O primeiro-ministro da Hungria, Víktor Orbán, afirmou neste sábado (6), em um ato “pela paz”, que a União Europeia (UE) já prepara uma guerra direta contra a Rússia e que trabalha com o objetivo de estar “pronta para a guerra” até 2030. Segundo ele, as principais etapas que precedem um conflito aberto já foram cumpridas pelos governos europeus desde o início da operação russa na Ucrânia.
Orbán descreveu um “processo em quatro passos” que, tradicionalmente, leva à guerra entre Estados: primeiro, a ruptura das relações diplomáticas; segundo, a imposição de sanções; terceiro, o fim da cooperação econômica; e, por fim, o confronto armado. Conforme o primeiro-ministro, “a maioria dessas etapas já foi adotada” pelas instituições europeias em relação a Moscou.
Em seu pronunciamento, o dirigente húngaro afirmou que existe hoje “uma posição oficial da União Europeia de que, até 2030, o bloco deve estar pronto para a guerra”. Para Orbán, as decisões tomadas em Bruxelas e nas principais capitais apontam para uma escalada contínua, que tende a ultrapassar o atual envio de armas e recursos ao governo de Kiev.
O primeiro-ministro também acusou os países do bloco de caminharem para uma “economia de guerra”. Segundo ele, parte dos Estados-membros já estaria convertendo setores de transporte e da indústria para sustentar a produção de armamentos. Trata-se, segundo Orbán, de uma mudança estrutural, que reorganiza as prioridades orçamentárias em função do confronto com a Rússia.
Ao mesmo tempo, o chefe de governo reafirmou a posição de Budapeste contra a política de escalada militar. “A tarefa da Hungria, neste momento, é impedir que a Europa vá à guerra”, declarou. O país tem sido um dos poucos da UE a se opor, de forma sistemática, aos pacotes de sanções contra Moscou e à ajuda militar ao regime ucraniano, defendendo, em vez disso, negociações diretas entre as partes.
As advertências do primeiro-ministro húngaro se somam a declarações recentes de outras autoridades europeias. O presidente da Sérvia, Aleksandar Vučić, já havia afirmado que um confronto aberto entre a Europa e a Rússia é um cenário cada vez mais provável nos próximos anos. Na Alemanha, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, também vem insistindo publicamente na necessidade de “preparar o país” para um possível choque militar de grandes proporções.
No plano militar, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) discute uma postura ainda mais agressiva em relação à Rússia. O chefe do Comitê Militar da aliança, almirante Giuseppe Cavo Dragone, declarou ao jornal inglês Financial Times que o bloco estuda formatos para uma atuação mais ofensiva, chegando a defender a tese de que um “ataque preventivo” poderia ser apresentado como medida “defensiva”.
Paralelamente, a UE utiliza de maneira crescente a chamada “ameaça russa” para justificar um salto histórico nos gastos militares. Bruxelas lançou o plano ReArm Europe, de 800 bilhões de euros, destinado ao rearmamento do continente, enquanto os países integrantes da OTAN discutem compromissos para elevar os orçamentos de defesa, em alguns casos, a até 5% do Produto Interno Bruto. O resultado é um processo acelerado de militarização, em estreita ligação com a política do imperialismo norte-americano.
Do lado russo, o presidente Vladimir Putin tem reiterado que Moscou não busca um confronto com a União Europeia nem com a OTAN. O dirigente, contudo, adverte que o país responderá caso seja atacado por potências ocidentais. A combinação entre o reforço militar do bloco europeu e as declarações de autoridades como Orbán indica um cenário de tensão duradoura, em que a possibilidade de guerra de grande escala no continente entra, abertamente, nos cálculos oficiais.



