Valério Arcary, dirigente da corrente Resistência, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), publicou, no dia 25 de novembro, uma longa tese para justificar o seu apoio à condenação e à prisão definitiva de Jair Bolsonaro (PL). O texto traz como título “Bolsonaro preso. Por que foi possível?. Ou, dito de outro modo, como é possível, em um país que caminha para uma ditadura, um ex-presidente que o próprio articulista apresenta como “máxima liderança da corrente neofascista brasileira” tenha ido parar na cadeia?
Arcary nos ensina, em primeiro lugar, que, “desde os anos trinta até os líderes da última ditadura, o padrão que sempre prevaleceu, historicamente, foi a impunidade das ações criminosas golpistas, quando seus protagonistas tinham posições de poder, em especial nas Forças Armadas”. É verdade. Historicamente, desde a Revolução de 1930, a burguesia brasileira associada ao grande capital internacional vem estrangulando o regime político para suprimir qualquer resistência à sua política de dominação.
Nos momentos em que houve uma reação à essa política, ela não foi suficiente, em grande medida pela vacilação das direções, para impor uma derrota tão profunda aos inimigos da humanidade. No final da ditadura militar, uma onda de greves operárias bastante radical sacudiu o País, liquidando o regime político. A burguesia, no entanto, conseguiu manobrar durante anos, de modo que a primeira eleição presidencial ocorreu em 1989.
Se o próprio Arcary reconhece esse histórico, fica a pergunta para o sábio dirigente: o que teria mudado, então? Se nem as mobilizações de características revolucionárias do final da ditadura militar conseguiram condenar um único militar, por que agora, sem mobilização alguma, os generais teriam sido condenados? A única conclusão possível é que o Supremo Tribunal Federal (STF) seria um instrumento de transformação social mais poderoso do que a luta de toda a classe operária.
É o que Arcary acredita. Porque ele, apesar de se dizer socialista, se adaptou tanto ao regime político que se vê representado em suas instituições. Arcary não tem as mesmas aspirações da classe operária: emprego, salário, terra, saúde. Tudo isso para ele são problemas supostamente resolvidos, pois pertence a uma camada social privilegiada. A grande preocupação de Arcary é com a defesa do Estado capitalista.
Não há nada de heroico na prisão de Bolsonaro. É uma briga de facções. E, neste caso, uma das facções — a do STF e da rede Globo — é muito mais poderosa do que o bolsonarismo. E, portanto, muito mais perigosa para a classe operária.





