de histeria na grande imprensa, conforme o próprio texto confessa: crimes chocantes contra mulheres têm tomado conta dos noticiários nos últimos dias”. Então, diante disso, essa esquerda, pautada pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo, corre para aprovar o recrudescimento das leis.

O texto inicia dizendo que “a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) apresentou, no último dia 2, o Projeto de Lei 6075/2025, que acrescenta artigo ao Código Penal para tipificar a promoção, incitação e divulgação de conteúdo misógino capaz de estimular hostilidade, discriminação ou violência contra mulheres. A proposta foi apresentada diante do aumento de casos de feminicídio no Brasil e do caráter de extrema violência que tem marcado esses crimes”. – grifo nosso.

Notem que se trata de coisas, segundo a deputada, “capazes de”, e não que “vão efetivamente” provocar algo. O crime, portanto, está sendo punido antes mesmo de existir. Algo como faz a polícia quando atira em “suspeitos”. É um comportamento típico da esquerda identitária, que trata todo homem como potencial estuprador e deturpou o feminismo numa mera briga entre homens contra mulheres.

A deputada aproveita para apresentar a proposta diante do aumento de violência, mas ela deveria explicar, antes, do porquê de leis mais rígidas não terem contido, ou prevenido, crimes contra mulheres. Não era a essa a promessa, ou a expectativa?

Esses que querem aumento de punição falharam, fracassaram de maneira retumbante. Mesmo assim, insistem no erro, querem mais punição. Como esse novo aumento de punição também vai falhar, o que vão propor adiante, chicotadas em praça pública, prisão perpétua, pena de morte? Qual é o limite para essa “esquerda”?

A bota no pescoço

O texto de Sâmia Bomfim “prevê pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa para quem ‘promover, incitar, difundir ou divulgar, inclusive mediante compartilhamento, republicação ou encaminhamento, conteúdo misógino, entendidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres’”. Mas a coisa não para por aí, “o projeto estabelece ainda agravantes, com aumento de até dois terços da pena, quando a conduta for cometida por meio de redes sociais, contas falsas, mecanismos automatizados ou financiamento destinado a ampliar a disseminação do conteúdo; quando for dirigida contra mulheres em razão de sua atuação pública; ou quando praticada por agentes públicos”. – grifos nossos.

A sanha repressiva, que só serve para colocar a bota do Estado burguês sobre o pescoço da classe trabalhadora, não se contenta em colocar pessoas por até 5 anos na cadeia por algo que venham a dizer, é preciso aumentar em até dois terços a pena quando se trata de redes sociais. Não poderia faltar esse item, que é uma política central do imperialismo, o controle e a censura sobre as redes.

Também chama a atenção o trecho “contra mulheres em razão de sua atuação pública”, a nobre deputada parece querer se proteger, uma vez que é figura pública. Então, pobre de quem criticar uma mulher nessas condições, pois qualquer coisa pode ser considerada misoginia. Quanto aos “agentes públicos”, quem serão, outros deputados, adversários políticos? Quem o sabe?

Segundo a senhora Bomfim, “A violência misógina disseminada no ambiente digital transformou-se em uma das formas mais recorrentes e perversas de ataque às mulheres no Brasil”. É mesmo? Quer dizer que o não direito ao aborto, a falta de creches, os salários baixos, as duplas e triplas jornadas de trabalho estão ficando para trás?

Para a deputada, “a propagação do ódio nas redes pode migrar para agressões físicas, ameaças e exposição das vítimas”. Novamente isso, a justifica é algo que “pode” migrar. É absurdo.

O texto traz que, de acordo com Sâmia Bomfim, “embora existam instrumentos que protegem a honra e a integridade das mulheres, falta ao ordenamento penal uma tipificação específica para a disseminação coordenada de conteúdo misógino, que funciona como violência coletiva e ameaça à paz pública”. Quer dizer, vamos piorar o que já existe de lei repressiva. O papel dessa esquerda virou isso, agir como polícia e direita que se dizem guardiãs da “paz pública”.

Adiante, escrevem que “A deputada enfatiza que a medida busca punir condutas que ultrapassam diferenças de opinião e ingressam no terreno da intimidação, da legitimação da violência e da organização de ataques”. No entanto, isso é apenas palavreado, pois a questão é quem vai definir o limite entre diferença de opinião e intimidação. Leis não podem ser baseadas sobre fatores abstratos e até subjetivos.

Quem duvida do mal dessas medidas, basta observar a realidade. O discurso de ódio, essa entidade abstrata, está sendo utilizado para que se processe quem critica o sionismo. Pois retiraram, já era esperado, o limite, a diferença, entre sionismo e judaísmo. Portanto, quem critica o sionismo é logo tratado como antissionista e enquadrado como racista. A lei antirracismo, que a esquerda tanto lutou para ser aprovada e jurava que seria para o bem, está servindo justamente para defender os genocidas.

Pesquisas…

Para sustentar essa excrescência que é o aumento da repressão estatal, aparecem as tais “pesquisas”. “De acordo com levantamento conduzido pelo DataSenado e pelo Instituto de Pesquisa Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), grande parte das brasileiras declara sentir-se desrespeitada no dia a dia e aponta que comunidades digitais e estruturas de ódio contribuem para normalizar práticas violentas e a misoginia”.

Claro, quando as mulheres eram em sua maioria donas de casa, ficavam restritas ao ambiente doméstico, escravizadas, era bom. Bastou aparecerem as “comunidades digitais” e “estruturas de ódio” (que ninguém sabe o que é) e tudo piorou.

Para essa esquerda falida, que abandonou as lutas sociais pela ação policialesca, a violência não está no abismo social que se aprofunda, na falta de perspectiva, na ausência de políticas públicas, está “no discurso, nas violências psicológicas, na tentativa de subjugar e menosprezar mulheres, na desumanização e no ódio que se espalha nas redes” e blá-blá-blá. Portanto, tome cadeia, apodreçam na prisão. Eis a única resposta que sabem dar.

Fica a pergunta: com uma esquerda assim, quem precisa de direita?

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